Presidente do Benfica questionado sobre cláusula que liberta Mourinho no fim da época

«Sonhamos com cláusula de renovação de Mourinho: seria bom sinal para o Benfica!»

Rui Costa, recandidato à presidência do clube, revela a A BOLA plano ambicioso para o treinador e defende que a equipa fez o que tinha de fazer no clássico com o FC Porto, onde «era fundamental não perder»

— Afirmou antes do clássico que o Benfica não sairia do Dragão com sete pontos de atraso. Está aliviado ou frustrado com o empate (0-0)?

— Tenho uma bola mágica… Não saí feliz ou superfeliz, mas também não saí desiludido. Era a minha convicção, pelo jogo que tínhamos feito com o Chelsea e pelo trabalho que tenho observado. Esta equipa não teve férias, não teve pré-época, depois de iniciar a época com a Supertaça até ao dia de hoje nunca deixou de jogar de três em três dias. Na pausa que teve perdeu 18 ou 19 jogadores para as seleções. E o FC Porto fez um percurso vitorioso até aqui, ao passo que o Benfica oscilou nos últimos jogos. À distância a que poderíamos ficar do FC Porto, era fundamental, primeiro ponto, não perder. O Benfica nunca joga para não perder, joga para ganhar, mas foi inteligente a interpretar o jogo. Não deixou de procurar ganhar, mas também não deixou de preocupar-se em sair do Dragão com a desvantagem que levava e não aumentada. Mourinho disse que ninguém do Benfica sai satisfeito quando não ganha, mas, vamos ser coerentes, não saio desiludido. A equipa está a crescer.

— Há um 'timing' para a equipa começar a mostrar mais?

— Tem a ver também com vitórias e resultados, com a confiança que a equipa vai adquirindo consoante esses resultados. Depois do Chelsea, senti melhorias na equipa. Mais pronta, mais madura, os próprios jogadores ganham uma autoconfiança diferente daquela de perder em casa com o Qarabag, em que sais de campo desconfiado de ti próprio. Estes dois jogos, em campos difíceis, oferecem confiança diferente e temos um treinador que tem experiência enorme e maior facilidade a interpretar níveis de confiança e físicos da equipa. Estou muito otimista em relação à época do Benfica, que tem treinador, plantel e massa associativa.

— Há adeptos que entendem que Bruno Lage foi despedido por ter futebol conservador. Mourinho tem também, num passado recente, fama de ser demasiado conservador.

— Não tenho Mourinho como treinador conservador, tenho Mourinho como treinador inteligente, que sabe interpretar os plantéis que tem, as equipas que tem, os jogos como eles são. Tem plantel para ser equipa ofensiva, está num clube que joga para ganhar e joga de forma ofensiva. O adepto do Benfica não se contenta apenas com a vitória, obriga-nos a que sejam vitórias com futebol, com o prazer no jogo. E há uma vantagem, Mourinho é português, conhece muito bem a realidade do Benfica e sabe perfeitamente o que é que o adepto do Benfica gosta e precisa para se sentir feliz. Mourinho tem plena consciência do mundo Benfica.

— O treinador já se queixou de falta de presença na área e também já chamou a atenção para o excesso de juventude no banco. Em janeiro há que ir às compras para fazer vontades a Mourinho?

— Não se fazem vontades, a ter de fazer-se alguma coisa será para o bem do plantel. E o Benfica, no meu mandato, esteve sempre pronto para melhorar o plantel em janeiro. Lage elogiou a forma como o plantel foi construído, Mourinho, quando jogou com o Benfica, disse que o Benfica tinha grande plantel. Agora está a trabalhar com o plantel e pode achar que para o modelo dele pode faltar alguma coisa. Se assim for, estaremos cá para resolver o problema. Mas o plantel está construído de forma a cobrir todas as posições.

Se eu não ficar em outubro no Benfica, e a minha convicção é que fico, não levo o Mourinho para minha casa, para treinar comigo durante a semana. É um treinador para o Benfica e não é um treinador qualquer, é só um dos treinadores mais importantes da história moderna do futebol. Nem sequer houve muita confusão à volta disto, as pessoas perceberam que o Benfica não podia abdicar da época

— Mantém que o Sporting continua a ser beneficiado?

