«Já disse aos novos donos que quero ficar, com projeto que nos torne competitivos»
Bruno Fernandes sabe levar a multidão ao rubro (Foto: Xinhua/IMAGO)

ENTREVISTA EXCLUSIVA A BRUNO FERNANDES - PARTE 2 «Já disse aos novos donos que quero ficar, com projeto que nos torne competitivos»

INTERNACIONAL20.03.202410:00

Contrato termina em 2026 e o Manchester United continua distante do topo; Diz-se tranquilo quanto às críticas e aceita-as naturalmente; Mantém elevada a exigência sobre si mesmo

O Manchester United continua longe da glória que já alcançou e que o tornou num dos maiores emblemas do planeta. Bruno Fernandes, em entrevista exclusiva a A BOLA, reconhece que o momento continua aquém das expetativas e já pediu garantias aos novos donos – a INEOS, de Jim Ratcliffe – que, embora minoritários, vão controlar o futebol do clube.

- O Manchester United é um clube gigantesco, a pressão é um desafio diário?

- Sinceramente, não vejo isso como uma pressão. Simplesmente faço aquilo que gosto. Tenho a consciência tranquila de que todos os dias treino o máximo, jogo o máximo. Podem obviamente apontar-me que joguei bem ou mal, mostrei muita ou pouca qualidade, que falhei passes, errei remates, mas no que toca a tudo o resto estou sempre com a consciência tranquila. O mínimo que se exige de nós é isso, tudo o que metemos em campo, toda a intensidade, tudo aquilo que temos de fazer… e eu faço tudo. Não para ficar de consciência tranquila, mas porque faz parte do meu jogo. Essa pressão existe, obviamente, estamos num clube que provavelmente está entre os dois, três mais badalados do mundo no que diz respeito a notícias e manchetes. Temos noção, eu tenho noção disso, não vou estar aqui a enganar ninguém e a dizer ‘eu não vejo o que as pessoas falam de mim ou dizem de mim’ porque eu estou no United. Obviamente que é porque estou no United que isso acontece, porque se estivesse a jogar noutra equipa da Premier League ou de Portugal num escalão mais baixo não ia ter esta atenção. Mas também não podemos dizer que não gostamos de uma peça negativa e depois, quando falam bem de nós, gostamos de tudo e mais alguma coisa. Por isso, temos de encontrar um equilíbrio, encontrar uma linha e dizer ‘não passo desta linha’. Quando falam bem adoro, quando falam mal aprendo.

- O Bruno tem uma ação decisiva em cada 1,6 jogos pelo Manchester United. Mesmo assim, parece que quando a equipa joga mal, perde ou não tem um resultado positivo, é se calhar a primeira figura a quem apontam o dedo… Vê isso assim também ou é só uma visão nossa de fora?

- Tenho essa noção, mas faz parte, não só por ser capitão de equipa do Manchester United como também pelo padrão que criei desde que aqui cheguei. Isso é exclusivamente culpa minha pelo lado positivo, porque fiz coisas boas, sou capaz de fazer melhor e criticam-me por isso. Vejo isso pelo lado positivo. Se me estão a criticar é porque acham que sou capaz de fazer melhor. É certo que há alturas em que criticam a atitude, e que não se correu e que não se fez isto e aquilo, mas quando essas coisas vêm estou completamente tranquilo. Eles gostam muito das estatísticas e de todas essas coisas e no clube temos lá um quadrozinho com quem correu mais, quem teve a mais alta intensidade, quem fez mais sprints e o meu nome não sai lá de cima. Isso deixa-me de consciência tranquila. Não é algo que me diga que joguei bem só porque corri muito, porque não é a correr muito que se joga bem, mas a minha posição obriga-me a correr mais do que outras posições e é uma obrigação minha fazer o máximo que posso nesse sentido. Depois, se corremos bem ou mal… Isto ficou mais nos meus ombros desde que o Cris saiu daqui, o que é normal, o nome dele chamava mais atenção do que o meu. Provavelmente, caem mais nos jogadores de fora do que nos da casa. Sempre disse que em Portugal é bocadinho ao contrário, que caímos sempre um bocadinho mais no português do que no estrangeiro. Mas o que sinto aqui senti também um bocadinho em Itália. Protegem os de casa, quem é do país, e não acho que isso esteja errado. Ao mesmo tempo, sinto-me bem com essa crítica porque é uma maneira de exigirem mais de mim e de acharem que tenho capacidade para fazer mais. Obviamente, não gosto de ver o meu nome e a minha cara em manchetes negativas, mas faz parte da nossa profissão e é o que é.

