Renato Paiva, ex-treinador de Botafogo e Fortaleza
Renato Paiva, ex-treinador de Botafogo e Fortaleza - Foto: IMAGO

Renato Paiva: «Textor é um 'showman', falei com ele cinco vezes em quatro meses»

Treinador português lembra relação fria com o acionista maioritário do Botafogo e recorda saída do clube brasileiro

Renato Paiva está sem clube desde a saída do Fortaleza, mas na memória está ainda o despedimento do Botafogo, depois da eliminação do Mundial de Clubes aos pés do Palmeiras, de Abel Ferreira. A demissão surgiu poucos dias da vitória do fogão diante do campeão europeu PSG e do beijo de John Textor, acionista maioritário, ao treinador luso. 

«Durante quatro meses, conversei com esse senhor … No dia da minha entrevista para assinar o contrato, quando jogámos o primeiro jogo contra o Palmeiras no campeonato. Ligou-me antes do jogo. Depois, encontramo-nos no Mundial de Clubes em Seattle. Depois, no dia do jogo contra o PSG e no dia do jogo contra o Palmeiras. Conversei com esse senhor cinco vezes. Toda a comunicação, todas as mensagens sobre como jogar, como escolher a equipa, colocar fulano nessa posição ou sicrano naquela posição ou sobre o meu sistema tático, tudo isso foi através de mensagens dos meus dirigentes», revelou, em declarações à RMC Sport

«Esses dirigentes estavam comigo todos os dias, assistiam aos treinos e acompanhavam a preparação para os jogos. Percebiam as minhas escolhas. Era uma relação fria com John Textor. Para mim, é muito estranho que um dono de clube fale com o seu treinador apenas cinco vezes em quatro meses. Mas é assim que as coisas são e era assim que era meu relacionamento com ele. Fui despedido porque não estava a fazer certas coisas que ele queria que eu fizesse. Ele é o dono, tudo bem, mas contratou um treinador com suas próprias ideias. Tem o direito de fazer o que fez, mas não da maneira que fez. Tenho minhas ideias. Se tiver de morrer, morrerei com as minhas ideias. O que é diferente de não ouvir. Eu ouvia meus dirigentes. Mas não ia fazer coisas malucas. Era assim no Botafogo», prosseguiu, apelidando John Textor, que se decidiu afastar do Lyon, de showman

«Acho que é alguém que vive para... Para mim, é um showman. Claro que tem os seus méritos, ganhou um campeonato brasileiro e a Libertadores. Mas, na minha opinião, essas conquistas não estão relacionadas com a compreensão do futebol, mas sim com a escolha das pessoas. As pessoas dizem que ele não ouve muito os outros e eu sou o exemplo perfeito disso. Ele não sabe ouvir. Isso é um problema. Mas, obviamente, ele tem muita influência no Brasil e no Rio de Janeiro, graças ao que trouxe para o clube, algo que o Botafogo não via há muito tempo: títulos importantes», defendeu. 

«Mas também faz coisas como aparecer em público usando um chapéu de cowboy, a provocar as pessoas, a dizer antes do Mundial de Clubes que íamos jogar contra o PSG e que era uma equipa pequena… Quando fui entrevistado após a vitória contra o PSG, veio na minha direção e beijou-me. Poderia tê-lo feito no balneário. Estava a fazer um show. Pôde beijar-me ao vivo e, sete dias depois, demitir-me. Isso diz mais sobre ele do que sobre o meu trabalho», completou.