20 de setembro de 2000, o dia da apresentação no Benfica (Foto: A BOLA)

O dia em que nasceu o mito Mourinho

A 20 de setembro de 2000, A BOLA noticiava na sua primeira página: «Saída de Heynckes à vista». Nesse mesmo dia, ao final da tarde, Vale e Azevedo apresentou José Mourinho como novo treinador do Benfica

20 de setembro de 2000 – 20 de setembro de 2025: 25 anos. Há um quarto de século, na sala de imprensa do antigo Estádio da Luz, era apresentado como treinador do Benfica um homem que marcaria, em breve, o futebol nacional, europeu e mundial: José Mário dos Santos Mourinho Félix. Deu no que deu. Com licença de Artur Jorge, José Maria Pedroto, Jesualdo Ferreira, Jorge Jesus, Sérgio Conceição, Cândido de Oliveira, Carlos Queiroz, Fernando Vaz ou Fernando Santos, entre mais alguns, Mourinho é, a léguas, o melhor treinador português de todos os tempos.

O tiro de partida foi há 25 anos e curiosamente repete-se agora, com o técnico a voltar a assumir o comando das águias.

A capa de A BOLA do dia seguinte à apresentação de José Mourinho no Benfica

A 20 de setembro de 2000, A BOLA noticiava na sua primeira página: «Saída de Heynckes à vista». Acrescentava ainda: «Toni encontrou-se com Vale e Azevedo e José Capristano nos escritórios do presidente do clube e considerou a reunião inconclusiva». Nas páginas interiores, escrevia-se: «O técnico alemão ainda orientará o treino de hoje, mas muito provavelmente já não estará no Bessa».

Assim foi. Nesse mesmo dia, pelas 10h30, Heynckes despediu-se dos jogadores e, pouco depois, em conferência de imprensa, falou da saída: «Penso que é o melhor para as duas partes». Ao final da tarde, Vale e Azevedo apresentou José Mourinho como novo treinador do Benfica. A escolha esteve longe de ser consensual e muitos adeptos questionavam, na Luz, a capacidade do técnico para resolver os problemas da equipa.

As primeiras declarações de José Mourinho como treinador do Benfica

«Não quero que entendam isto como palavras de circunstância, mas a verdade é que estou muito orgulhoso e, em vez de agradecer a confiança das pessoas que legitimamente me escolheram, prefiro trabalhar todos os dias com profissionalismo máximo», explicou.

Agitação entre os adeptos pela escolha de Mourinho
Estreia no Benfica
A 23 de setembro, no Bessa, derrota por 0-1 (golo de Duda) frente ao Boavista de Jaime Pacheco, que no final da época se sagraria campeão nacional. Eis o primeiro onze de Mourinho no Benfica: Enke; Dudic, Paulo Madeira, Ronaldo e Rojas; Fernando Meira e Maniche; Carlitos, Poborsky e Sabry; Van Hooijdonk.
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E acrescentou: «Estou em Portugal desde a pré-temporada, tenho observado todas as equipas e o que posso dizer, dos jogos que já vi do Benfica — umas vezes jogando mal, outras bem, umas perdendo, outras ganhando — é que estes jogadores merecem o meu respeito e são grandes profissionais. As inscrições estão encerradas, mas mesmo que estivessem abertas não iria pedir mais jogadores. Esta equipa merece o carinho dos adeptos».

No dia seguinte, 21 de setembro, Mourinho orientou o primeiro treino e trouxe uma novidade: todos os jogadores usaram caneleiras e muitos optaram por pitons de alumínio, algo que até então não era habitual. Um sinal dos novos métodos que o técnico pretendia implementar.

Vinte e quatro horas depois, na conferência de imprensa de antevisão ao jogo com o Boavista, Mourinho mostrou logo o estilo que marcaria os 25 anos seguintes: «Quem tem medo fica em casa. Quem não sente potencial psicológico para isto passa toda a sua vida em clubes de menor dimensão. Quem se sente com confiança para estas guerras — entre aspas, que para mim o futebol nunca é guerra — esfrega as mãos. Gostamos de responsabilidades, os jogadores também. Senti alegria e motivação da parte dos futebolistas. Estou encantado por jogar já amanhã. Preferia fazê-lo mais tarde para ter mais tempo de trabalho, como outros treinadores que tiveram sete ou oito semanas. Mas o facto de jogar já amanhã é aliciante. Vou dormir esta noite como um passarinho».

