Análise de Ricardo Cerqueira, colunista A BOLA

Sinais positivos no arranque de época do FC Porto

#Minuto 92 é uma rubrica quinzenal de opinião

O mercado de transferências de jogadores encerra a 1 de setembro, sabendo-se que, até lá, ainda tudo pode acontecer. Entradas e saídas, empréstimos, vendas, aquisições, rescisões contratuais. Até ao lavar dos cestos a vindima segue e, como é sabido, o ecossistema do futebol é pródigo em colheitas de última hora.

Ainda assim, a cerca de duas semanas do término daquele que provavelmente é o período mais crítico da época desportiva, não será precipitado afirmar que o FC Porto tem aproveitado esta janela de oportunidade para ajustar e reorganizar o plantel principal com critério e assertividade, concretizando-o com a discrição e a sensibilidade que este tipo de processos impõe. Depois de uma temporada abaixo das expectativas, pelas razões sobejamente conhecidas e longamente escalpelizadas, a direção desportiva do FC Porto, com André Villas-Boas à cabeça, concentrou-se em refundar a equipa profissional de futebol e todo o enquadramento de suporte que lhe está adstrito.

Assumiu-se, sem tibiezas, a necessidade de proceder à saída de vários jogadores que, indiscutivelmente, pouco acrescentaram de positivo ao desempenho da equipa não só na época transata, mas também em épocas anteriores, sendo os casos mais evidentes os de André Franco, Otávio e Gonçalo Borges. Atletas que, independentemente da sua valia técnica individual, tardaram em assumir-se como elementos preponderantes na dinâmica de jogo das várias equipas do FC Porto em que participaram, cometendo até alguns erros que saíram, desportivamente, caros ao clube. Acabam, portanto, cedidos a outros emblemas, e por valores significativos para a tesouraria do FC Porto, sendo o caso de Otávio, que ingressou no Paris FC por uma verba a rondar os 17 milhões de euros, porventura o mais impactante.

Gonçalo Borges dará continuidade à sua carreira na Eredivisie, ao serviço do Feyenoord, a troco de 11 milhões de euros, enquanto André Franco se estreará na MLS, com a camisola do Chicago Fire. Danny Namaso acabou cedido por uma temporada aos franceses do Auxerre, Fábio Vieira regressou ao Arsenal, clube com o qual mantém um contrato de longa duração, já Ivan Jaime mudou-se para o Canadá a fim de reforçar o Montreal.

Mantêm-se pendentes de resolução definitiva os casos de Fábio Cardoso, que na época finda esteve cedido ao Al Ain, e de Marko Grujic, que não parece integrar as primeiras escolhas do novo treinador do FC Porto.

SINAL MENOS
Na entrevista que deu à TVI/CNN, Luís Filipe Vieira, de entre um rol de considerações pouco abonatórias sobre o caráter de Rui Costa, não conseguiu explicar com clareza e objetividade o que o leva, aos 76 anos de idade, almejar ser novamente presidente do Benfica. Enredado em vários processos judiciais que, porventura, poderão vir a dificultar a assunção de responsabilidades na presidência da SAD encarnada, o ex-presidente parece movido a energia de ressabiamento e ressentimento pessoal. A 25 de outubro os sócios benfiquistas tomarão a palavra.

Relativamente ainda a ajustes de saída, é possível que até ao deadline de fecho de mercado surjam mais uma ou outra novidade de forma a arrumar o plantel e dimensioná-lo às pretensões de Francesco Farioli, que, como é público, não pretende trabalhar com um grupo excessivamente preenchido.

No capítulo das entradas, merece sinal de destaque a forma cirúrgica como o FC Porto identificou e colmatou algumas carências que se foram tornando evidentes ao longo da temporada 24/25.

A performance defensiva da equipa foi sempre uma dor de cabeça, em razão de alguma confusão e indefinição tática, mas também em resultado da impreparação demonstrada individualmente por alguns atletas. A chegada de Bednarek trouxe liderança para o interior das quatro linhas — notada inclusive no jogo com o Gil Vicente, quando se dirigiu a Diogo Costa com o intuito de apaziguar os ânimos e mitigar a reação deste à decisão incompreensível do árbitro de não assinalar uma falta evidente dentro da pequena área — e trouxe também capacidade para iniciar a primeira fase de construção a partir de trás com critério e solidez. Bednarek, depois de nove anos de Premier League, onde capitaneou a equipa do Southampton, vem emergindo como uma escolha acertada para liderar a defesa do FC Porto. A entrada de Alberto Costa, no lado direito, acrescenta robustez física face a João Mário e solidez tática a defender.

No meio campo, o médio dinamarquês Froholdt promete ser uma das revelações da época que está a iniciar. Alia competência técnica, leitura de jogo, disponibilidade física acima da média e uma intensidade incomum. Um jogador que reúne todos os atributos para se tornar a curto/médio prazo numa referência do FC Porto e um caso sério na Liga Portuguesa. Gabri Veiga, que se destacou em Espanha ao serviço do Celta de Vigo, vestirá a camisola 10, assumindo-se como uma das referências do processo ofensivo da equipa. Do lado esquerdo, Borja Sainz demonstra rapidez na progressão com bola, à vontade na procura de duelos individuais, no tal um para um, e uma atitude competitiva durante todo o jogo que merece também um sublinhado. Luuk de Jong, a surpresa para o ataque, traz no currículo um registo assinalável de golos marcados, tendo sido o melhor marcador do campeonato dos Países Baixos na época 2023/2024, a que se soma o título de campeão na época 2024/25.

Francesco Farioli surge como o líder desta nova armada azul e branca. Um treinador jovem, ambicioso, técnica e taticamente bem preparado, assumindo-se como um discípulo de Roberto de Zerbi, com quem deu os primeiros passos enquanto treinador futebol. Assenta a sua ideia de jogo num 4x3x3 claro e identificável e a metodologia de comunicação é simples e desconstruída. Pelo que se percebe, o italiano não pretende reinventar a roda. A aposta passa, isso sim, em fazer rodar a bola com qualidade e precisão. Princípio elementar, que, quando bem executado, redunda, por norma, em futebol atrativo e resultados positivos.

A Liga Portugal é uma prova longa, que exige regularidade e consistência exibicional, assente num plantel que conjugue a maturidade competitiva de uns, mais experientes, com o arrojo e a irreverência de outros, mais jovens. Atributos que, ao que nos é dado a conhecer ao dia de hoje, parecem estar de regresso à composição do plantel do FC Porto.