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- É um diabo com coração de leão?

- Isso é um bocadinho óbvio, já toda a gente sabe…

- Mas mesmo em campo, não só no sentido figurado de ligar essa imagem ao Manchester United e ao Sporting

- Sim, sim. Toda a gente sabe, porque veem o Bruno um bocadinho como o diabo, pela maneira como vivo muito o jogo, mas ao mesmo tempo sinto que também veem como um leão, porque sou uma pessoa que tem muita garra, que não vira a cara a luta, que até conseguir os seus objetivos não vai parar… Posso não conseguir todos os objetivos que tenho para a minha carreira, mas ao longo desta já alcancei muitos que não pensava alcançar.

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- O Bruno é um perfecionista. Já o assumiu. Revê todos os jogos ou só as jogadas em que sente que esteve bem ou mal?

- Antigamente, revia praticamente o jogo todo, porque obviamente quando olhamos apenas a nossa jogada acaba por ser difícil ver o que está à volta. Muitas vezes quando revemos o que fazemos, seja um erro ou algo positivo… Imaginemos a coisa positiva, um passe muito bom através do qual isolei um companheiro de equipa. Apesar de ter sido excelente, provavelmente deveria ter olhado para o segundo movimento. E, se calhar, o segundo movimento teria sido mais efetivo do que o primeiro. Acho que ver uma ampliação do jogo é, por vezes, melhor do que apenas highlights. Depende muito do jogo. Quando é mais negativo, prefiro ver o encontro inteiro e entender tudo o que correu mal. Quando é positivo, tento focar nos momentos em que errei. Porque, obviamente, quando é positivo, se for ver o jogo todo vou ficar deslumbrado e vou-me esquecer de olhar para o que foi negativo. Vejo aquilo que foi negativo e digo ‘ah, fiz aquele sprint para trás porque se calhar já estava um bocadinho cansado’. Começamos a arranjar desculpas que não são muitas vezes necessárias. Há influência do cansaço na jogada, mas temos de saber lidar com isso, temos de saber lidar com aquela que não era a melhor opção e temos de escolher outra. Se estou cansado, em vez de tentar correr com a bola, tenho de encontrar o passe mais simples e deixar a equipa respirar, para eu próprio conseguir respirar um bocadinho e voltar a subir no terreno para encontrar a minha posição novamente. Quando os jogos são positivos… Nós também temos uma aplicação que o clube que nos dá todos os momentos em que tocamos na bola ou quando fazemos certos movimentos pedidos pelo treinador, então tento focar-me mais nesses highlights.

- Há um ano, mais ou menos, disse, até em declarações ao site do Manchester United, que tinha pedido para conhecer o rumo do clube antes de renovar contrato. O seu contrato acaba em 2026, são dois anos para encontrar esse rumo?

- Sempre disse ao clube que não quero que me prometam que vamos ser campeões, porque, para qualquer clube que vá, não espero que me prometam algo que não conseguem cumprir à partida. O que sempre pedi e quero do clube é que nós sejamos competitivos. Neste ano, não o fomos e não temos de o esconder. A época tem sido abaixo das nossas expetativas, abaixo do que são as minhas expetativas, pelo menos. E acredito que do clube também, porque não está habituado a estar nestas posições. Eu quero ser competitivo, quero competir, quero ganhar. Já tive uma reunião com os novos donos. Eles querem reunir com os jogadores e já o têm feito individualmente, e foi exatamente essa a mensagem que passei. Eu quero ficar aqui, quero fazer parte de um projeto que tenha pés, pernas, tronco e cabeça, tudo o que é preciso para que possamos competir com Manchester City, Arsenal e Liverpool, que são os clubes que têm estado em melhor forma. City e Liverpool sobretudo, e o Arsenal, que nos dois, três últimos anos, também tem vindo a crescer. Após o ano passado, em que acho que fizemos uma boa época para as expetativas que existiam e para as minhas expetativas… Eu estava ciente de que não ia estar ao mesmo nível do que Liverpool e City, tinha essa consciência, mas também tinha consciência de que podíamos competir ou estar mais próximos, e estivemos mais próximos de competir com eles, chegámos a duas finais, ganhámos uma, perdemos outra, fomos até aos quartos de final da Liga Europa… Mas da época passada para esta não houve essa continuidade que deveria ter havido, que nos deixaria ainda mais competitivos, uma equipa mais em equação para estar nos lugares cimeiros.