Roberto Martínez fala sobre melhorar a resiliência, dando como exemplo o jogo na Hungria, em que Portugal esteve a perder

Mourinho, os sinais de Diogo Jota, o assalto e o gosto de jogar em Alvalade: tudo o que disse Martínez

Portugal jogo com a Irlanda e a Hungria e pode garantir apuramento para o Mundial em casa

João Cancelo está lesionado e é baixa na Seleção Nacional e em sentido inverso Matheus Nunes regressa aos convocados de Martínez para os dois jogos de qualificação. O selecionador nacional explica a razão que o levou a chamar o médio do Manchester City e justificou ainda as ausências para os dois jogos no Estádio José Alvalade.

Matheus Nunes é novidade na convocatória. O que pode dar à equipa e qual a razão para a ausência do Alberto Costa?

O Matheus Nunes já trabalhou connosco, conhece bem os conceitos e está num momento de forma muito bom. Tem uma polivalência muito grande e isso torna-se importante. Temos Diogo Dalot e Nélson Semedo, mas era importante ter alguém para lateral direito e médio. Estava num grupo de jogadores que acompanhamos, como o Alberto Costa, o André Silva, o Paulinho, o Félix Correia, o Tiago Santos - temos muitos jogadores.  Contamos com todos, fazem parte da nossa preparação. Outros não tiveram um bom início de época, como Samu ou Fábio Silva. E ainda há os que estão no sub-21. Rodrigo Mora, Quenda, Mateus Fernandes, que fez um estágio espetacular.

Qual o motivo para que os dois jogos sejam no Estádio José Alvalade?

Importante é jogar em Portugal, jogar em casa, utilizar a força dos nossos adeptos. Temos memória do apuramento da Liga das Nações, adoro jogar em Alvalade, foi o meu primeiro jogo, mas a decisão é da FPF. Estamos com oportunidade de trabalhar em Lisboa e Alvalade é sempre uma casa muito importante para a seleção.

Qual o sentimento de poder garantir o apuramento já nestes dois jogos?

Este apuramento tem 6 jogos, não há margem para erro, precisamos de dar continuidade aos resultados que obtivemos. O foco é total para tentar ganhar os dois jogos perante os nossos adeptos. A nota deste estágio é de focar com a Irlanda e com a Hungria. O importante é continuar com aquilo que já fizemos em setembro, onde vi o grupo muito controlado e foi incrível ver o espírito deste grupo. Estamos a acrescentar em todos os estágios. Eu diria que os estágios de junho e setembro são um exemplo dos valores da equipa, da resiliência e de tudo aquilo que uma equipa precisa para ganhar. Então, o foco é agora e é a Irlanda. Acho que a Irlanda teve um estágio mau e esperamos uma Irlanda difícil. Já conhecemos a Hungria, que fica muito bem equilibrada, com um aspeto competitivo muito forte. Então, a ideia é focarmo-nos nos jogos de agora e não vou cometer o erro de olhar para a frente.

Quenda e Mora ficaram de fora… Ao continuar a não os convocar não está a hipotecar a possibilidade de contar com eles no Mundial?

Não. O primeiro objetivo era acrescentar ao grupo e fizemos isso pois utilizámos 32 jogadores durante a Liga das Nações. O objetivo era acrescentar ao grupo, utilizámos 32 jogadores na Liga das Nações e agora temos a oportunidade de continuar com o trabalho de formação. Esses jogadores não ficam de fora. Têm de utilizar o palco dos Sub-21 para entrar na Seleção A, aconteceu com outros jogadores. A primeira vez que vi o João Neves, o Chico Conceição, o Renato Veiga, o Nuno Tavares, o Pedro Neto foi no palco dos Sub-21 e o que eles fizeram lá. Olhando para trás, o estágio de setembro foi um sucesso para Quenda, Mateus Fernandes e Mora pois responderam muito bem à responsabilidade e mostraram o que podem trazer à Seleção. Mas, temos uma Seleção muito competitiva, de muita qualidade e o processo é muito claro.

José Mourinho tem dito que esperava regressar a Portugal pela porta da Seleção. Como é que também olha para toda esta situação?

Para mim isso não é uma questão. Eu acho que o mister Mourinho é uma mais-valia para o futebol português. Em três épocas nunca falei das situações internas dos clubes portugueses. Não vou falar agora disso. Não posso falar do mister Mourinho porque já nos defrontámos várias vezes, mas agora estamos no mesmo lado da barricada. Ou seja, estamos aqui trabalhando para o desenvolvimento do futebol português. Estamos com o mesmo objetivo. Para mim, o barulho é de fora, para vocês. Para mim, o foco é hoje, o presente. Na Seleção chegamos a trabalhar com o presente e o passado. Tivemos 12 vitórias viórias consecutivas de fases de apuramento, conseguimos o que nunca foi feito e o que queremos fazer é conquistar a vitória 13 e vitória 14. Para mim o foco é o presente e não o futuro. Já estou há anos suficientes no futebol para saber que para mim não é uma questão falar do futuro. O foco é que o meu compromisso com o total e o objetivo é lutar e continuar com vitórias.

Depois do roubo em sua casa, como está?

Primeiro dizer que está tudo bem. Estamos todos bem e agora está tudo nas mãos da polícia e está tudo nas instituições. Estamos muito tranquilos, mas agradeço todas as mostras de apoio. As mensagens foram muitas.

