Yolanda Hopkins: «Vou comprar um lego e ver a família»
Yolanda nasceu em Faro, mas vive em Sines para onde se mudou atrás de ondas depois de se ter apaixonado pela modalidade, desde o primeiro dia em que tocou numa prancha e se pôs de pé. Podia ter sido futebolista e diz quem viu que tinha jeito, ou tenista onde encontrou as referências que até hoje lhe servem: as manas Williams.
Aliás, guardou a licra que usou em Peniche que tinha o nome das irmãs norte-americanas numa homenagem no Dia da Mulher.
Agora, também ela promete tornar-se uma referência de resiliência.
A mudança do Algarve para S. Torpes, praia onde o treinador tem uma escola de surf, Pig Dog [posição de surf] foi o primeiro passo desta longa viagem que começou há sete anos. Com a separação dos pais vieram dificuldades e foi uma cliente do Surf Camp, que pagou as primeiras viagens para a Califórnia, para ela fazer as qualificações. A representação internacional só foi possível devido a um crowdfunding, que lhe permitiu juntar 7500 euros para seguir atrás do sonho que agora concretizou.
Agora, só quer sopas, descanso e, claro, surf.
«A minha recompensa vai ser comprar um Lego gigante, sou uma criança ainda», disse com um sorriso a bicampeã europeia, que esteve presente nos Jogos Olímpicos de Tóquio2020 e Paris2024.
«E ir para casa, vou para o Alentejo, tentar dormir um bocadinho. Depois, tenho coisas para fazer com patrocínios e surfar», adiantou.
«Vou visitar a minha família, já não os vejo há muito tempo. É a parte que as pessoas muitas vezes não sabem. Mesmo estando tão perto, no Algarve, passo 4 ou 5 dias em Portugal e não tenho possibilidade de os visitar. Tenho um sobrinho e uma sobrinha que, cada vez que os vou ver, estão um pé maior do que estavam. O meu sobrinho tem 8 anos e já está quase na minha altura», sorriu.
Yoyo tem 1,57 m de adrenalina pura e muitas vezes surpreende pela audácia com que vai para o mar seja onde for. «Agora vou ter ondas melhores, ondas maiores. O meu treinador diz que o meu surf foi feito para o CT e, no CS, eu já tinha sempre um bocadinho de dificuldade, porque as ondas são muito mais de dia a dia, não são mesmo aquelas ondas grandes do tipo que o meu surf funciona muito bem», diz divertida.
«JO deram conforto financeiro»
Quando lhe deram uma prancha de bodyboard, tinha uns 8 anos, disse que queria uma dos crescidos. Experimentou e nunca mais largou um desporto onde ser profissional é uma odisseia.«Antes dos Jogos Olímpicos foi muito difícil, sempre a contar o dinheiro, mas depois tudo melhorou», disse o técnico.
Bicampeã europeia do Qualifying Series (QS), 2022-2023 e 2023-2024, circuito europeu da World Surf League de qualificação para o CS, e vice-campeã, em 2019, soma cinco triunfos nesta competição continental. Além disso foi bicampeã europeia e duas vezes vice-campeã mundial, uma delas em 2021, que lhe valeu a qualificação para os Jogos Olímpicos. Yolanda foi a Tóquio 2020 e disse que queria o ouro. Foi 5.ª. Foi a Paris 2024 e disse que queria o ouro. Foi 9.ª. Já disse que quer ir a LosAngeles2028. Adivinhe à procura de quê.
Do Brasil trouxe o primeiro troféu do CS mas não está satisfeita e vai atrás do que premeia a n.º1.
Foi sempre assim. «Nunca vou para nenhuma competição que não seja para ganhar».
Agora, pouco mudou. Chegou a pensar em desistir, quando as notas não saíam, mesmo quando o «surf estava lá». Como está sempre. «O surf é igual. É mesmo só a cabeça. Chegamos a um nível em que toda a gente surfa top mundial. A diferença é como a cabeça gere o stress. Acho que não entrei antes porque não estava pronta mentalmente para dar aquele passo para a frente. Acho que, agora não há dúvida», atirou de sorriso rasgado.