João Moutinho e Bruno Fernandes num treino da Seleção em 2021 (MIGUEL NUNES)

João Moutinho: a maçã reluzente

Que une José Torres, João Moutinho e Bruno Fernandes? Uma data: 8 de setembro. E o talento para jogarem futebol

Dizem que esta segunda-feira, 8 de setembro, se comemora o Dia da Alfabetização. Para mim, porém, é o Dia dos Médios. Embora também pudesse ser o Dia dos Avançados, dado que o enormíssimo José Augusto da Costa Sénica Torres, o Bom Gigante do Benfica, V. Setúbal, Estoril e Seleção Nacional, um dos dois portugueses presentes em fases finais de Mundiais como jogador e treinador (o outro é Paulo Bento), completaria esta segunda-feira 87 anos. Num tempo em que não havia Ronaldos ou Messis a marcarem golos à pazada, José Torres apontou quase 250 entre clubes e Seleção. Craque.

Regressemos ao meu Dia dos Médios. Há exatos 39 anos, 8 de setembro de 1986, com a Seleção Nacional na ressaca do atribuladíssimo Campeonato do Mundo de 1986, nascia, no Barreiro, João Filipe Iria Santos Moutinho. Pertence ao grupo de médios portugueses baixinhos e de altíssima rotação como, antes deles, Octávio Machado, Vítor Martins e João Alves e agora Vitinha e João Neves. Todos talentosos. Moutinho ganhou dois campeonatos portugueses e um francês, três Taças de Portugal, cinco Supertaças Cândido de Oliveira, uma Taça da Liga, uma Liga Europa, um Europeu de sub-17 e, acima de tudo, um Campeonato da Europa e uma Liga das Nações. Todos dos portistas tem um pedacinho de Moutinho a flutuar, eternamente, nos seus corações. Os sportinguistas, porém, veem em Moutinho, há mais de 15 anos, apenas um fruto podre, como sugeriu o então presidente dos leões, José Eduardo Bettencourt: a famosa maçã podre. Moutinho é muito mais do que isso. Aliás, nem sequer é maçã podre. É uma das mais frescas, ricas em vitaminas, minerais, fibras e antioxidantes que o futebol conheceu na sua história. João Filipe Iria Santos Moutinho chega hoje aos 39. É da mesma têmpera de Ronaldo e Pepe.

O meu Dia dos Médios ficaria algo pobre se contasse apenas com João Moutinho. E não conta. Oito anos depois do atual médio do SC Braga ter nascido, vinha ao mundo, na Maia, Bruno Miguel Borges Fernandes. A 8 de setembro de 1994. Completa hoje 31 anos. Entre Novara, Udinese, Sampdoria, Sporting, Manchester United e Seleção Nacional, marcou nada menos de 205 golos. Não é baixinho como Octávio Machado, Vítor Martins, João Alves, Vitinha ou João Neves, nem gigante como José Torres. É um dos futebolistas portugueses mais marcantes do pós-Euro 2016, ao lado de Bernardo Silva, Rúben Dias ou João Cancelo. Pena que, ao contrário dos cinco médios baixinhos atrás citados, nunca tenha sido campeão nacional. De Itália, Portugal ou Inglaterra. Para isso, pelo andar da carriage, terá de mudar de clube. Ou então, por hoje ser Dia da Alfabetização, ligar a João Moutinho e pedir-lhe que lhe ensine o aeiou para sair do Sporting e encontrar um clube onde possa, por fim, ser campeão. Não está fácil. Nem com Rúben Amorim o Man. United encontra o caminho.