«O meu programa não terá promessas descabidas ou ilusões»: tudo o que disse Rui Costa
Rui Costa, atual presidente do Benfica e novamente candidato nas eleições do clube marcadas para 25 de outubro, arrancou esta sexta-feira com a sua campanha, em Paredes, numa ação que também integrou um jantar comemorativo do 26.º aniversário da Casa do Benfica de Paredes. Leia em baixo tudo o que disse o candidato.
«É de enaltecer tudo aquilo que as casas fazem em prol do clube, verdadeiros embaixadores do benfiquismo, daquilo que é a nossa chama imensa, espalhados por todo o Mundo. Tem sempre de ser reforçada a importância que as casas têm para o nosso clube. Agradeço também o facto de estar aqui com vocês no início da minha campanha. Como sabem priveligiei, naturalmente, enquanto presidente do Benfica, preparar as nossas equipas e o clube para aquilo que era a época desportiva, sem me preocupar demasiado com as eleições, pese embora seja candidato. É para mim um orgulho, e uma escolha, que a minha primeira apresentação enquanto candidato seja numa casa do Benfica e não numa televisão. Porque é no meio dos benfiquistas que gosto de estar, é para os benfiquistas que tenho de falar e provar que mereço continuar a ser o presidente do Benfica.»
«É com humildade que me apresento aqui e digo chegar ao fim do mandato com quatro títulos no futebol é pouco. Com humildade, reconhecer que gostaria de estar aqui a festejar muitos mais título no futebol; e numa semana também diferente. Percebo na perfeição, porque entrei para este clube com oito anos de idade, a responsabilidade que é estar à frente de um clube desta dimensão, assim como percebo a frustração dos nossos sócios e adeptos quando não ganhamos, e nunca fugirei a essas responsabilidades. É uma tristeza para mim, não o escondo, não ter conseguido mais títulos para o futebol neste período. Ninguém sofre mais com isso. Acreditem que ninguém sente mais do que eu a ausência desses títulos. Também sei que quando o futebol não ganha tudo passa ao lado e parece que está errado. Mas não.»
Uma final da Taça de que nem quero falar.
«É verdade que viemos de um ano em que, além de não ganharmos o campeonato, a frustração aumentou ainda mais pelo facto de termos chegado ao fim da época, a uma semana do final da temporada, com a possibilidade de ter ganho tudo. Vitória na Taça da Liga, uma penúltima jornada para decidir quem partia para a última em primeiro lugar, e uma final da Taça de que nem quero falar.»
Além do futebol
«Aprendi neste clube que não há vitórias morais, mas também não podemos meter para debaixo do tapete quando somos competitivos. Não temos ganho, é um facto, falta-nos carimbar o trabalho que temos desenvolvido para chegar ao fim do ano com mais títulos. Quando o futebol não ganha, aparenta estar tudo errado no clube e queria fazer um resumo, além do futebol, de que não é assim. Vamos começar pela nossa formação, sempre vista com grande carinho. Tivemos o melhor quadriénio da história do clube no que diz respeito a formação. Entre iniciados, juvenis e juniores, disputámos 12 títulos ao longo destes anos, conquistámos oito. E no último ano, o triplete inédito de termos conquistado nos iniciados, juvenis e juniores. Fomos pela primeira vez vencedores da Youth League, ganhámos a Intercontinental...»
»E para aqueles que estão um bocadinho mais distraídos, que tanto reclamam que o Benfica não gosta da formação, deixem-me dizer que ao longo destes quatro anos tivemos 31 jogadores oriundos da formação a representar a equipa principal em jogos oficiais. No futebol feminino fomos pentacampeões na última temporada e somos hoje o 12.º clube no ranking europeu e partimos bem lá detrás. Passaram para a SAD e Benfica Campus, o que há anos era impensável.»