A 23 de setembro, no Bessa, derrota por 0-1 frente ao Boavista de Jaime Pacheco, que no final da época se sagraria campeão nacional. O primeiro onze foi: Enke; Dudic, Paulo Madeira, Ronaldo e Rojas; Fernando Meira e Maniche; Carlitos, Poborsky e Sabry; Van Hooijdonk. Mourinho analisou assim a partida: «Para uma equipa com índices de confiança bastante baixos, sofrer um golo nos primeiros minutos é uma contrariedade enorme. Faltou confiança. Queria que a equipa ganhasse estabilidade nos primeiros quinze minutos e só depois arriscasse, mas com o golo sofrido cedo, os jogadores caíram num jogo de emoção em vez de um jogo pensado. Acredito na chicotada metodológica, não na psicológica».

Primeiro onze
No Boavista-Benfica de setembro de 2000, Mourinho escolheu estes para entrar no Bessa: Enke; Dudic, Paulo Madeira, Ronaldo e Rojas; Fernando Meira e Maniche; Carlitos, Poborsky e Sabry; Van Hooijdonk.

A 28 de setembro, na Luz, empate a uma bola frente ao Halmstads e eliminação da Taça UEFA. Na análise, Mourinho foi direto: «Se algo houve que não me agradou, os jogadores foram os primeiros a saber e não vou ter contemplações. Vou para a guerra sem medo com aqueles em quem tenho cem por cento de confiança, com jogadores que, senão vencedores, são pelo menos lutadores. Temos de ter caráter, e quem não o tiver não me dá segurança para seguir em frente».

No Benfica, Mourinho orientou 11 jogos: seis vitórias (1-0 ao Belenenses, 2-0 ao Campomaiorense, 2-1 ao Farense, 4-0 ao Guimarães, 1-0 ao Vitória de Guimarães e 3-0 ao Sporting), três empates (2-2 com Halmstads e SC Braga, 0-0 com Paços de Ferreira) e duas derrotas (0-1 com o Boavista e 0-3 com o Marítimo).

Adeus ao Benfica
«A Direção do Benfica considerou inaceitável a pressão de Mourinho para que fossem renovados o seu contrato e o de Carlos Mozer [seu adjunto] por mais uma época»

A 6 de dezembro, três dias depois da vitória sobre o Sporting, A BOLA dava a notícia: «A Direção do Benfica considerou inaceitável a pressão de Mourinho para que fossem renovados o seu contrato e o de Carlos Mozer [seu adjunto] por mais uma época. Disse que não e isso foi para o treinador uma prova de falta de confiança. Assim, Mourinho decidiu acertar a rescisão de imediato e despediu-se dos jogadores».

Saiu do Benfica e esteve quase no Sporting

A BOLA acrescentava ainda: «Inácio foi despedido e Mourinho tem acordo com o Sporting». Não voltaria ao Sporting, onde tinha sido adjunto de Bobby Robson. Parou meio ano, desceu dois degraus e assinou pela UD Leiria. Depois vieram FC Porto, Chelsea, Inter, Real Madrid, novo regresso ao Chelsea, Manchester United, Tottenham, Roma e Fenerbahçe.

No currículo, 25 anos mais tarde, nada menos que 26 troféus: duas Ligas portuguesas, uma Taça de Portugal, uma Supertaça Cândido de Oliveira, uma Taça UEFA, uma Liga Europa, duas Ligas dos Campeões, três Ligas inglesas, uma Taça de Inglaterra, quatro Taças da Liga inglesa, duas Supertaças inglesas, duas Ligas italianas, uma Taça de Itália, uma Supertaça italiana, uma Liga espanhola, uma Taça de Espanha, uma Supertaça de Espanha e uma Liga Conferência.

Mourinho: «Fartei-me!»