Humberto Coelho durante a entrevista a A BOLA (Foto: Breno Barison)
Humberto Coelho durante a entrevista a A BOLA (Foto: Breno Barison)

«Acho graça quando algumas pessoas falam na 'meia hora à Benfica'...»

Em entrevista a A BOLA, Humberto Coelho, candidato a vice-presidente na lista de Rui Costa, aborda ideias dos adversários

– Questão central da campanha tem sido João Neves. Era possível mantê-lo mais um ano e não o deixar ir para o PSG?

– Há coisas que não entendo. Imagine que vem uma equipa de fora, fala com o pai do João Neves e diz: 'Olhe, temos esta proposta para o seu filho.' Não é uma proposta melhor, é uma proposta dez vezes melhor. Que responde o pai do João? Que responde o João? Estou convencido de que, se fosse uma proposta mais pequena, o João Neves teria ficado. Mas era uma proposta enorme. Era algo irrecusável. Além disso, é o momento e a oportunidade. E se ele diz: 'Sim, senhor, a proposta é grande, mas eu fico.' Não o deixamos sair e depois num treino ele aleija-se e fica seis meses sem jogar. Que acontece? É preciso pensar nisso.

– O Humberto também foi para o PSG em 1975.

– Sim, após a revolução. O Benfica estava com dificuldades financeiras e eu saí para ganhar dinheiro. E depois voltei ao Benfica.

– Pode acontecer com Bernardo Silva?

– Agora não se pode ir buscar o Bernardo Silva. É impossível. Ele está num clube extraordinário, onde ganha uma fortuna. Agora, tenho a certeza de que o Bernardo, um dia, vai voltar. Seja quem for o presidente, o Bernardo Silva vai regressar ao Benfica.

– A eventual vitória de Rui Costa inviabiliza esse regresso?

– Não inviabiliza, porque o Bernardo quer acabar no Benfica.

– O Humberto conhece-o bem, porque esteve com ele na Federação. Como é que o vê como pessoa?

– É um jogador fantástico e uma pessoa extraordinária. Tem caráter, força, simpatia, inteligência. Fala várias línguas. É uma pessoa muito, muito, muito boa.

– Vítor Paneira deu uma entrevista a A BOLA em que disse que com o Noronha Lopes haveria, novamente, a famosa 'meia hora à Benfica'. E com Rui Costa?

– Acho graça quando algumas pessoas falam na 'meia hora à Benfica'. Vamos ganhar, mas não ganharam nada. Depois, quando pessoas, ainda por cima ex-jogadores que sabem o que é o futebol, aparecem a dizer isso, eu tenho de achar graça. Ganhar é muito difícil, mas ter humildade também é muito difícil. Não conheço nenhuma equipa que só ganhe. Há alguém que ganhe sempre? Ex-jogadores e ex-técnicos não podem dizer isso. Acho que não fica bem. Os adeptos do futebol já não vão nessas coisas, porque é impensável ganhar sempre. A gente tem que atuar com profissionalismo e com humildade. Quando uma equipa é profissional e tem humildade, geralmente ganha.

– Mas acha possível, na atual conjuntura, o Benfica voltar a ser o Benfica dos anos 60, que ganhava 3 campeonatos e perdia 1, ganhava 3 e perdia 1? É possível ou é utópico?

– O Benfica quer ganhar sempre e vai continuar a ganhar, não tenham dúvidas. A mística do Benfica é ganhar e nós estamos lá todos para ganhar. Ganhámos no passado, ganhamos no presente e vamos ganhar no futuro.

– Revê-se em Otamendi? É ele o Humberto do século XXI?

– É um jogador extraordinário. Tem imagem, bagagem, força e crença. Não é por acaso que é campeão do mundo. Não o conheço bem como pessoa, mas penso que é boa pessoa. E depois, dentro do campo, dá tudo, tudo, tudo, tudo. Gosto muito dele. Ele, tal como o João Neves, é um jogador pequeno e tem um tempo de salto extraordinário. Eu, quando jogava, apanhava a bola no ponto mais alto, que é aí que é importante. E eles fazem exatamente a mesma coisa. Eles apanham a bola mais alto e, para isso, é preciso ter um poder de elevação extraordinário.

Gostaria que ele renovasse contrato?

– Se estiver em condições e quiser, penso que sim. E acho que ainda é útil ao Benfica.

– José Mourinho: pessoa certa, no lugar certo?

– José Mourinho é um dos melhores treinadores do mundo. Até penso que é o melhor. Porque ganhou muita coisa. Vi-o crescer e sempre a crescer, sempre com crescimento e vitória, sempre com sucesso. Portanto, esperamos bem que ele também mantenha a sua ambição.

– Tem boa relação com ele?

– Muito boa. Quando ele estava no Barcelona, eu ia lá para ver os jogos do Fernando Couto e do Figo, por exemplo. Ele recebia-me sempre; tenho um respeito extraordinário por ele.

– Como tem visto a mudança do Benfica de Lage para o Benfica de Mourinho?

– Já vi uma mudança. Penso que o Bruno Lage demorava mais tempo a ver o jogo e a fazer as substituições que eram precisas. O Mourinho tem sido mais rápido. Aliás, como se viu no jogo com o Vitória de Guimarães.

– E tem gostado do futebol praticado?

– Sim, tenho. Podemos jogar mais e melhor? Sim, podemos. O que me parece que, por vezes, tem faltado é velocidade e força física, algo que se trabalha na pré-época e não se trabalhou. É isto que tem que se recuperar. Mas, de resto, estou a gostar do Benfica.

– Muitos dizem que a contratação de Mourinho foi uma espécie de alavanca na candidatura de Rui Costa. Leitura possível ou leitura errada?

– É uma leitura. Cada um faz a sua. O Mourinho gostava de vir para o Benfica e o Benfica precisava de mudar alguma coisa. Logo, juntou-se tudo. Gosto muito das coisas que faz.

– Outra figura de que se tem falado muito é Mário Branco. Já o conhece?

– Não o conheço muito bem, mas sei que é uma pessoa competente.

– Está confiante para as eleições?

– Sim, sim. Muito confiante. Penso que o Rui Costa vai ganhar.

– E, mesmo com problemas na anca, vai votar?

– Sim, vou, claro.

– Qual a mensagem que deixa aos benfiquistas?

– Deixo uma mensagem de confiança. Confiança no trabalho que vamos ter, porque vai ser um trabalho difícil. Vamos fazer para pôr novamente o Benfica a caminhar, como tem vindo a caminhar, para o melhor. E, portanto, para ganhar. Confio na equipa que está à frente do Benfica e que vai estar a partir deste sábado, com Rui Costa a presidente.