Defende André Mosqueira do Amaral que a centralização dos direitos audiovisuais do Futebol Profissional não é um fim, antes um ponto de partida - Foto: LIGA PORTUGAL
Defende André Mosqueira do Amaral que a centralização dos direitos audiovisuais do Futebol Profissional não é um fim, antes um ponto de partida - Foto: LIGA PORTUGAL

A chave ou o dinheiro?

Liga para Todos é o espaço de opinião quinzenal de André Mosqueira do Amaral, Diretor Executivo da Liga Portugal

Na memória coletiva de quem acompanhava a televisão portuguesa na década de 90 permanece o concurso 'A Amiga Olga', cujo momento mais aguardado chegava com a célebre pergunta: «A chave ou o dinheiro?». Os concorrentes tinham, então, de optar entre um valor imediato ou uma chave que podia abrir a porta a um prémio maior.

No processo de centralização dos direitos audiovisuais do Futebol Profissional, a lógica não é a de uma escolha entre a chave e o dinheiro. É, antes, a consciência de que, para existir dinheiro de forma sustentável, tem de existir uma chave: a definição de um modelo claro, equilibrado e partilhado de repartição dos proveitos resultantes da venda coletiva dos direitos a partir da época 2028/2029.

Ignorar essa chave seria abrir caminho à incerteza. A ausência de um modelo acordado conduz à instabilidade institucional, fragiliza todo o ecossistema e reativa fantasmas que afastam investidores, reduzem a atratividade do produto e colocam em causa a credibilidade dos agentes. Num mercado cada vez mais competitivo e global, esse é um risco que não podemos assumir.

É por isso que o alinhamento entre as Sociedades Desportivas em torno de critérios de repartição constitui uma pedra basilar da centralização. Representa uma demonstração clara de maturidade coletiva e de capacidade para alcançar compromissos, sabendo que soluções desta natureza nunca são exercícios de perfeição, mas sim equilíbrios possíveis entre interesses legítimos.

O ponto de partida é a realidade atual. Não se começa de uma folha em branco, nem se ignora o contexto existente. Os compromissos devem refletir o que hoje somos, para que o percurso seja credível e executável. Ao mesmo tempo, este não é um modelo fechado ou definitivo. Trata-se de um processo gradativo, com margem de ajustamento ao longo do tempo, tal como aconteceu noutras ligas que centralizaram os seus direitos há décadas.

O objetivo é claro: esbater a polarização financeira e competitiva, não por um princípio artificial de igualdade, mas porque a incerteza do desfecho é um dos principais fatores de valorização de uma competição desportiva. O desafio está em permitir que a maioria passa a estar melhor, na proporção do contributo que cada um dá ao todo, sem confundir nem uniformizar realidades estruturalmente distintas.

A centralização não é um fim. É, sim, um ponto de partida. Parte do presente, mas projeta-se no futuro que queremos construir para o Futebol Profissional em Portugal.

PS — O meu tributo a Olga Cardoso, histórica voz da rádio, recentemente falecida e que se destacou também no referido concurso televisivo.