Rúben Neves marcou o penálti da vitória (Foto: IMAGO)

Quem tem o que Portugal tem é obrigado a sonhar com tudo!

Alma, competência, personalidade, capacidade de sofrimento, duas vezes a perder, duas vezes a ressuscitar e uma crença imensa, que começa no rugido do povo na bancada, se estende a alguns dos melhores jogadores do Mundo e acaba nas lágrimas de um menino chamado Cristiano Ronaldo

Obrigado! Obrigado! Obrigado! Três vezes obrigado, Seleção, por elevares outra vez tão alto o esplendor de Portugal, de novo conquistador, de novo enorme. Obrigado por Paris, em 2016, com o inesquecível Euro, aquele pontapé de Éder; obrigado pela vitória no Porto, em 2019, na edição de estreia da Liga das Nações; e, como não há duas sem três, obrigado, por fim, por Munique, onde voltaram a surgir em todo o seu brilho imenso os heróis do mar, o nobre povo, a nação valente, desta vez a impor-se à Espanha, já depois de ter deixado para trás a Alemanha, erguendo de novo aos céus um troféu, não tão valioso como o de um Europeu ou, sobretudo, de um Mundial, sim, mas que é ouro e diamante na ainda curta história triunfadora da equipa das quinas.

E como duvidar que o que aconteceu nesta noite de 8 de junho era mesmo possível? Como? Quem tem em campo um lateral-esquerdo chamado Nuno Mendes que é, e voltou a prová-lo, o melhor do Mundo na posição (e, aqui, vai já uma pergunta: pode dar-se a Bola de Ouro a um lateral, Ronaldo?); quem tem Vitinha, o melhor médio da atualidade (mesmo que só jogue a partir do intervalo), quem tem Cristiano Ronaldo, o imperador universal dos golos; ou ainda Rúben Dias, um central de eleição, de classe planetária; ou comandantes como Bernardo Silva e Bruno Fernandes; ou, por fim, Diogo Costa, que trava tudo e até grandes penalidades, quem tem este conjunto todo, então pode acreditar em tudo, pode candidatar-se a tudo, pode lançar-se em qualquer aventura que correrá o sério risco de ser bem sucedido.

A Seleção Nacional conquistou o seu terceiro torneio internacional. Sim, sublinhamos novamente que não é um Europeu ou um Mundial, mas como explicar a quem não passou décadas, um século inteiro até, sem saber o que era ganhar o maravilhoso,  intenso e apaixonante que é ver Portugal chegar a uma final e bater, apenas e só, e sem apelo nem agravo a mais temida seleção da atualidade, a Espanha de Lamine Yamal e Nico Williams, de Pedri e Fabian Ruiz, a Espanha que há dias esteve a ganhar à França por 5-1 na meia-final (acabaria por vencer por 5-4) e que, no jogo decisivo, por duas vezes se viu em vantagem e por duas vezes a perdeu, ambas por culpa de Nuno Mendes, primeiro a fazer ele próprio o 1-1 num pontapé com a alma toda e depois a servir o Senhor Ronaldo para o 2-2. E já lá vamos ao Senhor Ronaldo.

Como explicar aos mais novos o sabor que reside em levantar tão alto o esplendor de Portugal, com drama, com suor e com lágrimas, numa decisão por grandes penalidades depois de 120 minutos de um duelo em que a Seleção Nacional foi quase sempre competente e onde lutou com todas as suas forças por vencer. E como o mereceu.

E como o mereceu também Cristiano Ronaldo, ele que na tal luta geracional com Lamine Yamal até começou por roubar-lhe uma bola logo aos 4’ e que, depois de marcar na meia-final, trouxe Portugal de volta ao jogo na final ao disparar para o 2-2. E chorou. Como em 2004 (na única final que perdeu, tinha ele 19 anos), ou como em 2016 e 2019, as duas primeiras que ganhou – ele e Portugal.

Também em Munique, como em 2016, saiu mais cedo de campo, já não foi para prolongamento, nem para os penáltis. Mas saiu sob enorme ovação, aplaudido de pé, inclusive pelos adeptos espanhóis. É único. Ficou, depois, a sofrer por fora, nem quis ver as decisões dos 11 metros e chorou. Dizem que tem 40 anos. Pois, mas a paixão e o amor louco que mantém pelo jogo, essas, não têm idade.

Resta dizer que o que aconteceu esta noite em Munique se sentia há vários dias: uma aura incrível de positividade e felicidade na Seleção Nacional, uma energia e uma garra que vêm do fundo da alma, intensas a um nível que raramente se viu.

E isso sente-se no dia a dia, sente-se nas bancadas (nota máxima para o apoio incansável, de uma dimensão como também nunca se sentira) e, depois, vê-se na relva, no jogo jogado, nos duelos, sejam eles com a Dinamarca, sejam com Alemanha ou com Espanha. E o resultado está à vista: Portugal é o vencedor da Liga das Nações, foi o primeiro a conseguir o troféu, é o primeiro a consegui-lo por duas vezes, também.

Nota final: e o que dizer de Nuno Mendes? Por esta altura já alguém o revistou para ver se num dos bolsos dele ainda está Lamine Yamal? Que jogo do outro mundo! Mas esta é uma história diferente, à qual voltaremos em breve. Agora, é hora de celebrar!