Áudio na garagem: «Jogadores sentiram que o treinador os ia defender sempre»
— Qual foi o pior momento no Benfica?
— Não é o pior momento, mas se calhar vou aproveitar para falar sobre o dia a seguir ao jogo com o Casa Pia e o episódio na garagem.
— Aquele confronto dos adeptos à equipa foi inocente?
— Isso eu não sei dizer, só sei que é uma zona muito restrita e quando nós chegámos no autocarro a garagem estava aberta para o autocarro chegar. Quando chegamos estranhamente está um grupo de 30 a 40 jovens, adeptos, praticamente em frente ao autocarro. Estavam lá cerca de 40 a 50 polícias. A minha primeira ideia foi que nos iam chamar alguns nomes quando passássemos de carro, e no dia a seguir estaríamos outra vez a trabalhar. Mas não foi isso que aconteceu. Quando estamos a sair do autocarro, eu saio pela frente, o nosso capitão sai por trás, e começam a chamar o Nico. Eu não permiti que ele fosse na direção deles, e fui eu. Quando chego perto deles começamos a ouvir o desagrado dos nossos adeptos, por não temos vencido o Casa Pia. O Lourenço Coelho está comigo e o Ricardo Lemos ligeiramente atrás de mim. Estão os jogadores todos, o staff, ou seja, estamos num espaço público com mais de 100 pessoas. Eu estou a dar a cara e a defender o meu grupo, mas a conversa aquece muito rapidamente quando um deles me diz qualquer coisa como: ‘Oh Lage vê lá se queres que a gente vá outra vez à tua casa.’ A partir dali a conversa sobe de tom, o meu tom de voz aumenta, o meu vocabulário é outro, porque aquilo deixa de ser apenas uma conversa em que eu estou a defender a minha família profissional e passa a ser também uma conversa em que eu passo a defender a minha família pessoal. Tive de ser agressivo e falar a linguagem que eles estavam a falar porque eu tinha de defender a minha família profissional, que estava atrás de mim.
— Os jogadores assistiram a tudo?
— Assistiram a tudo e naquele dia sentiram, e perceberam, que tinham um treinador que os ia defender sempre de tudo.
— Porque é que no áudio, que foi público, só se ouve o Bruno Lage?
— Porque eu não dei hipótese que ninguém falasse. Foi uma conversa longa e a sensação que tive foi que aquele grupo de adeptos saiu dali esclarecido. Os adeptos saíram dali passados 30 minutos de conversa, a perceberam as minhas razões e os jogadores perceberam que tinham ali um líder que os ia defender. Os jogadores estiveram do meu lado porque ouviram tudo e não apenas o áudio que surgiu fora do contexto.
Se eu soubesse que estavam a gravar, o vocabulário podia ser diferente
—E quando é que percebe que aquela conversa tinha um áudio e que ganhou aquelas dimensões todas?
— No dia seguinte, por isso é que foi o mais difícil. Hoje, se eu soubesse que estavam a gravar, o vocabulário podia ser diferente. Quando estamos no treino, começamos a ter a perceção que saiu um primeiro excerto, depois mais tarde sai outro e eu fiquei com a ideia que nos próximos dias iriam sair mais. A meio do dia sentimos que iríamos ter um desafio pela frente, contrariamente àquilo que nós tínhamos sentido no dia anterior, porque saímos de lá em paz.
Essa conferência não esclareceu muita coisa, foi um dia triste
— E aí, o que é que decidiu fazer?
— Foi em conjunto com o Benfica, mas eu senti que tínhamos de fazer uma conferência para tentar matar os assuntos e ser claro. Vou-lhe ser honesto, essa conferência não esclareceu muita coisa. Nós fomos numa perspetiva de perceber o que é estava para vir e vocês eventualmente também não tinham muita informação do que é que se estava a passar. Foi um dia triste, mas o mais importante foi aquilo que nós vivemos no dia anterior e os jogadores sentirem que tinham um treinador que os iria defender sempre.
O futuro de Bruno Lage
— Quando olha para o futuro, que caminho é que quer seguir?
— Uma coisa tenho a certeza: da última vez não tive muita vontade de voltar de imediato ao trabalho, agora garantidamente não vai ser uma pausa tão prolongada e acredito muito que no imediato há uma proposta interessante que possa surgir. Hoje sou um treinador completamente diferente daquele que era há 5 anos. A curto prazo é esperar pelo projeto que nos volte a dar emoção para ir para dentro de campo e trabalhar com um conjunto de jogadores que acredite nas nossas ideias, tal como este grupo acreditou sempre.
— Acredita que esse regresso ao treino vai estar para breve?
— Acredito que sim.
— Cá dentro ou lá fora?
— Eu quero voltar a treinar num sítio onde eu sinta que é o projeto certo para mim.
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