A BOLA revela: como (e quando) Rui Borges divulga o onze que vai a jogo

Cada treinador tem a sua ideia, metodologia, estratégia motivacional, uma forma de comunicar — para dentro e para fora — que difere da personalidade ou hábitos de trabalho. Rui Borges procura passar uma mensagem clara, direta, assente numa escola de pensamento ainda ligada ao passado recente como jogador. São muitas as fórmulas utilizadas para extracampo manter a equipa em estado de alerta. E uma delas foi, de forma involuntária, desvendada na conferência pós-jogo em Nápoles quando revelou que João Simões só soube que iria ser jogar... hora e meia antes do início da partida.     

Pois bem, ao que A BOLA apurou, esta não foi uma exceção. É mesmo uma regra nas ideias do treinador. Desde que chegou à Liga — em 2023/2024 no Moreirense — que esta é a linha de pensamento do técnico: revelar os onzes no dia de jogo. Ou até umas horas antes... Uma política diferente, por exemplo, ao que acontecia na era Amorim em que os jogadores sabiam com antecedência quem seria titular. Rui Borges cortou com essa linha e trabalha de forma diferente. E quais serão as razões para o ‘mistério’ junto do grupo? Há três pontos, apurou A BOLA, que sustentam esse pensamento.  

O primeiro prende-se com o facto do treinador pretender manter o plantel todo ligado, em estado de alerta, para uma chamada ao onze. O segundo, por sua vez, está ligado a um possível mau estar de quem fica de fora. Quanto mais tardio for revelado o onze mais fácil se torna a gestão de possível azia de quem é riscado. E terceiro, não menos importante, devido a fugas de informação que possam surgir pelas mais diversas vias. 

Um método que não é seguido por todos. Ricardo Silva, treinador de 43 anos, que, entre outros, já passou por Vilaverdense e Paços Ferreira, adversário de Rui Borges em diversas ocasiões, explica o seu ponto de vista em A BOLA.   

«Tendo em conta a forma como vamos metodologicamente passando as ideias aos jogadores é muito difícil esconder o onze. Até pela forma, estrategicamente, como vamos falando do adversário e aquilo que queremos da equipa. No meu caso, por exemplo, digo na véspera. Não de forma flagrante, porque não gosto de ficar agarrado às palavras e dizer que tu vais jogar, ou esta equipa é que vai jogar, porque pode haver sempre uma alteração à última hora», lembrou o técnico, identificando vantagens e desvantagens desta metodologia de Rui Borges. 

«Há pontos positivos. Um deles é estarmos sempre sujeitos à confidencialidade do onze. Porque os jogadores hoje em dia, como sabemos, são praticamente empresas que têm à volta deles. E pode haver uma fuga de informação. Do ponto de vista motivacional, por sua vez, um jogador pode  não estar tão bem preparado se souber que vai jogar horas depois. Porque quando sabe que vai jogar, pela experiência que tenho, sinto que se prepara mais, na gíria futebolística dizemos que 'deita o olho' de forma mais forte ao que o treinador pretende e está a transmitir», disse. 

Apesar de existir mais do que uma estratégia, dependendo, claro está, de determinados momentos da época ou de jogos a meio da semana, Rui Borges continua fiel a esta medida e tem feito essa divulgação oficial apenas no dia de jogo.  

«Sou um pouco mais flexível mas compreendo todos os pontos.  E mesmo não dizendo esse onze no dia, os jogadores não são parvos e sabem, pela consistência que é o nosso padrão, se vai ou não jogar», reforçou Ricardo Silva, com muitos elogios ao trabalho que vem sendo feito pelo seu colega de profissão. 

«Fico sempre muito contente quando vejo treinadores com o percurso do Rui. Porque passou por praticamente todos os patamares do futebol português, foi o meu adversário em Mirandela quando eu estava no Pedras Salgadas, depois faz Liga 2, até conseguir ganhar a consistência para chamar a atenção do Moreirense na Liga. Chegou ao Sporting e tirou o fantasma de Amorim da cabeça dos sportinguistas com uma ideia de jogo muito positiva, assumindo o risco com um futebol de ataque. Portanto merece tudo o que lhe está a acontecer», finalizou. 

E qual será a visão do lado do jogador? A BOLA falou com Pedro Amador, lateral-esquerdo que atualmente joga no Atlanta United (EUA) e que foi liderado por Rui Borges no balneário do Moreirense em 2023/2024. 

«Sim, o mister Rui Borges como faz atualmente já fazia antes no Moreirense. E era algo que nós falávamos porque creio que saber do onze um dia antes era mais fácil para poder digerir pós-jogo. Por isso sou da opinião que um dia antes seja medida melhor para o jogador que não vai jogar», disse. 

E a poucas horas da partida com o SC Braga, Rui Borges continua, para já, com um plantel titular na sua totalidade. O grupo final, esse, só será reduzido a onze protagonistas no... domingo.