João Gião 'agarrou' os jogadores desde o primeiro 
dia e a relação de cumplicidade tem sido um ponto 
forte no trabalho desenvolvido diariamente - Foto: SPORTING CP
João Gião 'agarrou' os jogadores desde o primeiro dia e a relação de cumplicidade tem sido um ponto forte no trabalho desenvolvido diariamente - Foto: SPORTING CP

Sporting: meninos de barba (bem) rija a dar cartas em várias frentes

Equipa B lidera a Liga 2, assume presença dos leões na Youth League e frequentemente 'empresta' jogadores a Rui Borges. Plantel teve apenas três reforços: Rayan Lucas, Rômulo Júnior e Paulo Cardoso. Dúzia de jogadores chamados às seleções jovens

O surgimento das equipas B passou por vários estágios até se chegar ao real propósito. Numa fase inicial quando um jogador da formação principal ia à secundária era visto como uma despromoção ou até mesmo um castigo. No Sporting, esse premissa cedo começou a ser desmitificada, ou não estivéssemos a falar de um clube formador de referência e gabarito na Europa, tendo como cabeça de cartaz Cristiano Ronaldo.

A primeira equipa B do Sporting foi criada em 2000/2001, na sequência de uma experiência de clube satélite com o Lourinhanense, e durante quatro épocas competiu na 3.ª Divisão, primeiro em casa emprestada, no Municipal de Rio Maior, depois já em Alcochete, sendo que a descida de divisão ditou a sua extinção, tendo renascido em 2012/2013, já no segundo escalão do futebol português e durou seis anos, voltando a ser extinta pela Direção de Bruno de Carvalho com o argumento de se apostar numa nova competição, os sub-23.

Foi de novo reativada em 2021/2022, com entrada no Campeonato de Portugal, já na vigência de Frederico Varandas, e, diga-se, pegou de estaca: nessa época a equipa B garantiu ascensão à Liga 3 e a promoção à Liga 2 aconteceu na época passada, apesar do tumulto que aconteceu no comando técnico, quando João Pereira foi promovido à equipa principal, para render Ruben Amorim, que rumara ao Man. United, cabendo a Pedro Coelho, então treinador dos sub-23, assumir a equipa B, depois João Pereira voltou a orientar os bês e, por fim, foi contrato João Gião em março último. Certo é que os jogadores não perderam o foco e a chegada ao segundo escalão do futebol português foi garantida.

Mas, realce-se, sem nunca descurar o propósito desta equipa: desenvolver e integrar jovens oriundos da formação na equipa principal, proporcionando-lhes tempo de jogo competitivo numa liga que lhes permite crescer. A título de exemplo destaque-se os casos de Quenda, João Simões e até Geny Catamo, que antes de ser cedido a V. Guimarães e Marítimo teve o seu percurso na equipa B.

Regressos e caras novas

Na preparação do plantel para enfrentar a dureza da Liga 2, a administração do Sporting garantiu a contratação de três reforços que, destaque-se, são vistos como potenciais jogadores que, a curto prazo, podem chegar à equipa principal, nomeadamente o médio brasileiro Rayan Lucas, emprestado pelo Flamengo, que integrou o estágio de pré-época juntamente com o plantel às ordens de Rui Borges. Rômulo Júnior, central oriundo do Atl. Mineiro, e Paulo Cardoso, avançado cabo-verdiano que em 2024/2025 deu nas vistas ao serviço do E. Amadora, somando 14 golos em 35 jogos entre sub-19, sub-23 e equipa B, números que despertaram o interesse do clube verde e branco.

Rayan Lucas está no Sporting cedido pelo Flamengo - Foto: SPORTING CP

Foram ainda promovidos os regressos de Samuel Justo, Tanlongo, Rodrigo Ribeiro e Rafael Pontelo, que estavam cedidos a outros clubes onde tiveram possibilidade de agregar mais minutos em competição.

Média de idades das mais baixas

Concluídas sete jornadas na Liga 2, o Sporting B lidera a tabela classificativa, com 15 pontos, fruto de cinco vitórias — Torreense (1-0), UD Leiria (1-0), P. Ferreira (3-0), Portimonense (1-0) e Leixões (4-0) —, nos outros dois jogos os leões perderam, nomeadamente com Oliveirense e Marítimo, ambos por 0-1. Um registo bastante satisfatório, tendo em conta não só o propósito do projeto, já atrás mencionado, como também pelo facto de, segundo os regulamentos, a equipa B não poder subir ao escalão onde compete a formação principal.

