A ironia de vitória 'aos pontos' em jogo a eliminar (crónica)
Nem autocarro estacionado à frente da área, apesar do 5x4x1 defensivo que fica mais na retina, nem ousadias românticas frente ao detentor da Taça de Portugal e bicampeão nacional. O Paços de Ferreira respeitou o adversário, mostrou noção de quem tinha pela frente, mas quis ir a jogo. E foi. Sujeitou-se a um domínio por vezes avassalador (os números finais de ataques, remates e cantos são extremamente desequilibrados), e ainda assim o Sporting só chegou à vitória no prolongamento e através de um autogolo.
Quanto ao leão, é difícil dizer que jogou mal, embora estar a perder por duas vezes frente a uma equipa de escalão inferior — ainda que saibamos da valia média das equipas na II Liga e o pouco distantes que estão da maioria das da primeira — não seja um especial cartão de visita. Cheio de alterações no onze inicial, o Sporting tomou conta do jogo do primeiro ao último minuto. Pedro Gonçalves foi uma boa notícia como médio mais ofensivo e com liberdade de ação, atrás do ponta de lança Ioannidis. Antes e depois do primeiro golo do Paços, ao qual os leões reagiram com rapidez, coube a Pote lançar os foguetes e ajudar o grego a apanhar as canas do insistente ataque sportinguista.
Do lado do Paços, entre várias exibições de extremo valor, sobressaiu Lumungo. Autor do primeiro golo, da assistência para o segundo e de muito mais ações, o internacional são-tomense passou quase 100 minutos, parte do prolongamento incluída, a dizer que os donos da casa estavam em jogo, ainda que dispostos a rematar um quarto das vezes e sofrer quase 30 cantos contra zero conquistados.
O 2-1 para o Paços, alcançado pouco depois do início da segunda parte numa segunda distração defensiva dos leões, foi surpreendente. De tal forma que Rui Borges mexeu na equipa mais cedo do que é costume. Fê-lo de forma conservadora, trocando o lateral direito e um Morita amarelado por Trincão (passando Pote mais para trás, mas não necessariamente para menor exibição).
Ioannidis empatou pouco depois na sequência de um canto (ainda assim um escasso aproveitamento deste tipo de lances) e pouco depois, aí sim, o treinador do Sporting mexeu no xadrez, passando a jogar em 3x4x3 e acentuando o assalto à área pacense. O leão fez-se valer da boa capacidade de reação aos golos sofridos e à medida que se caminhava para o final do jogo o domínio ia-se acentuando. O Sporting atacava e o Paços soçobrava, sobretudo fisicamente, porque isto de andar quase sempre a correr atrás da bola cansa mais do que tê-la.
Os donos da casa mantiveram, ainda assim, a concentração defensiva e o guarda-redes Jeimes ia-se cada vez mais revelando um porto seguro para os objetivos traçados. O Sporting atacava, atacava, mas oportunidades daquelas de se gritar «golo» antes do último remate eram muito poucas.
O prolongamento acentuou todas as tendências. Diomande também saiu com dificuldades físicas (bendita sexta substituição em caso de tempo extra), mas a generalidade da equipa do Paços deixou de aguentar o ritmo. Em mais uma boa jogada do ataque leonino, Fresneda cruzou, Ioannidis estava lá à espera mas Tiago Ferreira antecipou-se e fez um infeliz autogolo. Ficou escrita a história, embora até final o Paços, sem Lumungo mas com Nito e Matheus Martins mais frescos, tenha deixado no ar a sensação de que... poderia mesmo ter «havido Taça», para usar uma expressão bem futeboleira.