«Nas modalidades, onde também assumo que temos de ganhar muito mais, deixem-me dizer que desde a minha entrada reforçámos substancialmente o investimento nas nossas modalidades, principalmente as nossas 10 modalidades de pavilhão, masculinas e femininas. E o facto de termos investido mais, fez parecer a muita gente que estávamos a investir brutalmente mais do que os outros, e que teríamos de ganhar o dobro dos outros, mas o investimento foi sempre equiparado em cima daquilo que investiram os outros, modalidade por modalidade. Não ganhámos aquilo que queríamos e nos satisfaz ganhar. Mas, no masculino, ganhámos nove campeonatos em 20 possíveis. No feminino ganhámos 15 em 20. Destaco ainda a conquista que tivemos no andebol, na EHF, competição europeia, e o título de voleibol feminino, conquistado ao fim de 50 anos. Destaco também tudo o que temos feito no projeto olímpico, que nos têm dado muitas alegrias. No que diz respeito ao associativismo, ultrapassámos pela primeira vez os 400 mil sócios. Não há nenhum clube que não esteja pujante que cresça desta maneira. Prometemos e cumprimos. O Benfica tem hoje novos estatutos, numa assembleia que foi a mais participada.»
As casas
«Em relação às Casas — ainda há pouco disse que são enormes embaixadores do nosso clubes —, inaugurámos as Casas 2.0 de Santarém e Covilhão, fizemos um enorme esforço de investimento na imagem das Casas, na ligação em rede ao estádio. As Casas-embaixadoras merecem todo o apoio e reconhecimento do clube e que no próximo mandato terão essa missão também.»
As infraestruturas
«Em termos de infraestruturas, fizemos alterações significativas no estádio, tornando-o numa das referência do futebol europeu. Já iniciámos o aumento da capacidade do estádio para a lotação de 70 mil lugares, para dar resposta a tantos sócios que procuram red pass. Já foi apresentado o projeto para aumentar o estádio para 80 mil lugares.»
«Criámos um novo pólo para a formação na Cidade Universitária, permitindo à nossa formação um espaço para atrair mais jovens futebolistas, para termos melhores condições na zona de Lisboa, para que os pais nos possam entregar os filhos para a prática do futebol. E apresentámos aquele que será um dos projetos-pilares do próximo mandato, o Benfica District.»
A situação financeira
«Sobre a situação financeira do clube muito se tem ouvido falar. E acreditem no que vos vou dizer. Não sou eu que digo. É a história do clube que diz. Muito se tem ouvido falar da problemática situação financeira do Benfica. Se ela estivesse problemática, não apareciam seis candidatos, meus caros amigos.»
«Fala-se da dívida líquida. É verdade que aumentou nos primeiros anos de mandato, é verdade que iniciámos o mandato saídos do Covid, que teve um grande impacto neste aumento de dívida líquida.»
«Por outro lado, tivemos, em termos estratégicos, de reformular o que considerámos melhor para o futebol. Entrámos com cerca de 90 jogadores com contrato e entendemos que essa não deveria ser a estratégia. Reduzimos, substancialmente, este número, que nos custou bastante. Essas são as principais razões para o aumento da dívida líquida, sendo que, como viram no último exercício, já está a descer.»
Jamais e em tempo algum meteria o clube em perigo ou instável financeiramente
«Jamais e em tempo algum meteria o clube em perigo ou instável financeiramente. Não sou um benfiquista de ocasião, não sou um benfiquista apenas porque sou presidente. Antes de levar na cabeça por não ganhar e por cometer erros do que por levar na cabeça ou dar na cabeça a mim próprio do que deixar o clube numa situação complicada. Jamais o farei.»
Virei presidente impreparado
«Os tempos não foram fáceis, não foram quatro anos fáceis. Foram quatro anos que modificaram a minha vida toda, mas jamais em tempo algum me poderei arrepender-me de me meter sempre à disposição deste clube. Não ganhámos muito, mas queria relembrar a todos como é que entrei como presidente, talvez no período mais controverso da nossa história.»
«É verdade que passámos por momentos maus, financeiros ou estruturais, virei presidente da manhã para a noite para não deixar o Benfica cair. Virei presidente impreparado, porque de manhã estava no Seixal a trabalhar com a equipa de futebol e ao fim do dia era presidente. E não esqueço tudo aquilo que vivi nesse período.»