Escalpelizando esta equipa que está a surpreender na Liga 2, diga-se que João Gião já convocou 27 jogadores, tendo utilizado, até ao momento, 24, mais concretamente dois guarda-redes, nove defesas, seis médios e ainda sete avançado, cuja média de idades é de 19,8 anos, contrastando com a média da maioria dos plantéis deste escalão competitivo, que, segundo dados apresentados pelo site especializado em transferências Transfermarkt, é de 24,8 anos.

A título de curiosidade saliente-se que os outros dois plantéis cuja média está fixada abaixo dos 20 anos são os de Benfica (18,9) e FC Porto (19,8), clubes que também competem com equipas B, ocupando lugares completamente opostos em relação aos leões, sendo que os dragões carregam a lanterna vermelha, com apenas dois pontos, e as águias surgem na penúltima posição, com quatro.

Voltando ao plantel do Sporting apontemos quem são os jogadores mais velhos: Rafael Pontelo e Kauã Oliveira, ambos com 22 anos. O primeiro, recorde-se, voltou à Academia após uma época dividida entre Chipre (Pafos FC) e Letónia (Auda). Ainda no tema da idade, registem-se os mais novos: Gabriel Silva, Rafael Camacho, Flávio Gonçalves, Salvador Blopa e Eduardo Felicíssimo, todos com 18 anos, sendo que o último, médio defensivo, já se estreou na equipa principal na época passada, somando 194 minutos em meia dúzia de jogos na Liga e 27 na Taça de Portugal.

Eduardo Felicíssimo estreou-se a titular na equipa principal do Sporting diante do Estoril, em Alvalade, num jogo em que os leões venceram por 3-1
Eduardo Felicíssimo já se estreou pela equipa principal - Foto: IMAGO

Melhores defesa e ataque

Ainda no capítulo da análise dos números da equipa B, sublinhe-se que a defesa menos batida e o ataque mais eficaz (a par de Torreense, Vizela, Portimonense e Ac. Viseu) pertencem à equipa verde e branca.

Em sete jogos foram sofridos apenas três golos — dois por Diego Calai e um por Guilherme Pires — e marcados 11, com Rodrigo Ribeiro a assinar três, seguido por Mauro Couto, Flávio Gonçalves, Rafael Nel (os três com dois), José Silva e Salvador Blopa, com um. Em relação a este último, diga-se, é visto como uma das joias da coroa, e, tal como A BOLA já deu conta, perfila-se para renovar com os leões muito em breve. O lateral, que tanto joga na direita como na esquerda, começou a jogar no Fontainhas e está no Sporting desde 2017/2018, altura em que integrou a equipa de sub-11. Passou por todos os escalões de formação, assinou contrato profissional em 2024 e olha para Geny Catamo como uma das suas referências no plantel principal.

Há ainda a sublinhar o facto de a equipa que veste a listada verde e branca ser a terceira com mais tempo útil de jogo, mais concretamente, 50,8%, atrás de Farense e Torreense, espelho daquilo que tem revelado quanto ao bom entrosamento da equipa que já levou à vitória em cinco dos sete jogos do campeonato nacional do segundo escalão.

Seleções bem atentas

Vestir de leão ao peito confere rótulo de qualidade e visibilidade aos atletas, ainda mais quando os resultados andam de mão dada com as exibições, não sendo, por isso, de estranhar que uma dúzia de jogadores da equipa B leonina tenham sido chamados a representar as respetivas seleções nas últimas duas paragens para cumprimento de datas FIFA (setembro e agora outubro).

João Muniz com a camisola dos sub-21 de Portugal - Foto: FPF

A saber: João Muniz (sub-21 Portugal), Rayhan Momade, Rodrigo Ribeiro, Mauro Couto e Manuel Mendonça (sub-20 Portugal), Eduardo Felicíssimo, Flávio Gonçalves, Salvador Blopa, Rafael Camacho e Gabriel Silva (sub-19 Portugal), Rayan Lucas (sub-20 Brasil) e David Moreira (seleção principal de Cabo Verde).

Presença internacional

À semelhança do que aconteceu na época passada, a equipa técnica da formação B, liderada por João Gião, assume a participação do Sporting na UEFA Youth League, competição jovem a nível de clubes da UEFA, sendo que a prova agrega jogadores de quatro escalões dos verdes e brancos: B, sub-23, sub-19 e sub-17.

Na presente temporada, os leõezinhos estrearam-se diante do Kairat Almaty, com uma vitória por 3-2, num jogo realizado na Cidade do Futebol, devido à instalação do novo relvado no Estádio Aurélio Pereira, na Academia de Alcochete, seguindo-se um empate, a um golo, em Nápoles. Até final do ano os verdes e brancos defrontam Marselha (em casa), Juventus (fora), Club Brugge (casa) e Bayern Munique (fora). O Sporting marcou presença na final four da prova europeia na temporada 2022/2023.