— Eu disse-o à luz de incidentes visíveis para toda a gente. Espero que a mensagem tenha chegado onde tinha de chegar. A única coisa que queremos é transparência clara, que os jogos possam ser decididos dentro do campo, por jogadores e treinadores, e não fora do campo. Não estou a acusar ninguém, diretamente, de estar a beneficiar ou não estar a beneficiar.

— Se não fosse o presidente do Benfica, que diria de um presidente contratar um novo treinador por dois anos a um mês das eleições?

— Agradecia-lhe. Se eu não ficar em outubro no Benfica, e a minha convicção é que fico, não levo o Mourinho para minha casa, para treinar comigo durante a semana. É um treinador para o Benfica e não é um treinador qualquer, é só um dos treinadores mais importantes da história moderna do futebol. Nem sequer houve muita confusão à volta disto, as pessoas perceberam que o Benfica não podia abdicar da época. A vida do Benfica não pára porque há eleições. Quer candidatos, quer sócios do Benfica têm de ficar felizes pelo facto de o Benfica não ter tido um gap sem treinador.

— Há cláusula que liberta Mourinho no fim do primeiro ano, mas o Benfica tem de pagar. Quer revelar quanto?

— Não é uma saída livre, não estamos a falar de um treinador qualquer. Estamos a falar de menos de metade do salário que aufere. E fiquei muito agradado pela sensibilidade dele. Não seriam muitos os treinadores que aceitariam contrato com o Benfica com eleições à porta e, sobretudo, com a disponibilidade para ‘ok, sim senhor, se depois, no final da época, houver algum problema, eu cá estou para ajudar também’. O benfiquista deve ficar feliz com a decisão do treinador. Há uma realidade com que todos sonhamos: que a cláusula não exista e que exista outra, que seja de renovação. Seria bom sinal para o Benfica e para todos nós.

— Do ponto de vista desportivo, tem meta específica para o próximo mandato? Porque assumiu recentemente que quatro títulos no que agora termina era pouco.

— Se ganhássemos quatro campeonatos e não ganhássemos as taças, continuaria a dizer que eram poucos títulos. No Benfica contentar-nos com o que quer que seja não existe. Entrei para o clube aos oito anos, levei muitas lições de treinadores, de jogadores, e nunca fiz de derrotas vitórias. Mas também não posso mandar para baixo do tapete tudo o que foi feito. O Benfica, no ano passado, esteve, a duas semanas de acabar a época, com tudo para ganhar todas as provas. Começa a temporada e ganha a Supertaça, entra na Champions. Conhecem algum clube em crise que esteja em todas as competições até ao último segundo? Não ganhar é um facto, não ser competitivo é outro. O trabalho que foi feito ao longo destes quatro anos pôs o Benfica num patamar onde está muito mais pronto para ganhar do que há quatro anos, disso não tenho a menor dúvida. E também as outras pessoas não têm dúvidas. Caso contrário, se houvesse esses problemas desportivos, se houvesse esses problemas financeiros que dizem, não havia seis candidatos à presidência do Benfica. Há quatro anos não houve ninguém, quando o Benfica, aí sim, estava mergulhado em grandes problemas. Houve apenas uma pessoa, Francisco Benitez, que foi comigo a eleições e respeito-o muito por isso. Mais ninguém apareceu. O Benfica está forte, está competitivo, sempre esteve competitivo. Faz o melhor quadriénio, em termos pontuais, na Liga dos Campeões, chega duas vezes aos quartos de final, chega uma vez aos oitavos de final já no novo formato, participa no Mundial de Clubes chegando aos oitavos de final, perdendo contra o campeão do mundo. Não ganhámos, é um facto, e sou o primeiro a falar disso. Não ganhámos, faltando muito pouco. E na Taça de Portugal, então, não faltava nada mesmo.

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