Não basta ganhar. É preciso sentir
O Sporting vive um dos momentos mais importantes da sua história recente. Depois de mais de 70 anos, podemos alcançar um feito que só aconteceu duas vezes na nossa história: o tricampeonato nacional de futebol. Seria uma prova irrefutável da superioridade leonina e o reforço da nossa posição de supremacia entre os grandes do futebol português.
Mas para que tudo isto se concretize, não bastará o talento dentro de campo. É preciso olhar para fora das quatro linhas e perceber que um clube só é verdadeiramente forte quando os seus sócios se sentem parte dele. Nos últimos tempos, muitos sentem-se afastados, pouco ouvidos, até desmotivados, e isso não pode acontecer. Nenhum título se conquista sem a alma de quem veste a camisola nas bancadas e acredita todos os dias. Claro que nas vitórias, em qualquer clube, é fácil sentir o entusiasmo, a adesão, o orgulho. Mas o verdadeiro teste não se faz quando tudo corre bem: é quando a bola deixa de entrar. Quando acontecer, se nessa altura os sócios não se sentirem respeitados, ouvidos e parte integrante do clube, a frustração será ainda maior.
Durante anos em que não conquistámos um único campeonato, os sportinguistas nunca deixaram de estar presentes. Somos um clube diferente precisamente por isso: pelo amor incondicional que nos une. Mas esse amor precisa de ser cultivado, alimentado, cuidado todos os dias. Só assim continuaremos a ter a força que sempre nos distinguiu. Porque os sócios são, e têm de continuar a ser, o maior património do Sporting Clube de Portugal. O Sporting é hoje um clube respeitado, mas também um clube a abater. Muitos vão querer travar-nos na caminhada para o tri. Por isso, precisamos de estar juntos, de cuidar da nossa gente, de tratar bem os sportinguistas. Só assim poderemos continuar a escrever esta história de glória.
Cuidar dos sócios faz-se com gestos concretos, com respeito e com escuta. E, infelizmente, há sinais de que essa ligação não tem sido cuidada.
As assembleias gerais, por exemplo, transformaram-se num verdadeiro McDrive leonino: os sócios entram, votam e saem, sem promoção do espaço para o diálogo, sem tempo para a reflexão, sem que se cultive o espírito associativo que sempre foi o coração do Sporting. E fica o alerta: é nas vitórias que não nos podemos distrair, pois foi assim que, no passado, nos lesaram o património. É mais fácil aprovar sem questionar; é mais fácil passar cheques em branco.
Um clube que ambiciona estar entre os maiores da Europa tem de se comportar como tal. Isso significa ter um site moderno e funcional, um sistema de compra de bilhetes simples e transparente, e um departamento de apoio ao sócio verdadeiramente disponível, capaz de responder, ouvir e resolver, não apenas de encaminhar. Estar perto, estar presente. Muitos Núcleos por esse País e Mundo fora sentem-se esquecidos.
E quando a comunicação falha, como aconteceu recentemente com a distribuição dos lugares no novo estádio, a desilusão é inevitável. Houve falta de clareza, falhas no processo e sócios que, após anos de fidelidade, viram-se sem o seu lugar. Vendem-nos sonhos americanos de Platina e Diamond, quando para nós sempre bastou a camisola e o cachecol.
A remodelação do estádio foi positiva em muitos aspetos, mas trouxe consigo uma nova realidade. A história e a antiguidade deram lugar ao cliente, e o que antes era uma casa cheia de emoção começa a parecer um anfiteatro de consumidores. É um modelo de gestão, é uma opção. Mas será este o caminho certo? Quando o espetáculo não agradar e a bola não entrar, sairão todos aos 70 minutos. E aí, o que restará?
O Sporting devia estar hoje numa onda de crescimento e mobilização única, mas não está. E isso deve fazer-nos pensar.
As dúvidas em torno de Rui Borges, treinador que nos conduziu à histórica dobradinha, são sintomáticas. Alterar um sistema tático tão enraizado não é tarefa fácil, e os últimos dois mercados de transferências deixaram a sua marca, com a cereja no topo do bolo em torno da novela Gyokeres que permitiu uma distribuição de medalhas para o melhor ator. Em alguns aspetos, fica a ideia de algumas lacunas nas contratações e de que o planeamento não esteve à altura do que o momento exigia, com, por exemplo, reforços a não chegarem e outros a chegarem tarde.
Por outro lado, há algo que tem de ficar, de uma vez por todas, absolutamente claro: o Sporting Clube de Portugal é um grande clube, um dos maiores da Europa. Não é um clube de passagem. Esta convicção tem de estar enraizada em quem lidera o clube e ser cultivada em todos: dos adeptos aos dirigentes, e, sobretudo, em quem chega de fora. É inaceitável que um jogador vista esta camisola com a ideia de que está apenas a cumprir uma etapa antes de partir para outro destino. Quem vem para o Sporting tem de compreender o privilégio e a responsabilidade que isso representa. Aqui não se vem apenas jogar futebol, vem-se fazer parte de uma história, de uma identidade, de uma causa que ultrapassa o campo e o tempo. O Sporting não é um trampolim; é um símbolo, e quem o representa deve fazê-lo com orgulho e compromisso.
Como sempre digo: é por Amor. Quem, como eu, vive o clube diariamente, vai ao estádio e ao pavilhão percebe o que digo. A racionalidade é muito importante, mas nada pior do que famílias onde o amor e a emoção são desprezados. Fica, em muitos aspetos, a ideia de que se prefere o culto ao invés de um bem comum, onde as críticas construtivas devem ser bem-vindas, pois, no fim do dia, todos queremos o mesmo: um Sporting cada vez mais forte e melhor. É tempo de unir realmente, acrescentar ADN Sporting ao clube e à formação, criar condições para todos os sócios consigam entrar no site, no estádio e no pavilhão, devolvendo emoção a esta enorme família. Abrir o clube para todos!
O Sporting sempre foi conhecido pelos seus adeptos fervorosos e fiéis. É por isso que sempre nos chamaram os melhores adeptos do Mundo. Estamos em todo o lado, nas vitórias e nas derrotas. As gerações que hoje vivem os títulos foram criadas com esta cultura, de geração em geração, com um apoio incondicional em qualquer estádio a defender o nosso grande Amor. O grande património do Sporting Clube de Portugal é e sempre será os seus sócios e adeptos. Nunca se esqueçam!