João Gião: estreia a solo está a ser um sucesso

João Gião, de 39 anos, nascido em Montemor-o-Novo, filho de um antigo treinador, Joaquim Gião, tem longo currículo, sendo de destacar passagem pelos escalões de formação de Mucifalense, Futebol Benfica, Benfica, tendo sido adjunto nas equipas técnicas das equipas seniores de Sacavenense, Pinhalnovense, Atlético, Guiné-Bissau (era o preparador físico), Melaka United, Académica, Grasshoppers, Lausanne, Paços de Ferreira e Moreirense. E foi ainda coordenador técnico da formação do Bordéus.

João Gião é treinador do Sporting B desde março último - Foto: SPORTING CP

Chegou à Academia em março deste ano, deixando a equipa técnica liderada por César Peixoto no Moreirense, estreando-se, assim, como treinador principal, fazendo-se acompanhar pelos adjuntos Pedro Figueiredo, João Peixeiro e Marco Sousa, com o treinador de guarda-redes Dário Ezequiel, o analista André Gonçalves e o preparador físico Tomás Azevedo a transitarem da anterior formação técnica.

Desde o primeiro momento de leão ao peito Gião mostrou-se integrado nas dinâmicas da Academia: «A equipa B tem como principal objectivo servir a equipa A, com os jogadores o mais possível preparados para nela se afirmarem. Depois, e logicamente, num clube como este a mentalidade passa por entrar para ganhar em todos os jogos. É essa a exigência que vamos colocar aos atletas», realçou, em declarações aos canais de comunicação do clube de Alvalade aquando da sua apresentação.

«Esta etapa surge numa linha de continuidade e com alguma naturalidade. Desenvolvi tarefas diversas em várias equipas técnicas, em contextos nacionais e internacionais. Experienciei também contexto de futebol de formação,enquanto coordenador técnico em clubes portugueses e europeus», disse, quando assumiu o cargo.

Cumpridos 15 jogos no comando da equipa secundária dos leões, João Gião, que está a frequentar o nível UEFA Pro do curso de treinador, soma 10 vitórias, dois empates e três derrotas.

No arranque desta temporada, em conferência de imprensa, João Gião mostrou-se otimista quanto ao novo desafio, competir na Liga 2, sem nunca descurar aquilo que é o propósito da equipa B leonina.

«Aproveitando o patamar de exigência, de competitividade, que será esta Liga 2, diferente daquele que tínhamos até há um ano. Fundamentalmente a nossa missão será a mesma, mas num patamar competitivo, para o qual estamos muito entusiasmados e muito expectantes para iniciar», disse.

E revelou ligação próxima a Rui Borges quanto a um fio condutor de procedimentos: «É a linha de pensamento que tínhamos da época passada. A equipa B, no fundo, é um espaço para preparar os jogadores para a equipa A, mas acreditamos que isso não está totalmente dependente do facto de o sistema ou do modelo de jogo ser exatamente igual, até porque é muito difícil espelhar uma equipa, ou seja, um plantel, seja ele a equipa A, seja ele qual for, e abaixo temos outro plantel, é muito difícil criarmos todas as dinâmicas exatamente iguais. Agora, um jogador de equipa grande, como é o Sporting, tem de perceber quais são comportamentos gerais, específicos da posição dele, para estar o mais rapidamente preparado, independente do sistema, para se adaptar a qualquer momento em função do que lhe for pedido.»

Certo é que desde o primeiro contacto que teve com o plantel, Gião criou grande empatia com os jogadores, que têm correspondido na íntegra ao grau de exigência, sendo visto como figura de referência para os jovens que, jogo a jogo, dão o seu melhor a pensar numa possível chamada à equipa A.

Em agosto, Gião foi galardoado com o prémio de treinador do mês pela Liga, tendo recolhido 24,44% dos votos, superando Ricardo Sousa (Vizela, 22,22%) e Vítor Matos (Marítimo, 17,78%). «Não posso deixar de partilhar esta distinção com todo o staff que trabalha connosco e com todos os jogadores que acreditam na ideia que passamos. É um prémio dividido por muita gente e que é valorativo. É apenas um prémio relativo a um mês e o campeonato dura 10 meses, portanto, não podemos ser bons só num mês. Temos de continuar a ser competentes nos restantes meses que faltam no campeonato», reagiu, em declarações à Liga.