«Mas não me arrependo, porque nunca me escondi, nem nunca me vou esconder à responsabilidade que é ser benfiquista.»
«Naquele período apareci eu e Francisco Benitez. E tenho todo o respeito por isso. Não apareceu mais ninguém. E era aí que o Benfica precisava de tantos candidatos à presidência. Mas muitos se esconderam. Eu não me escondi, nem nunca me vou esconder. E o facto de me recandidatar também é por isso. Gostaria que o mandato tivesse sido melhor, mas não me escondo nunca às responsabilidades de ser benfiquista, em nenhuma circunstância.»
Estarei cá forte mais do que nunca, com o mesmo amor e paixão, para melhorar
«Estarei cá forte mais do que nunca, com o mesmo amor e paixão, para melhorar o que não foi bem feito, para emendar o que for preciso e para reforçar o que foi bem feito, houve muita coisa bem feita.»
«Foram quatro anos difíceis. É normal que se demore um pouco a meter em prática aquilo que se pretende. É normal que tenha falhado em alguns casos, em que até poderia ter sido mais rápido. Não me custa admitir que quem está neste cargo, e tem a responsabilidade que tem, vai cometer erros. Esperamos que sejam os menos possíveis. Mas nada me tirou e tira o amor, a vontade e a paixão de servir este clube como sempre servi na minha vida.»
O programa eleitoral
«Estarei sempre aqui para assumir as responsabilidades e a querer o melhor para este clube. Em breve terão o meu programa eleitoral. Sem promessas descabidas, sem ilusões, com foco na estabilidade e vitórias a nível desportivo... Este ano começámos da melhor maneira a época mais atípica que conheço no futebol. Acreditem que acabar uma temporada com mais de 60 jogos nas pernas, sem férias ou tempo para pré-temporada, o que conseguimos fazer nos dois primeiros objetivos da época, ganhar a Supertaça e entrar na Liga dos Campeões, é um feito.»
«Tivemos, porém, esta semana atribulada que não nos deixa com cara muito feliz, mas que ao mesmo tempo não nos retira de nada. Dois pontos perdidos em casa para o campeonato, e uma derrota na Liga dos Campeões que não poderia ter existido. Nesta época, aquilo que tínhamos para ganhar, ganhámos; e aquilo que temos para ganhar, vamos ganhar.»
«É esta a minha convicção. Foco na estabilidade e nas vitórias das nossas equipas, na formação, onde temos que ser cada vez mais fortes; no aumento de receita para 500 milhões, que já está a ser trabalhada para que não tenhamos a necessidade, obrigação quase, de tantas trocas no plantel ao longo dos anos, de não termos de vender grandes jogadores anualmente.»
«É neste sentido que temos de trabalhar. Reduzir custos e melhorar receitas, trabalho que está a ser desenvolvido e já deu frutos este ano. Chegar aos 500 mil sócios não pode ser um sonho, mas uma realidade daqui a pouco tempo. Ultrapassámos os 400 mil este ano. Dsenvolvimento do Benfica District. Não nos dá só um estádio mais bonito, mas muito mais receita no futuro, melhores condições, orgulho diferente, mais condições para os nossos desportistas.»
Os direitos TV
«Iremos continuar a luta pelos direitos televisivos, não abdicaremos. Em relação a isto, posso adiantar que temos em mãos duas propostas que cobrem os anos de 2026 a 2028, em que acabamos o contrato que temos atualmente, e, numa era em que todos baixam os valores dos direitos televisivos, os contratos que temos já são superiores aos que temos atualmente. Entendemos não fechar nenhum deles porque ainda não estamos satisfeitos e vamos à procura de mais. E em 2028 não poderemos baixar estes valores. Pese embora o foco desportivo, a estabilidade financeira nunca ficará abalada comigo. Estarei aqui o tempo que os benfiquistas entenderem e sempre de corpo e alma.»