Treinador do Benfica comentou substituição de Leandro Barreiro e o 'hat trick' de Vangelis Pavlidis

O 'ligeiro' exagero de Mourinho sobre choros e gritos

Desde a pré-época ninguém se 'atirou' à arbitragem como o Benfica, cujo treinador afirmou o contrário. Percebe-se a ideia, mas uma coisa é adotar uma estratégia, outra é deturpar factos

O Benfica começou a época 2025/2026 como terminara a anterior (e aí, convenhamos, com razões de facto para protesto, dados os incidentes da final da Taça de Portugal): a pressionar a arbitragem, no caso contestando a nomeação de Fábio Veríssimo para a Supertaça Cândido de Oliveira, primeiro jogo oficial da temporada.

Seguiu-se período de relativa acalmia até... adivinhem! Isso mesmo: até à chegada de José Mourinho. Desde então, utilizando como critério notícias de fontes oficiais (dirigentes, treinadores ou comunicados) citadas em A BOLA, o Benfica referiu-se mais oito vezes ao tema arbitragem, e nunca para elogiar.

Desde a pré-época vamos em nove intervenções encarnadas e uma de cada um dos dois principais rivais. Claro que há aqui margem de erro, mas a discrepância é tal que torna inacreditáveis as palavras do treinador encarnado após o Moreirense-Benfica, ao afirmar que os outros «choram, pressionam, gritam e continuam a pressionar» (nem esta parte é verdade) e que os encarnados, «com um perfil diferente», fazem-no menos. Mesmo que FC Porto e Sporting se tenham referido a temas de arbitragem mais vezes do que o detetado nesta rápida contagem, dificilmente a razão de nove para um alterará a tendência. E esta é clara: é o Benfica quem mais pressiona e contesta, utilizando palavras adequadas e sem entrar em figuras de estilo com choros e gritos.

O Benfica e José Mourinho — claramente o verdadeiro estratega da comunicação do Benfica, como soube sempre ser nos clubes pelos quais passou e quase sempre com grande sucesso — têm legitimidade para utilizar as táticas comunicacionais que entenderem. E quem está de fora tem legitimidade para criticar, já agora.

Um dos traços distintivos de Mourinho como líder é encontrar (e alimentar) facilmente um inimigo externo que agregue os impulsos internos e proteja os seus bens mais preciosos — os jogadores. Repito: é lícito, defensável, aceitável, mas também criticável, passe a insistência. O discurso pega bem junto dos adeptos mais entusiásticos, a quem a visão de fantasmas a cada esquina assenta como luva de pelica. Um pouco à imagem dos tempos sócio-políticos que vivemos.

Mas os factos falarão sempre mais alto, e tentar, em dezembro de 2025, dizer que FC Porto e Sporting pressionam mais os árbitros do que o Benfica constitui, no mínimo, um ligeiro exagero. Dispensável.