Acesso das crianças à atividade física é fundamental para a evolução do desporto nacional
Acesso das crianças à atividade física é fundamental para a evolução do desporto nacional - Foto: Imago

Há várias coisas boas

'O lado invisível' é o espaço de opinião quinzenal de Rui Lança, diretor executivo de outros desportos do Al Ittihad, da Arábia Saudita

Os últimos tempos demonstraram que o desporto português consegue competir com os melhores em várias modalidades. A grande novidade, comparativamente com os anos 90, é que estamos a competir ao mais alto nível em modalidades coletivas que, nessa década ou nos primeiros anos do século XXI, não conseguíamos: basquetebol masculino e feminino, râguebi e andebol masculino, voleibol masculino e feminino, e futebol feminino. A questão aqui será perceber o porquê e o como.

Se pensarmos que temos 10,5 milhões de habitantes e que somos um dos países da União Europeia com pior prática regular de atividade física, então há mesmo um cenário muito positivo a considerar, se conseguirmos alterar alguns pormenores. Além das modalidades aqui descritas, ainda temos o futebol masculino, futsal e hóquei em patins em ambos os géneros, além das várias modalidades individuais, sabendo que alguns dos praticantes de melhor nível não competem ou treinam no nosso país, usufruindo de instalações e condições diferentes.

Ideias-base: significa que estamos a conseguir ter qualidade no topo da pirâmide do nível desportivo, mesmo com uma base curta. O risco aqui é acreditar num rácio estável entre o número de praticantes de elite elevado para um número de praticantes de base reduzido, algo que geralmente não acontece. A solução deve passar (reforçando a importância dos centros de alto rendimento) por uma aposta no desporto escolar, na valorização da educação física e no reforço de mais um tempo letivo, por exemplo.

Isso permitiria que mais crianças tivessem acesso não só a mais atividade física, mas também a uma maior variabilidade. É isso que distingue, por exemplo, os países a que chamamos do Leste ou do antigo regime soviético: crianças que crescem com capacidade de ter muita qualidade em vários desportos, existindo um equilíbrio entre a especificidade e a multioferta. O futuro pode ser mesmo melhor. Mesmo com as nossas dificuldades financeiras e de infraestruturas, com jovens que têm dificuldade em competir no interior pela falta de equipas, e com o facto de o desporto não ser uma aposta clara na escola ou na sociedade, estamos a conseguir marcar presença em competições do mais alto nível e em modalidades onde não era habitual.

Pode parecer demasiado simples, mas não é. Porque o problema não está apenas em apostar nas crianças ou na educação física. Está em conseguir que o ego e os projetos pessoais não se sobreponham a projetos robustos.