Francisco Salgado Zenha, vice-presidente do Sporting, ao lados dos CFO do Benfica e FC Porto - Foto: Summit
Francisco Salgado Zenha, vice-presidente do Sporting, ao lados dos CFO do Benfica e FC Porto - Foto: Summit

Vice-presidente do Sporting pega em exemplo do Benfica para falar das dificuldades portuguesas

Francisco Salgado Zenha esteve ao lado dos CFO de Benfica e FC Porto, Nuno Catarino e José Pedro Pereira da Costa, respetivamente, no Portugal Football Summit

Francisco Salgado Zenha, vice-presidente do Sporting, esteve no Portugal Football Summit acompanhado por Nuno Catarino, CFO do Benfica, e José Pedro Pereira da Costa, CFO do FC Porto, esta sexta-feira, e revelou que o mercado de verão foi muito complicado, apesar de Frederico Varandas ter ficado bastante satisfeito no final do mesmo.

«Se calhar é muito óbvio, já está a acontecer, mas quero ressalvar isto: se forem ver o que aconteceu neste mercado de verão, foi muito difícil contratar jogadores. Estivemos a resistir para vender e tivemos dificuldades em contratar. É um sinal de que o mercado europeu e os clubes lá fora já estão a entrar nesse patamar em que não precisam de vender também. Então a contratação vai tornar-se cada vez mais difícil. A situação financeira dos clubes europeus está cada vez mais robusta. Ou nós em Portugal caminhamos nessa linha de robustez, ou vamos ter mais dificuldade em acompanhar os nossos concorrentes lá fora», começou por dizer, passando para a questão da centralização dos direitos televisivos.

«Temos de pensar na centralização de direitos e fazê-la de forma eficiente. Temos de pensar que quando a fizermos, sim, solidariedade, mas cuidado, porque se baixarmos todos os nível e os três grandes baixarem o nível, não vamos ganhar pontos nas competições europeias, não vamos estar lá e estaremos na Conference League. Teremos muito cuidado para neste bolo fazer uma distribuição eficiente. Associado a este bolo, o controlo financeiro. É absolutamente crítico para dar credibilidade lá para fora», garantiu, defendendo ainda o Benfica e dando o exemplo de Di María com o Programa Regressar.

«Vou dar um caso específico, relacionado com o Benfica, que foi o caso do Di María, que teve acesso ao Programa Regressar. É um caso claro e temos de falar para fora: parece que o futebol é um setor que faz mal a alguém e quando não faz é o contrário, é um setor diversão... as pessoas dizem muito 'três grandes pagaram centenas de milhões em jogadores', mas quanto é que paga uma indústria de calçado para comprar matéria-prima? Também tem de comprar. Esta é a nossa matéria-prima e isso não significa que sejamos ricos, somos vendedores líquidos. E isto é verdade também para o tema dos custos, da carga fiscal e da forma como se trata o futebol. O caso do Di María, pôs-se um limite ao Programa Regressar, mas qual é o mal? O jogador de futebol pode tirar partido disso, mas está cá 365 dias por ano, tem filhos na escola, tem uma casa, está a consumir aqui. Não vem aqui e depois vai embora para ter a residência. É isso que queremos e não vemos mal que isso seja feito para o futebol. Sempre que haja um incentivo fiscal genérico e que arranja positivamente o futebol, arranja-se logo uma forma de tirar o futebol da equação e acho muito injusto», justificou.

«Lutamos de forma desigual contra outros países»

José Pedro Pereira da Costa comparou Portugal com outros países relativamente ao futebol, a nível financeiro e fiscal. «Pensamos que é possível fazer mais e melhor no sentido de monetizar melhor o nome do FC Porto fora de Portugal e o Mundial de Clubes deu-nos uma primeira amostra, com um crescimento incrível nas redes sociais. As áreas core continuam a ser as mais relevantes na gestão de um clube de futebol: receitas da UEFA, direitos de TV, comerciais e vendas de jogadores. Estamos muito dependentes disso. Nas duas primeiras temos duas ameaças: a primeira é não conseguir chegar ao 6.º lugar do ranking. Pelas minhas contas, são 50 milhões de euros de diferença. Dos 600 milhões de receitas do futebol português, 32% vêm da UEFA. É fundamental a ambição de voltarmos ao sexto lugar e colocar três equipas na Champions. Não é um desafio fácil. Se não pontuarmos mais do que a Bélgica, vamos manter o 7.º lugar. Para conseguirmos a 6.ª posição no ranking é fundamental que a segunda linha de clubes que participam nas competições europeias tenham mais sucesso. Em 5 edições da Liga Conferência só uma vez apurámos equipas [Vitória de Guimarães, na época passada]», lembrou.

«Sobre os direitos de TV, o mercado é diferente do que era em 2015/16. Noutras ligas está em decréscimo, em Portugal estamos com este processo de centralização e as perspetivas são positivas. O FC Porto está a participar de forma construtiva, a procurar maximizar a receita. A redistribuição destes valores tem de ter em conta a manutenção da capacidade competitiva das equipas que participam nas provas europeias e contribuem com receitas para o futebol português. Os direitos de TV representam 20% e tal das receitas totais dos clubes. Se essas componentes começam a decrescer é um problema. Reduzimos em 30 milhões de euros os nossos custos de 23/24 para 24/25. Os clubes portugueses têm custos de contexto que os fazem lutar e forma desigual, como fiscalidade. Nos salários de jogadores, mais de 50 por cento é impostos e Segurança Social. Não quero sistemas de IRS diferentes para jogadores de futebol, mas era bom alinharmo-nos com a média europeia. Somos o país da Europa com maior taxa de IRS e com o IVA dos bilhetes e seguros de acidentes de trabalho mais altos da Europa», explicou.

Nuno Catarino: «Jogadores vão ser sempre mais caros no futuro»

Já Nuno Catarino destacou a formação do Benfica, e não só. «Desenvolver talento tem de estar no nosso ADN. Quando olhamos para as cinco maiores ligas, a academia que mais jogadores formou foi a do Benfica. Somos uma universidade que produz jogadores para o mundo. Desenvolvemos o plano de chegar aos 500 milhões de receita, que nos posicionaria entre a 10.ª e a 20.ª posição na Europa, sendo que hoje estamos entre o 20.º e o 30.º lugares. Para isso é essencial também o investimento no estádio. O Benfica investiu 50 milhões nos últimos 5 anos, em painéis, som, lugares sentados, renovações. E podemos fazer muito mais», atirou.

«Este ano estamos a crescer nas vendas online de merchandising, há potencial para crescer receitas e dependermos menos da venda de jogadores. Tem de ser o desafio. Jogadores vão ser sempre mais caros no futuro. É um produto premium. Noutras indústrias de entretenimento, temos inflação de 9 por cento ao ano. O talento é cada vez mais caro. O negócio vai precisar de mais investimento no futuro. Temos de crescer muito mais rápido do que os outros clubes», acrescentou.