Portugal já consegue reagir a situação de estar a perder e consegue dar a volta. É uma vitória que conseguiu na Seleção?

Desde os primeiros 10 jogos no apuramento para o Europeu, nós percebemos que precisávamos de melhorar a resiliência, de sofrer um golo e continuar com as mesmas ideias. Continuar a acreditar no mesmo, e jogar olhos nos olhos com todas as seleções do mundo. Agora estamos a fazer isso. E o outro era ter mais de 10 jogadores no campo para ganhar o jogo. A competitividade no balneário precisava de melhorar e agora, iá acrescentámos isso ao grupo. No estágio anterior tivemos quatro jogadores lesionados e ninguém falou disso. Continuámos a falar dos jogadores que podiam ajudar. Não é a qualidade individual, que nós já percebemos que temos jogadores nos melhores balneários do futebol europeu e mundial. É mais o aspeto de criar uma equipa, que tenha resiliência e valores e depois mais competitividade dentro do balneário. Esses são dois pontos muito importantes. Ir à Hungria e sofrer dois golos, normalmente não dá para ganhar. Então, nós mostramos muito no último estágio onde é que estamos e o que precisamos de fazer.

Convoca 25 jogadores porque tem alguma preocupação com algum jogador em termos físicos?

Acho que é importante ter mais de 23 jogadores, porque todos os jogadores estão medicamente aptos, mas há algum jogador que precisamos de trabalhar o aspeto físico. Temos dois jogos em casa, gostava de ter o maior número de jogadores possíveis para os jogos contra a Irlanda.

É um dos oradores do Portugal Football Summit. É importante para o desenvolvimento, e para o crescimento do futebol nacional, este tipo de iniciativas?

 O Summit é uma semana interessante do ponto de vista esportivo, mas também do debate de ideias. Acho que a nossa federação é uma referência mundial, um exemplo e uma inspiração para muitas instituições do futebol. E o Summit é um espaço muito rico para a partilha de ideias, de conhecimento e experiências para todos nós. Então, é uma semana muito interessante e é um convite para todos poderem utilizar o Summit ao máximo.

Não tem Cancelo, no futuro o Leonardo Lelo pode entrar nestas escolas?

Gostamos muito do Lelo e faz parte desse grupo de jogadores que estamos a acompanhar. O que é importante para nós é trabalhar com o grupo dentro do balneário e também acompanhar os jogadores fora do balneário para poder acrescentar tudo aquilo que somos como seleção. Ontem vimos o Ricardo Horta, o Lelo, são jogadores que sempre ficam perto da seleção. É importante utilizar o que nós temos em Portugal, que é uma quantidade enorme de jogadores importantes.

Os jogadores com mais assistências na Liga são o Alberto Costa, que tem 5, o Leonardo Lelo tem 4, Dinis Pinto também. Nenhum deles foi convocado e há apenas um lateral-esquerdo esquerdino, convocado. Esta opção de adaptar jogadores como João Neves e Matheus Nunes às alas, não está de certa forma a hipotecar as hipóteses de outros laterais chegarem à Seleção?

Hipotecar é uma palavra muito forte, é o contrário. Se olhar para a primeira convocatória, em março de 2023, e a convocatória de agora, há muitos jogadores. O que estamos a fazer é um processo muito profissional, de muita responsabilidade, acompanhando todos os jogadores. Quando um jogador tem um bom jogo ou uma situação pontual, nós normalmente estamos à frente, já acompanhamos o jogador. A responsabilidade do selecionador é criar uma equipa competitiva para ganhar os jogos e depois abrir a porta e valorizar todo o talento que nós temos. Mas, estamos a falar de números de jogadores, o que é muito bom para uma equipa que está a ganhar e não mostra problemas no resultado. É importante criar competitividade e que seja difícil entrar, porque os jogadores que estão, merecem estar. Mas, olhando aos jogadores que já entram nas últimas três épocas, acho que o número é elevado.

E os guarda-redes: não há alternativas para a baliza para além do Diego Costa, do José Sá e do Rui Silva?

Há alternativas. Lembra-se qual foi o primeiro guarda-redes em março de 2023? Rui Patrício. Então não são sempre os mesmos. Nós acompanhamos os guarda-redes e temos muito bons guarda-redes. Agora, a situação temos, com o José Sá, Rui Silva e Diogo Costa, é muito boa. A qualidade durante o treino, a qualidade do estágio foi muito boa durante a Liga das Nações. Agora estamos num momento de continuidade. Acompanhamos todos os guarda-redes. O Ricardo Velho tem um bom desafio na Turquia e também temos bons guarda-redes jovens que têm opções agora na Liga portuguesa, mas é difícil tirar os jogadores que estão na Seleção. Mas, a porta está sempre aberta.

Na convocatória disse que são 25 mais um. Como vai ser o regresso a jogar em casa desde que perdemos o Diogo Jota?

Eu acredito muito em sinais e quando tivemos o estágio de setembro o primeiro golo foi marcado no minuto 21. E depois na Hungria sofremos golo no minuto 21. Então, o sinal.. o Diogo está connosco, está presente e faz parte daquilo que nós construímos para ganhar a Liga das Nações. O sonho dele era ganhar o Mundial e temos a responsabilidade de dar tudo pelo sonho dele, que também é o nosso.