«Tinha sido o mister Sérgio Conceição a contratar-me, mas depois saiu no verão»
Hugo Seco não chegou aos 100 jogos no principal escalão do futebol nacional, mas ficou muito perto de atingir essa marca, com 93 ao todo, divididos por três clubes – Académica, Feirense e Farense.
Convidado a recordar os tempos na elite nacional, o extremo de 37 anos lembra com carinho a A BOLA o seu percurso e garante que guarda excelentes memórias desses três emblemas. Naturalmente, a estreia na Liga foi um momento marcante: «As memórias são as melhores. Há um momento que jamais esquecerei, que é a estreia na Primeira Liga pela Académica, depois de uma fase um bocadinho atípica. Tinha sido o mister Sérgio Conceição a contratar-me na altura, mas depois saiu no verão. No último jogo que fiz no Benfica de Castelo Branco, antes de me apresentar na pré-época, parti o pé. Ou seja, apresentei-me um pouco limitado, perdi a pré-época toda. O mister Paulo Sérgio teve um comportamento exemplar comigo, disse que não me conhecia, deu-me a oportunidade de me mostrar. Felizmente acabei por ficar no plantel, as coisas correram bem e foi o mister Paulo Sérgio que me lançou no jogo frente ao Paços de Ferreira. Essa para mim será sempre a melhor memória.»
A passagem de época e meia por Santa Maria da Feira, com a camisola dos fogaceiros, de 2017 a 2018, ficará para sempre guardada como uma experiência fantástica, frisa: «Em relação ao Feirense, foi o melhor grupo que eu já apanhei no futebol. Foi talvez o ano e meio em que desfrutei mais do futebol. Tinha gosto em ir para os treinos. Aliás, acordava todos os dias mais cedo para poder estar com o pessoal no balneário. Terminávamos o treino e ninguém queria ir embora, porque tínhamos um grupo mesmo muito bom. E no Farense igual. Não posso dizer que fosse tão bom como o do Feirense, porque pode parecer que o grupo não era bom, mas era. O do Feirense é que era fantástico. É difícil apanhar um grupo no futebol como tivemos nesse ano no Feirense. Mas gostei muito também da estrutura no Farense, das pessoas, dos adeptos. Um clube também com uma mística muito parecida à União de Lamas. Há muito bairrismo. E as memórias que eu tenho desses três clubes que representei na Primeira Liga em Portugal, são as melhores. Em relação à Académica, como é lógico, é o clube do coração, tenho um sentimento diferente.»
Quatro aventuras no estrangeiro
Quando se olha para o currículo de Hugo Seco, há quatro países que saltam à vista. Malta (St. Lawrence Spurs), Bulgária (Cherno More), Cazaquistão (Irtysh) e Hungria (Kisvárda), todos em fases distintas da carreira, foram experiências (bem) diferentes, explica ao nosso jornal.
«Malta foi um ano atípico. Era jovem, tinha 21 anos. Na altura vinha de uma transição difícil. No meu último ano júnior, tive uma lesão que me impediu de competir por muito tempo, depois tive uns problemas com o meu empresário. Tinha rejeitado alguns clubes da Segunda divisão B na altura, porque ele disse que tinha outras coisas em mente. E quando dei por mim estava sem clube aos 21 anos, completamente desamparado. Lembro-me que ligava para toda a gente, para treinadores aqui de equipas da zona Centro, e ninguém me respondia. Ninguém me deixava sequer treinar à experiência. E foi através de um amigo que surgiu a oportunidade de Malta e decidi arriscar. Não posso dizer que tenha trazido benefícios para o meu futuro no futebol, porque não trouxe nada. É um país pouco desenvolvido no futebol, a qualidade era muito baixa. O que ficam são algumas histórias engraçadas que aconteciam. Em treinos, éramos seis ou sete elementos para treinar. Era um amadorismo dentro do amadorismo, mas foi um ano enriquecedor. Conhecer um país novo, colegas novos, mentalidades diferentes. Acabou por ser bom. O Cazaquistão já foi um bocadinho diferente, surpreendeu-me pela positiva. Na altura ia com uma ideia errada sobre o país, achava que era pouco desenvolvido. Havia equipas com qualidade e jovens, mesmo na formação, com bastante qualidade. O único senão no futebol eram as condições de alguns relvados. Pouquíssimas condições, também devido à meteorologia, o que retirava alguma qualidade aos jogos. Gostei bastante de estar no Cazaquistão», vinca.
«Estive só meia época na Bulgária, mas foi talvez a melhor meia época que já fiz no futebol. É um bocadinho estranho, porque o ambiente era mau e grupo não era muito bom. O povo búlgaro era um pouco racista. Entravam no balneário e cumprimentavam os búlgaros, os estrangeiros não. E eu estava lá completamente sozinho. Felizmente, as coisas em campo estavam a correr bem, mas fora do campo não posso dizer que estava feliz. Depois surgiu a possibilidade de regressar a Portugal e não pensei duas vezes. Quanto à Hungria, gostei bastante. O único ponto negativo era a cidade do clube onde eu jogava, parecia abandonada. Mas gostei muito, havia grandes condições, não só do clube onde eu estava, mas dos clubes todos. O governo tinha investido bastante no futebol. Estádios novos, academias novas, campos de treinos novos... Em termos de condições e qualidade, foi talvez o país onde estive, no estrangeiro, do qual gostei mais», recorda.
Planos bem definidos
Ainda em plena capacidade de competir dentro das quatro linhas, Hugo Seco pensa no futuro pós-carreira como futebolista e sublinha que quer dar início ao percurso de treinador.
«O que eu quero é estar no campo. Estou a preparar-me para isso. Terminei o UEFA B agora e no próximo verão vou tirar o UEFA A, se tudo correr bem. No ano passado, treinei os sub-17 de Lousanense, este ano estou nos sub-19. Estou também porque o meu cunhado está ligado ao futebol, é treinador-adjunto do míster Tozé Marreco. Tem-me ajudado também na parte da análise, que é mais uma ferramenta para o futuro. Tenho explorado isso também. Neste momento estou a tirar também um curso mais virado para a vertente física. Quero estar numa equipa técnica e se puder estar um bocadinho por dentro de tudo, quer na parte da análise, quer na parte da preparação física, melhor. Porque é sem dúvida aquilo que eu quero seguir», revela.
Quanto à hora de dizer adeus à carreira de jogador, ainda não há certezas: «Quando fui para o Lamas a minha intenção era fazer um ano e terminar, mas nós sabemos como as coisas funcionam. Sentimo-nos bem e achamos que se calhar até vai dar para fazer mais um ano. Agora depende muito daquilo que acontecer, da forma como terminar esta época. Se eu sentir que estou apto para fazer mais um ano e se aquilo que aparecer na altura for do meu agrado, poderei fazer mais um ano. Poderão aparecer também coisas do lado fora do futebol, sem ser jogador. É uma questão de ponderar no final da época. Agora, neste momento, sinto-me bem, sinto-me capaz. E se me perguntar se eu imagino deixar de jogar futebol já ou no final da época, acho que não. Estou preparado para jogar pelo menos mais um ano.»