Marquinhos ergue o troféu da Champions após a vitória do PSG sobre o Inter
Marquinhos, capitão do PSG, foi o último brasileiro a conquistar a Champions — Foto: IMAGO

Brasil só exporta jogadores

JAM sessions é o espaço de opinião semanal de João Almeida Moreira, jornalista e correspondente de A BOLA no Brasil

Desde 2006, pelo menos um jogador brasileiro conquista a UEFA Champions League. No ano passado, coube até a Marquinhos, capitão do PSG, a honra de levantar o troféu.

Em 2024/2025, o número de atletas nascidos no país sul-americano a participar na fase de liga da prova, 43, só foi superado pelos sete europeus do costume, Espanha, França, Alemanha, Países Baixos, Inglaterra, Itália e Portugal. Este ano, a lista subiu — são 56 espalhados por 29 clubes (o Benfica, curiosamente, não tem nenhum).

Há razões aritméticas para tanto jogador brasileiro: no planeta futebol, o Brasil é o país mais populoso, porque todos os que o superam nesse item, Índia, China, Indonésia e EUA, têm outros desportos-rei; o Brasil é também, segundo o Observatório de Futebol, a nação com mais jogadores profissionais e amadores.  Além de razões históricas — a seleção verde e amarela é a mais vencedora em Mundiais de futebol — e económicas — o futebol brasileiro é, por natureza e tradição, exportador.

E treinadores brasileiros? Nesse caso, não há nenhum entre as 36 equipas da Champions deste ano. Nem entre as 36 equipas da Champions do ano passado. Nem nesta década. Nem na anterior. O último foi Luiz Felipe Scolari, em 2008/2009, pelo Chelsea.

Se ampliarmos a busca no espaço — as cinco maiores ligas europeias — e no tempo — desde o ano 2000 — encontramos meros seis nomes: Abel Braga, Ricardo Gomes, Leonardo, Vanderlei Luxemburgo, Sylvinho e o citado Felipão. No mesmo período, a vizinha Argentina teve 28. O Chile só um, Manuel Pellegrini, mas com título na Premier League, entre outros, no caminho.

Se há múltiplos motivos para o número expressivo de jogadores brasileiros na elite europeia, também há múltiplos motivos para o défice de treinadores do país no velho continente. Um é, digamos, socioeducativo: poucos falam inglês, a língua franca do mundo — nem Tite, que buscou espaço na Europa nos últimos anos mas desistiu por falta de convites. Outro é, chamemos-lhe assim, económico-desportivo: como os grandes do futebol brasileiro pagam muito bem, os treinadores nativos, ao contrário dos argentinos, sentem-se menos tentados a arriscarem-se em clubes europeus medianos — o treinador mais bem pago do mundo hoje, Diego Simeone, começou a aventura transatlântica a lutar para não descer no Catania, por exemplo.

Sem sair do lugar em que se sentem confortáveis, os treinadores locais não evoluem, deflagrando um ciclo vicioso que em última análise resultou na, impensável há um par de décadas, importação de conhecimento estrangeiro, de que Jorge Jesus, Abel Ferreira, Artur Jorge ou o selecionador Carlo Ancelotti são exemplo. Talvez o talentoso Filipe Luís, tentado pelo Fenerbahçe após a saída de José Mourinho, rompa a tendência.