Carlos Vicens começa a ser muito contestado pelos adeptos do SC Braga
Carlos Vicens leva cinco jogos consecutivos sem vencer na Liga — Foto: IMAGO

O copo meio vazio

'Ecos da Pedreira' é o espaço de opinião de Diogo Costa, médico interno de Psiquiatria e associado do SC Braga

A metáfora do copo não é nova, mas é um ótimo recurso para analisar a época do SC Braga até ao momento.

O arranque, em meados do longínquo mês de junho, foi auspicioso. A apresentação do novo treinador e as primeiras sensações foram positivas. Objetivamente, foi elaborado um plano de pré-temporada com um conjunto de adversários de nível atipicamente elevado, concluído com um pleno de vitórias.

Seguiram-se os primeiros desafios europeus, nos quais, ainda que com a hesitação natural associada ao início oficial das competições, foram cumpridos os objetivos e foi ganhando forma uma ideia de jogo. Durante esse período, a equipa inaugurou o campeonato com duas goleadas seguidas e foram crescendo as opções ao dispor do treinador, com alta rotatividade e contribuições positivas de todos os elementos. A pouco e pouco o copo parecia encher e as gentes de Braga animavam-se.

Eis que surgiram dois empates consecutivos no campeonato, que abanaram a mesa e entornaram ligeiramente o copo. Apesar dos desaires, foi notória a superioridade bracarense em ambos os jogos, algo que poderia servir de alento. Chegada a pausa FIFA, era tempo de repousar e apontar baterias para um regresso à Liga que se pretendia revigorado. Pela frente surgiu um confiante Gil Vicente, que, de forma justa (e com alguma sorte à mistura), venceu na Pedreira e reforçou a ideia de que o copo estaria mesmo a esvaziar. Ganharam forma as manifestações de desagrado com o trabalho desenvolvido por Carlos Vicens e, contribuindo para o dramatismo deste cenário, seguiu-se um dérbi minhoto.

Ciente da importância deste jogo, o treinador planeou-o de forma impositiva. A primeira parte deixou claros sinais de mudança, com uma atitude competitiva pouco usual e várias oportunidades de golo criadas, traduzidas apenas num fortuito empate ao intervalo. Por sua vez, a segunda metade foi pouco dinâmica, mitigando-se o impacto gerado até então. O copo parecia não mexer, até que foi invocado o Braga europeu. Recebendo o atual líder da Eredivisie, Feyenoord, apenas uma tremenda capacidade de superação poderia garantir uma exibição positiva como a que se verificou.

Além de uma viagem tática no tempo, com o regresso a um esquema similar ao do início da temporada, os jogadores mostraram uma entrega e compromisso assinaláveis. Coesos, concentrados e com grande espírito de entreajuda, arrancaram a UEFA Europa League com três valiosos pontos. As sensações de uma noite à Braga fizeram com que a Legião olhasse para o copo com a perceção de que este estaria a encher novamente.

Já na Liga, a receção ao Nacional seria o tira-teimas. Mantendo o sistema, no papel, a equipa apanhou-se a perder desde muito cedo e não mais foi capaz de criar ocasiões que alterassem o resultado, seguindo-se um sem número de ajustes, que pouco, ou nada, acrescentaram. Contas feitas, são já cinco jogos consecutivos sem vencer na Liga — é preciso recuar até 2019/2020 para encontrar um registo semelhante — e nove pontos somados, de 21 possíveis.

Nesta fase, são mais os pontos desperdiçados do que conquistados. E o copo, lentamente, volta a esvaziar. Intensifica-se o descontentamento com o rendimento e a pressão em cima de jogadores e equipa técnica atinge proporções pouco simpáticas, quando se seguem dois desafios de elevado grau de dificuldade.

O próximo texto será publicado durante nova pausa FIFA e não é fácil antever as condições em que será escrito, mas fica a sensação de que muito dependerá da capacidade de reação coletiva em Glasgow e em Alvalade. Que o copo não esvazie de forma definitiva.