«Tive de recorrer à banca para pagar a gestão corrente da federação»
O incumprimento contratual da Podium Events levou a Federação Portuguesa de Ciclismo (FPC) a recorrer à banca para fazer face à gestão corrente, revelou hoje à Lusa o presidente do organismo, Cândido Barbosa.
«É insustentável mantermos uma casa como esta, quando temos um parceiro que se vai arrastando ao longo dos anos. Estamos a ficar com algumas dificuldades de gestão e há meio ano que andamos nisto», lamentou.
O antigo ciclista, que há um ano lidera a FPC, reiterou os pressupostos apresentados na segunda-feira no anúncio da rescisão, com efeitos imediatos, do contrato de concessão para a organização e exploração comercial da Volta a Portugal em bicicleta, celebrado em 2017 com a empresa Podium Events.
«O comunicado é aquilo que é, efetivamente é por falta de cumprimento do contrato, por ordem financeira. É um montante elevado. E como instituição não poderia… porque isto torna-se insustentável. Há duas semanas, tive de recorrer à banca para pagar a gestão corrente da FPC», revelou Cândido Barbosa, sem revelar o montante em atraso.
Os valores envolvidos na polémica não foram revelados, mas, em 2017, a FPC lançou um concurso público para a organização da Volta a Portugal em que a base de partida eram 450 mil euros. De lá para cá, a Podium Events é a responsável pela organização do evento, trabalhando com patrocinadores e privados e autarquias.
Este ano, por exemplo, Ferreira do Zêzere pagou 15 mil euros para conseguir ser palco da partida de uma etapa da 86.ª edição, mas, no ano passado, a Junta de Freguesia de Marvila, em Lisboa, investiu 90 mil euros.
A Podium Events, por seu lado, acusou a FPC de «falta de decoro e lealdade», dizendo ter tomado conhecimento do término antecipado do contrato de concessão da Volta a Portugal através de patrocinadores.
A empresa disse não reconhecer a «alegada dívida» que lhe é imputada pela Federação «por carecer de base factual adequada, e de validação conjunta», nem qualquer fundamento jurídico ou contratual que «legitime a pretensão» da resolução do contrato de organização e exploração comercial da Volta, assumindo recorrer «a todos os meios ao seu dispor para assegurar a defesa integral dos seus direitos e legítimos interesses».
Há dois anos, os contratos entre autarquias s e a empresa organizadora (Podium) rondaram os 800 mil euros, mas, por exemplo, em 2024, a Santa Casa da Misericórdia passou a patrocinar a camisola branca com 310 mil euros.
Entre os contratos revelados, a autarquia da Guarda é quem mais investe na Volta a Portugal, com um contrato de 400 mil euros celebrado em julho de 2022 para garantir a passagem na cidade das edições de 2022 a 2025. No caso da edição deste ano, o contrato estipula um preço de 140 mil euros. Mondim de Basto também assinou, na mesma altura, um acordo de três anos no valor de 195 mil euros, sendo que este ano a Senhora da Graça terá custado cerca de 80 mil euros.
No caso da Covilhã, por exemplo, cada etapa rondará os 60 mil euros.
Ainda assim, valores bastante abaixo de eventos de outro nível. Por exemplo, no ano passado, os três primeiros dias da Vuelta 2024, que arrancou em Lisboa, custaram dois milhões de euros aos cofres nacionais, divulgou a organização da parte portuguesa, metade suportado pelas autarquias de Lisboa, Oeiras e Cascais, o restante pelo Turismo de Portugal e restantes autarquias por onde passou o pelotão.
A Podium tinha contrato para organizar mais uma edição da Volta a Portugal e era ainda responsável pela organização da Volta a Portugal do Futuro e da Volta ao Alentejo.
Mas, além das questões financeiras, Cândido Barbosa explicou à Rádio Renascença que havia outros problemas. «A Volta a Portugal nos últimos dez anos não se atualizou, não se modernizou de acordo com os padrões internacionais», alegou, dando o exemplo do desempenho da academia da Israel Premier Tech na edição de 2025: «Tivemos uma equipa de formação internacional que ganhou quatro etapas. E isto é tudo. Não se admite, ainda, que uma Volta a Portugal possa ter à partida somente 110 ciclistas», criticou.