Deniz Gul fez um dos golos do 4-0 do FC Porto em Arouca - Foto: Catarina Morais/Kapta +

7 dias x 2 competições x 3 jogos

#Minuto 92 é o espaço de opinião de Ricardo Gonçalves Cerqueira, jurista, gestor de empresas e sócio do FC Porto

À hora a que escrevo, a tranquilidade e a segurança públicas regressaram à vila de Arouca, depois da preocupação manifestada pela senhora Presidente de Câmara e pelo Presidente do FC Arouca com a presença da equipa do FC Porto, em território arouquense, em plena comemoração da tradicional festa das colheitas. Podem ambos, finalmente, respirar de alívio, porque verdadeiramente em perigo, só esteve a equipa de Arouca, que durante os 90 minutos de jogo, contra um FC Porto reduzido a 10 unidades desde o minuto 47, foi incapaz de contrariar a evidente supremacia da equipa visitante, tendo terminado a partida com 4 golos no cabaz.

Temo, ainda assim, que, se a decisão da Liga fizer jurisprudência, a realização de jogos em Barcelos por altura da Festa das Cruzes, do Famalicão nas Antoninas ou do Leixões aquando do Senhor de Matosinhos, possa estar comprometida dada a tamanha preocupação manifestada por estes dias com ajuntamentos populares, festas e comemorações tradicionais, e a, recém-descoberta incompatibilidade destas, com a realização de jogos de futebol profissional. A sorte, de Porto e Braga, é que o São João se realiza em junho, caso assim não fosse correriam o risco de ter de disputar jogos à porta fechada por eventuais razões de segurança.

Desconsiderada a ironia, o FC Porto, viu-se na circunstância de estar obrigado a disputar 3 jogos em 7 dias, sendo que dois são particularmente importantes pela dimensão desportiva e por aquilo que podem ditar sobre as ambições de curto-médio prazo nas duas principais competições em que o Clube está envolvido, a I Liga e a Liga Europa.  A decisão incompreensível de submeter o FC Porto a uma sobrecarga competitiva carece de uma explicação clara e cabal, não sendo por isso suficiente uma declaração inócua sobre o “carinho” que é dirigido aos clubes que compõem a Liga. Quando se define, como objetivo primordial de curto prazo a melhoria da classificação de Portugal no ranking da UEFA, é incompreensível a forma como se comprime o calendário interno, praticamente, impossibilitando que a equipa do Porto consiga recuperar os índices físicos de um jogo para outro.

O FC Porto jogou em Arouca na segunda feira às 8 da noite e treinou terça e quarta-feira. Disputou o jogo com o Estrela Vermelha na quinta-feira, às 20h, no Estádio do Dragão e a ele regressará no Domingo para jogar com o Benfica às 21h15. Ora, esta calendarização não só não permite à equipa treinar e preparar cada um dos respetivos jogos com a necessária tranquilidade, como coloca os jogadores no limite da sobrecarga física, com consequências imprevisíveis no parâmetro das lesões. Isto, quando o regulamento de competições da Liga incentiva a salvaguarda e proteção das equipas nacionais que estejam envolvidas na disputa de competições internacionais.

Convém, a este propósito, relembrar que o Benfica, no início da presente temporada, beneficiou de uma leitura rigorosa do regulamento, tendo visto o jogo da primeira jornada da Liga, contra o Rio Ave, adiado para o dia 23 de setembro, para que pudesse disputar nas melhores condições o acesso à Liga dos campeões diante do Fenerbahce. Dadas as circunstâncias – em tudo semelhantes às atuais do FC Porto –, não se compreende a razão para que uns beneficiem da aplicação literal do regulamento e outros se vejam na obrigação de se manterem em competição praticamente ininterrupta durante 7 dias.

A equipa técnica e o atual plantel azul e branco vêm dando mostras de grande resiliência e assinalável capacidade de superação. Esta semana non-stop é mais uma etapa no gigantesco “teste de stress” que promete vir a ser a época 2025-2026. Derrotá-los, dentro e fora do terreno de jogo, será a fonte de energia que nos alimentará nos próximos meses. Cá estaremos, à vossa espera. Até Domingo!

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O FC Porto apresentou, no dia em que comemorou o 132º aniversário, a Fundação FC Porto. Um projeto de âmbito social com o intuito de apoiar e dinamizar a estratégia de sustentabilidade e responsabilidade corporativa do Clube. A Fundação tem como objeto conceber e executar uma política de proximidade e acompanhamento da comunidade azul e branca com particular enfoque nas áreas do combate à pobreza e exclusão social, apoio à família, educação, saúde e desporto.
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7 jornadas, 3 treinadores demitidos na I Liga. Impaciência de quem dirige? Impreparação de quem assume o comando técnico? Pré-época mal planeada? Plantel desequilibrado ou incompleto? As razões serão várias e porventura todas atendíveis, ainda assim, despedir o líder de uma equipa profissional de futebol ao fim de 5 ou 6 jogos não é o melhor indicador quanto à estabilidade e consistência de um projeto desportivo.