Antigo treinador do Benfica em entrevista ao jornal A BOLA

Lage assume que Ríos é escolha de Rui Costa e diz o que foi feito por Félix

Treinador garante que não vetou Prestianni no Mundial sub-20 e assume que presidente e diretor desportivo garantem que Obrador é melhor do que era Carreras

Prestianni foi dos jogadores mais falados em conferências de imprensa nesta passagem no Benfica. Agora depois de sair surgiu a informação de que tinha vetado a ida do Prestianni ao Mundial e que Mourinho autorizou. O que aconteceu?

— Nós não vetámos a ida do Prestianni à seleção. Tínhamos até uma data-limite para tomar essa decisão. E essa data-limite ainda não tinha chegado. Chegou agora e o mister José Mourinho tomou a decisão que melhor entendeu. Acredito muito que, com a experiência que tem, vai olhar para ele com o mesmo cuidado que nós. Que o possa potenciar de forma a tirar o maior rendimento dele.

— O que é que se passou, concretamente, com o Bruma?

— Nada. Há um jogo em que decidimos não entrar com o Bruma, salvo erro depois do Bruma ter feito o golo no Santa Clara. Nós já tínhamos indicação que ele também estava doente e no dia seguinte nós cruzámo-nos e falámos quase assim a andar. Ele diz-me que ainda está muito doente e eu disse-lhe para ter calma. Foi uma conversa em que nos cruzámos de corredor e passado horas está cá fora que o Bruma virou as costas ao treinador no treino.

— Como é soube que podia ter e que depois não ia ter o João Félix?

— Não sei se o João foi o nome mais falado, é porque o Moussa ainda deve ter sido mais falado e até fez várias publicações quase no sentido de vir, mas o Feyenoord impôs condições e até renovou o contrato com o jogador. Foi impossível nós chegarmos lá. Mas curiosamente depois nós ainda fomos a tempo de identificar um jogador de enorme qualidade que é o Dodi. Acho que foi também uma contratação muito acertada. Mas, sobre o João, aproveito para dizer que o Ivanovic nunca era uma opção de segundo plano e a nossa ideia era ter quatro jogadores para aí, pois eu considerei sempre o Henrique Araújo nesses quatro homens da frente: Henrique Araújo, Pavlidis, Ivanovic e o João. Eu começo a acreditar que o João podia vir. Ele está a chegar a Portugal e eu estou a partir de férias. Estava no aeroporto quando recebo as declarações dele e liguei-lhe. Falei com ele e disse-lhe que se disse aquilo publicamente estava a abrir as portas e eu iria falar com o presidente para fazermos com que a vontade dele se concretizasse, pois era a vontade de todos. Mas o Chelsea, que pagou o que pagou pelo João, foi sempre intransigente naquilo que seriam os valores a pagar, e seria muito difícil para o Benfica, apesar de ter feito quase o impossível para voltar a trazer um jogador formado na casa. O João mostrou uma vontade enorme de voltar ao Benfica e também percebeu toda a equipa que eu estava a tentar montar, onde ele podia ser uma peça muito importante, mas as exigências do Chelsea eram impossíveis.

— Dos reforços, Barrenechea tem sido muito importante neste Benfica.

— Todos os jogadores são importantes porque todos têm qualidade individual e têm de convergir agora naquilo que é a qualidade coletiva. Eu gosto muito de trabalhar com o seis. O primeiro médio tem de ser muito importante para mim. O Benfica teve o melhor naquilo que são recuperações de bola, transições, aquele jogador que representa o sentido coletivo que é o Florentino. Depois fomos buscar o Manu e fomos intercalando nos jogos até ele se lesionar. Nessa altura o Tino é exposto a vários jogos consecutivos e também se lesiona. Quando no Mundial de Clubes o Tino vem falar comigo e sente que se um dia houver a oportunidade para ter um novo desafio, com a proposta certa, quer para ele, quer para o Benfica, ele também gostava de sair, nós começámos a tentar perspetivar um jogador que o pudesse substituir. Acho que o Enzo encaixa muito bem nisso. É um miúdo com uma enorme margem de progressão, a forma como organiza o jogo, a forma como liga o jogo entre os defesas com os médios, quer no passe curto, quer no passe longo, quer na viragem de jogo. A forma como chega à baliza, a forma como é agressivo… Com o tempo acho que vai ser um líder desta equipa e nós ficámos muito satisfeitos com a sua contratação. O Rios é um jogador que é um segundo médio, um jogador de transporte, um jogador com uma competência muito grande. O Rios surge através do nosso presidente Rui Costa e passado um ou dois dias há o tal jogo da Colômbia contra a Argentina. Nós começámos a analisar o Rios e depois passámos a ter um problema, que não foi problema nenhum, que foi aquela zanga do Rios com o Nico.

— Como é que agora houve dinheiro e noutros mercados não houve esse poder financeiro para reforçar tanto a equipa?

— Tínhamos de fazer isto. Este mercado foi feito sob várias perspetivas pois havia jogadores em finais de contrato, e outros em finais de empréstimo. Não nos podemos esquecer de algum sucesso financeiro pela campanha na Liga dos Campeões e no Mundial de Clubes. As vendas também foram muito importantes. Por exemplo, um jogador como o Álvaro [Carreras] valer o que valeu. Até brinquei com o Álvaro, pois falámos quando eu saí, porque eu brincava com ele que não imaginávamos que pudesse fazer a evolução que fez.

— Como é que foi gerir a situação da saída dele no Mundial de Clubes?

— Com a maior tranquilidade possível. Eu estava no meio das duas forças. O presidente, e bem, intransigente a defender os interesses do Benfica, e o Álvaro, a querer regressar a casa. O Álvaro é um miúdo fantástico e abdicou de muitas coisas para se concentrar no Benfica. Foi gerir um bocadinho as emoções, até que depois chegou a proposta concreta e foi. Aparece na proposta o Obrador, que eu não conhecia, analisei-o e veio ele. O nosso diretor desportivo, Rui Pedro Braz, dizia que o Obrador, ao dia de hoje, apresentava-se melhor do que aquilo que foi o Álvaro quando chegou ao Benfica, por isso agora é trabalhar e fazer o jogador crescer.

— Como é que foi perceber que o corpo do Renato Sanches não dá para aquilo que a cabeça quer?

— Para nós era uma pequena martelada, mas imagino que para o Renato fosse uma grande martelada. Só um jogador com a capacidade e a resistência do Renato é que pode fazer aquilo que eu vi o Renato fazer. É realmente de um campeão. A cada momento negativo dar a volta por cima é incrível. O Renato tem um passado comigo, ele foi meu jogador no Swansea, foi no Benfica e perspetivava-se uma carreira muito bonita, mas infelizmente estas lesões têm-no prejudicado imenso. Estar a assistir a isto é realmente uma frustração enorme. O Renato deixou-nos uma memória muito boa daquilo que ele podia fazer se as lesões não complicassem, que foi aquele jogo que ele fez no Mundial de Clubes contra o Bayern Munique.