Anselmi firme e hirto

André Villas-Boas procura jogar na antecipação para evitar novo desastre desportivo. Entende que o treinador é parte da solução e não do problema. E isso é o ponto de partida para 2025/2026...

Ficar em terceiro ou quarto é, na prática, praticamente igual para o FC Porto, pese embora aos olhos da exigente massa adepta azul e branco não represente a mesma coisa. É sabido de antemão que a época foi paupérrima em termos desportivos, apesar de ter começado com uma vitória épica, em Aveiro, na Supertaça Cândido de Oliveira diante do Sporting, após uma reviravolta de 3-0 para 4-3. Já se sabia que a sucessão de Pinto da Costa não seria fácil, atendendo ao quadro económico com que se deparou o homem que fez cair uma liderança de sucesso de 42 anos.

Alguns erros terão sido cometidos por André Villas-Boas, uns apontam para a escolha de Vítor Bruno, outros na direção de Andoni Zubizarreta, este sem qualquer impacto mediático e com ações que ficaram a léguas do que era idealizado. É no erro que na maioria das vezes se cresce, aprende e ganha outra estaleca para abordar o futuro de uma forma diferente. Se no plano financeiro as coisas correram de feição, o primeiro ano do novo líder azul e branco fica indubitavelmente marcado pelos resultados negativos da equipa de futebol. Mas André Villas-Boas não parece disposto a baixar os braços e, seguramente, já terá em marcha um modus operandis distinto daquele que usou em 2024/2025, uma época que fecha com o Mundial de Clubes, onde, pelos pergaminhos do FC Porto, é necessário deixar uma imagem digna nos Estados Unidos do brasão azul e branco.

Apesar de ainda faltarem pelo menos mais cinco jogos oficiais para o epílogo da temporada — Boavista e Nacional da Madeira para o campeonato e Palmeiras (Brasil), Al Ahly (Egito) e Inter Miami (Estados Unidos) no Mundial de Clubes —, André Villas-Boas já está a planificar 2025/2026 no maior secretismo, de forma a construir um plantel forte, competitivo, composto por uma mescla de juventude do Olival e de reforços de peso, com experiências, tudo na firme esperança de voltar a conquistar o título nacional que escapa há três anos.

Apesar de todo o ruído em torno de continuidade de Martín Anselmi, o argentino detém elevado capital de confiança do presidente para apresentar um trabalho mais elaborado com mais-valias no plantel, com perfis de jogadores que se enquadrem na matriz de jogo que raramente abdica, embora seja necessário sempre um plano B para situações de adversidade.

André Villas-Boas sabe que a próxima época futebolística será ainda mais exigente do que a atual, tendo em conta o insucesso que teve no primeiro ano da sua gestão desportiva. Se entende que Anselmi faz parte da solução, não apenas pelo facto de o treinador ter contrato até junho de 2027 e isso o obrigaria a uma indemnização choruda, vai agora ao encontro das pretensões do argentino e tenta dar-lhe mão de obra qualificada, num plantel que, sabe-se de antemão, precisa de uma remodelação geral. É uma tarefa hercúlea, mas quando decidiu desafiar Pinto da Costas nas urnas também sabia que o desafio era enorme e venceu-o de goleada. O universo portista continua dividido e só há uma forma de o voltar a juntar. Com resultados e a conquista, no mínimo, do próximo campeonato. É uma montanha enorme para escalar e o seu companheiro de caminhada parece ser Martín Anselmi...