A emoção com que Trincão fala do sonho de uma vida e as «cervejinhas» que tiram o cansaço: «A segunda festa no Marquês foi ainda melhor»
Francisco Trincão tem uma forte ligação aos pais e ao Sporting. Umbilicalmente ligados desde tenra idade. Começou a partir loiças em casa ainda antes de saber ler e escrever, vibrando com os jogos do Sporting. Nas futeboladas com o pai, a porta da sala e a porta de casa para a rua eram transformadas em balizas. A mãe decidiu inscrevê-lo no clube da terra.
«Muito da minha mentalidade e persistência vem desses momentos com o meu pai», conta no podcast Geração 90, do Expresso, conduzido pela atriz Júlia Palha.
Aos 5 anos começou a jogar no Vianense, em Viana do Castelo. Foi para o SC Braga e com 19 anos foi chamado para o Barcelona.
Francisco Trincão recorda como começou a jogar à bola, antes de ser jogador de futebol. Quando o futebol passou a ser um modo de vida o agora jogador do Sporting recorda a emoção com que assinou contrato com o Barcelona. «As culturas e formas de viver lá fora fizeram-me crescer. Sempre tive a sorte de ter os meus pais comigo, o que tornou tudo mais fácil. Tinha saudades de sentir o conforto de casa que Braga me transmite… Em Inglaterra vivi com o Fábio Silva, porque havia muitos portugueses lá. O tédio era tanto que às vezes, à noite, metíamo-nos no carro e íamos dar voltas. Lá não têm a cultura de andar de um lado para o outro como temos cá.»
Sempre tive a sorte de ter os meus pais comigo, o que tornou tudo mais fácil. Tinha saudades de sentir o conforto de casa que Braga me transmite…
Admite que o «momento mais difícil foi viver em Inglaterra porque foi diferente do que estava habituado»; mas no capítulo desportivo foi não jogar pelo clube do coração que o fez sofrer: «No futebol foi quando não estava a jogar muito no Sporting. Foi complicado. Quando o mister Amorim me ligou a dizer que queria que eu fosse jogador dele a minha mentalidade mudou e fiquei muito motivado. Foi o melhor passo que podia ter dado. Já vou para a minha quarta época. Sou um privilegiado e sinto-me muito bem. Nunca pensei que com 25 anos podia chegar até aqui, podia dizer que ficava a vida toda no Sporting, mas não conseguimos saber o dia de amanhã.»
Quando o mister Amorim me ligou a dizer que queria que eu fosse jogador dele a minha mentalidade mudou e fiquei muito motivado. Foi o melhor passo que podia ter dado.
Nesta conversa com a atriz Júlia Palha, Francisco Trincão explica como é o dia-a-dia de um jogador do Sporting: «É chegar cedo e tomar o pequeno-almoço na Academia. Antes do treino trabalho no ginásio para fazer ativação e depois treino. No final, fazemos tratamento ou gelo… e depois almoçamos lá. O que mais gosto é jogar futebol e a companhia dos meus colegas. Temos um grupo incrível. Se tiveres pessoas chatas no trabalho torna-se aborrecido. Mas, o nosso grupo é muito bom… O mais difícil é mudar o chip de jogo para jogo.»
Trincão recorda que sendo sportinguista ferrenho ser campeão é inesquecível. «A festa no Marquês é das coisas que não dá para explicar e um dos momentos mais marcantes que tenho na minha vida. Ali não há cansaço. Se bebermos uma cervejita ou outra acaba o cansaço. É uma sensação única. A segunda vez ainda foi melhor do que a primeira», conta entre sorrisos.
Profissionalmente Francisco Trincão diz que não faz grandes planos, pois nunca sabe que propostas e desafios podem surgir, e olha com confiança para o Mundial do próximo verão: «Se for convocado será a minha primeira competição por Portugal, para além da Liga das Nações e estou muito ansioso.»
Também a utilização de Cristiano Ronaldo na Seleção Nacional foi tema de conversa. Trincão não tem dúvidas que CR7 merece ser titular por Portugal: «Cristiano Ronaldo é Cristiano Ronaldo e temos de ter noção do peso que ele tem. Do respeito que as outras equipas também têm dele. Faz completamente sentido ter o Cristiano Ronaldo na equipa e a titular porque é uma referência. Ele atrai adversários e se estiver na área tem dois defesas com ele, o que abre espaço para alguém. Ainda tem uma importância enorme na Seleção.»
Faz completamente sentido ter o Cristiano Ronaldo na equipa e a titular porque é uma referência. Ainda tem uma importância enorme na Seleção.
No capítulo pessoal Francisco Trincão diz não ter qualquer arrependimento. Assume que o que mais o assusta é perder a família e não ser capaz de construir uma. «Não conseguir ser pai era estranho pois é algo que eu quero imenso. Não para já. Quero ser pai tarde… Aos 29 ou 30 anos. Ainda sou novo e tenho de crescer. Não tenho o desejo de o meu filho me ver a jogar futebol… Tenho de viajar, aproveitar a vida e depois ser pai a 100 por cento.»
Sem medo de falhar, Francisco Trincão diz que até gosta pois é o sofrimento das falhas que o faz crescer. E muito. «Sou quem sou porque falhei. Gosto de falhar e de sofrer porque depois traz-me coisas boas. Se formos consistentes as coisas acabam por acontecer. Sou muito disciplinado e sou muito boa pessoa. Gosto de passear, de ir à praia, comprar roupa e andar bem vestido», diz sorridente e de bem com a vida. Por isso daqui a cinco anos diz que só quer ter os pais próximos e que estejam todos juntos a vibrar com o seu Sporting, como quando tinha… cinco anos.
Não conseguir ser pai era estranho pois é algo que eu quero imenso. Não para já. Quero ser pai tarde… Aos 29 ou 30 anos. Ainda sou novo e tenho de crescer