O sítio em Budapeste que vende bifanas, pastéis de nata e não tem portugueses
A cúpula da Basílica de São Estêvão, um dos principais ex-libris turísticos da cidade de Budapeste, na Hungria, é bem visível no local onde se vendem… pastéis de nata. É aqui, na pastelaria Lisboa, que se vendem produtos portugueses. Dois, na verdade, a que se pode adicionar mais um, se assim lhe quisermos chamar: o pastel de nata, a bifana e um schnitzel que, a bom rigor, era tal e qual uma sandes de panado.
À entrada do espaço há um elemento de decoração que salta à vista: na parede à direita está uma enorme imagem de um elétrico, típico de Lisboa. Produtos portugueses, decoração portuguesa, nome português. Tudo isto numa pastelaria onde ninguém é de origem lusa. Mas então de onde surge esta vontade de alguém em distribuir produtos do nosso país?
Foi isso que explicou Miklos Gotzy, gerente deste negócio, que, em seis anos, passou de dois para nove estabelecimentos. «Há uma panificadora no centro de Budapeste e, a partir daí, vendemos para quatro pastelarias e mais quatro lojas. A única ligação que temos a portugueses é se eles vierem buscar um bom pastel de nata ou uma bifana», afirmou, passando, em seguida, a explicar as origens deste espaço: «Temos dois proprietários e um deles, Zakarya Hamdan, tinha a ideia de abrir uma pastelaria em 2019, antes da COVID-19. A ideia era focar num local do sul da Europa, o conceito ficou por Portugal e o nome escolhido foi Lisboa. Penso que ele foi a Portugal várias vezes, conhece os bons sabores de Portugal e apaixonou-se por Lisboa. Quis manter essa memória e partilhá-la com toda a gente.»
O negócio está, para já, a correr bastante bem. «Só tivemos um espaço de venda [para lá da panificadora] durante muito tempo. Há dois anos, eu e um colega tivemos a tarefa de mexer com a pastelaria e abrir mais pontos de vendas. Depois, desses dois, abrimos mais três pastelarias e mais quatro panificadoras. Foi uma trabalheira e, para ser sincero, foram anos muito intensos», confessou Miklos, que também explicou que houve, no início, necessidade de ir buscar sabedoria a quem ‘vive’ com os produtos: «No primeiro ano tivemos a ajuda de um chef português, o chef Daniel Sousa.»
Um negócio, que durante a COVID-19, também sofreu. «Esteve bastante parado, fomos muito afetados. Primeiro, disseram-nos para ficarmos em casa. Não tivemos escolha. Não havia pessoas a viajar», explicou. Apesar disso, garantiu o gerente, o negócio voltou ao ativo depressa e o plano é crescer ainda mais. «A expectativa é crescer. Desenvolvemos as lojas em paralelo com as panificadoras. Aumentámos a panificadora, então precisamos de mais pontos de venda para podermos vender. Depois de termos mais pontos de venda, vamos vender mais e, por isso, vamos ter de aumentar as panificadoras», adicionou.
Seleção Nacional é boa para o negócio
Miklos Gotzy, que se descreve como um «adepto de futebol moderado», confirmou que vai ver o jogo desta terça-feira da Hungria frente à Seleção Nacional, mas apenas pela televisão. Terá o movimento português agravado com a chegada de adeptos portugueses? «Sim, sinto que os adeptos já estão cá e já estão desde sábado. Estamos a vender um pouco mais, ouvimos mais português nas ponto de vendas. Eles parecem conhecer-nos», respondeu. Portugal jogou na Puskás Arena, o mesmo recinto onde vai jogar a próxima partida, no Euro 2020, tanto frente à Hungria como contra França. «Houve mais movimento de portugueses nessa altura, mas também de húngaros, que estavam com expectativas muito elevadas», explicou.
Expectativas essas que, pelo menos para Miklos, parecem não estar tão elevadas agora: «Gostava muito que a Hungria ganhasse, mas acho que Portugal vai ganhar 3-1», afirmou o gerente das pastelarias e panificadoras Lisboa, que não se coibiu de comentar a arbitragem do empate a dois golos dos húngaros frente à República da Irlanda na primeira jornada do apuramento para o Mundial 2026: «O árbitro devia de estar a fazer outra coisa qualquer, mas não a ser árbitro…»
Costuma dizer-se que, em qualquer parte do mundo, há um português. Neste caso, ninguém originário de Portugal rumou até à Hungria, mas alguém gostou do que viu em terras lusas e decidiu partilhar com quem passa pela capital húngara. E podemos confirmar: o pastel de nata é bastante bom.