Sporting: Rui Borges assume ser «teimoso»
Rui Borges, treinador do Sporting, foi o convidado especial do programa 'Alta Definição', da SIC, conduzido por Daniel Oliveira, e não conseguiu esconder a emoção ao falar do falecido avô, Zé Pedro. Falou da sua infância, de como é teimoso, do que não gosta e dos títulos conquistados de leão ao peito.
«Foco-me muito no essencial e no que posso controlar. Sentir e conhecer quem trabalha comigo, sou muito observador, sei ser diferente com toda a gente, se os conseguir trazer para o meu lado tudo vai correr melhor. Sou muito direto em tudo. O jogador às vezes é difícil de lidar e quanto mais simples formos, melhor. Sou assim desde que comecei. Na simplicidade é que está o grande desafio», começou por dizer.
«Ouço muito e confio muito em quem está à minha volta antes de tomar decisões. Sou bom na intuição e quando vou no racional, por vezes, há coisas que não correm tão bem [risos]. Sim, sou teimoso, quando estou com uma ideia vou com a minha até ao fim», acrescentou.
Questionado sobre o que não gosta, foi direto: «Não gosto de chuva, não gosto que cheguem atrasados, nem de fazer esperar e não gosto que me acordem de repente.»
A emoção apoderou-se de Rui Borges quando questionado sobre do que tem saudades.
«Do meu avô [Zé Pedro]. Foi a primeira pessoa que perdi. Saudades tenho do meu avô [pausa]. Significou muito, acima de tudo a maneira de ser própria, a forma tranquila de viver, sem grandes luxos, simples no seu caráter e personalidade. Foi a pessoa que mais me custou perder. Sinto a presença dele todos os dias, tenho-o tatuado no braço. Era sapateiro. Tem-me ajudado muito. Quando fomos bicampeões foi a primeira pessoa que me veio à cabeça. Deve estar orgulhoso. Claro que adoro todos os meus avós, foram muito rapidamente nos últimos anos. Mas ele marcou-me porque tínhamos uma ligação muito forte», respondeu.
Será que o avô sonhava que o neto poderia ser campeão?
«Acho que deve estar muito orgulhoso, mas não sonhava com isso. Tenho pequenas atitudes que me marcam muito. Para ele ir às compras com 80 ou 90 anos - faleceu com 98 - trazer rebuçados de mentol era uma coisa do outro mundo. Enchia-me de felicidade. As pessoas antigamente eram mais frias, sei que em alguns momentos foi frio para com os meus primos, não era tão demonstrativo do seu amor, mas tinha uma relação mais própria comigo. Para mim era muito claro. Essas pequenas demonstrações de carinho diziam muito. Era um gosto enorme ouvir as suas histórias, mesmo que ele as contasse imensas vezes», continuou.
E com lágrimas nos olhos recordou o último dia do avô: «A minha mãe disse-me 'o avô está sempre a perguntar por ti'. E eu respondi 'já passo aí em casa'. Passei lá, vi-o durante uns 20 ou 30 minutos, falei com ele um bocadinho. A minha mãe só dizia 'hoje o avô não está bem, só pergunta por ti...'. Estive com ele um bocadinho, fui para casa e, passado umas horas, a minha mãe liga-me a dizer que ele estava a passar mal. E isso marcou-me. Acho que ele não quis ir sem se despedir do neto... Só isso. Tenho muitas saudades dele. Ele estava mais triste, mas estive um bocadinho perto dele. Longe de mim pensar que era a última vez que estaria com ele. Mas marcou-me porque sinto que ele esperou por mim. Há coisas que não se explicam. Esperou por mim só para me ver, a pessoa mais importante. O meu avô tem uma presença diferente. Foi uma pessoa que trabalhou imenso, esse é o maior exemplo que posso ter, a simplicidade e humildade. Para mim é um herói. Peço muito ao meu avô Zé Pedro.»
E ainda falando da família, Rui Borges revelou que a mãe Cândida sofre muito na bancquatro meses foram uma aprendizagem para todos. Houve coisas que jamais imaginaria ouvir sobre o filho. Dúvidas sobre o caráter e personalidade do filho. Foco-me muito no que controlo, mas a minha mãe vê tudo. Ela tem de perceber aos poucos o grau de exposição a que o filho está exposto. Vão tentar em algum momento beliscar. De vez em quando ainda tenta dar alguns conselhos. Vive muito o jogo. Na bancada a minha mulher tem de dar uns safanões de vez em quando. Verbaliza mais de forma gestual. Tem sido um grande desafio acalmar a mãe.»
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