Lionel Messi, de livre direto, faz o segundo golo do Inter Miami frente ao FC Porto, jogo da terceira e última jornada da fase de grupos do Mundial de Clubes
FC Porto somou dois empates e uma derrota, esta frente ao Inter Miami (na imagem o golo de livre de Lionel Messi), no Mundial de Clubes (Foto: Catarina Morais/Kapta+)

Um desinteresse Mundial

#Minuto 92 é o espaço de opinião quinzenal de Ricardo Gonçalves Cerqueira, jurista, gestor de empresas e sócio do FC Porto

Javier Tebas, presidente da La Liga, deu o mote: «O meu objetivo é que não haja mais mundiais de clubes. Não há datas disponíveis. Não há maneira, nem pelas datas, economia ou sustentabilidade do futebol.»

Este entendimento é subscrito pela união de sindicatos que representa os futebolistas, a FIFPRO, e pela Associação de Ligas Europeias, que, em comunicado conjunto, reafirmaram: «O calendário internacional de jogos está atualmente saturado e é insustentável para as Ligas nacionais e para a saúde dos jogadores. As decisões adotadas pela FIFA favoreceram as suas próprias competições e interesses comerciais.»

Apresentado por Gianni Infantino como a maior competição internacional de clubes alguma vez realizada, este Mundial conseguiu reunir a unanimidade da crítica do ecossistema do futebol ao ignorar a evidente saturação dos calendários competitivos e a inoportunidade de realizar o torneio num país onde o basebol, o futebol americano e o basquetebol ditam a lei do interesse por eventos desportivos. A isto somam-se os horários absolutamente desfasados para as transmissões televisivas no continente europeu (há dias, o jogo do FC Porto frente ao Al Ahly terminou às 04h00 da manhã!), jogadores física e mentalmente exauridos — alguns com mais de 55 jogos já realizados nas pernas —, treinadores de cabelos em pé face à necessidade de gerir com pinças a condição física dos atletas e o staff técnico em bolandas face ao timing apertadíssimo de que dispõe para preparar a nova época desportiva face a este interminável calendário de 2024/2025.

Sob 35 graus de temperatura e em estádios semivazios (na primeira semana de competição, a ocupação média rondou os 50 %, sendo que o jogo de estreia de Miguel Cardoso ao comando do Mamelodi Sundonws da África do Sul foi acompanhado por 3.000 espectadores num estádio com capacidade para quase 30.000), as equipas do continente europeu tentam superar as sofríveis condições com que se deparam em solo americano. Nem o estado dos relvados deixou de merecer o reparo do atual campeão europeu Luís Enrique, que afirmou que «a bola salta mais do que coelhos», referindo-se ao estado aparentemente lastimável das infraestruturas disponibilizadas para treinar e jogar.

Ao tentar fazer o pleno na geografia da representação clubística, a FIFA conseguiu até qualificar um clube amador composto por professores, barbeiros e estudantes, oriundo da Nova Zelândia para servir como uma espécie de animador de serviço a Bayern e Benfica, que o devolveram à procedência com 16 golos sofridos para contar na terra do râguebi.

Os clubes da América do Sul, em fase inicial dos respetivos campeonatos, apresentam-se com uma frescura física e uma intensidade competitiva que não pode ser exigida aos clubes que estão a terminar épocas altamente desgastantes no contexto europeu, onde se incluem as ligas nacionais, as competições UEFA e ainda os jogos disputados no âmbito das seleções. Tudo somado, os jogadores que atuam nas principais ligas europeias mantêm-se em competição ininterrupta desde praticamente julho/agosto de 2024, há um ano, portanto.

A este propósito, Real Madrid e Atl. Madrid já informaram a liga espanhola da necessidade de protelar o início do campeonato em pelo menos 3 semanas, período mínimo para que os respetivos jogadores consigam recuperar índices físicos e mentais para níveis razoáveis.

As duas equipas portuguesas apresentaram-se a competição em circunstâncias distintas, ainda que ambas longe das condições ideais.

Se o Benfica viu fugir, nas últimas semanas, a conquista do campeonato nacional e da Taça de Portugal para o rival Sporting, com todas as implicações anímicas e mentais que ambos os desaires têm na equipa e na estrutura de futebol, o FC Porto chegou para disputar o torneio depois de uma época desportiva aquém das expetativas, com níveis de confiança e de desempenho futebolístico em mínimos e uma nuvem de incerteza a pairar sobre a continuidade de Martín Anselmi. Decorridos os três encontros com prestações dececionantes da equipa azul e branca, consolidou-se a perceção de que o atual treinador do Porto dificilmente continuará a reunir condições para se manter no cargo.

Como corolário do desinteresse instalado, registe-se que os critérios de qualificação para a competição deixaram de fora os campeões de Inglaterra (Liverpool), de Espanha (Barcelona) e de Itália (Nápoles), impensável num torneio que se apresentou ao mundo como o pináculo da competição ao mais alto nível.

A generalidade das equipas teoricamente tidas por mais fortes, nomeadamente as 12 oriundas do continente europeu, estão niveladas, isso sim, pela ausência de frescura física e de energia dos seus jogadores e remetidas a um quase total desinteresse pelos respetivos adeptos, possivelmente cansados de tanto futebol.

Evidências que nem a promessa de chorudos prize-money conseguem disfarçar.

Sinal Mais: FC Porto

A equipa de hóquei em patins sagrou-se bicampeã após derrotar OC Barcelos no quarto jogo de apuramento do campeão nacional. Parabéns aos atletas, equipa técnica, staff de apoio e dirigentes.

Sinal Mais: João Almeida

O ciclista português, com uma prestação verdadeiramente de campeão, venceu de forma categórica a Volta à Suíça. Parabéns!

Sinal Mais: Fernando Pimenta

Mais duas medalhas de ouro para o canoísta português. Desta feita nos europeus de canoagem que decorreram em Racine, na Chéquia, em K1 1000 e K1 5000, provas nas quais não deu hipótese aos adversários mais diretos. Parabéns!

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