A seleção de Marrocos, avaliada em 435 milhões de euros, é a mais valiosa da CAN 2025
A seleção de Marrocos, avaliada em 435 milhões de euros, é a mais valiosa da CAN 2025 - Foto: IMAGO

CAN 2025: valor económico vs rendimento em campo

Acácio Santos, antigo adjunto da seleção da Nigéria, analisa em A BOLA a Taça das Nações Africanas (CAN)

Os números do mercado ajudam a contextualizar a CAN, mas raramente explicam o que acontece dentro do campo. Os dados do Transfermarkt mostram diferenças enormes no valor económico das seleções ainda em competição — e é precisamente aí que o futebol africano desmonta leituras simplistas.

Marrocos lidera a hierarquia económica com um valor global a rondar os 435 milhões de euros, seguido de perto pelo Senegal (405 M€), Costa do Marfim (370 M€) e Nigéria (281 M€). No papel, este quarteto confirma o estatuto de favorito. No campo, essa condição só se valida quando o coletivo acompanha o talento individual.

Mais abaixo surgem realidades distintas. O Egipto, avaliado em cerca de 136 M€, mantém-se competitivo graças à sua organização, experiência e inteligência de jogo. A República Democrática do Congo, com aproximadamente 133 M€, continua a provar que clareza tática e compromisso coletivo conseguem equilibrar diferenças financeiras relevantes.

O contraste torna-se ainda mais evidente quando olhamos para seleções como a África do Sul (44 M€), Angola (52 M€) ou Tunísia (69 M€), equipas cujo rendimento em campo supera claramente o valor económico atribuído pelo mercado. Do outro lado, seleções como Botsuana (3 M€), Tanzânia (6,7 M€) ou Uganda (8,3 M€) competem com limitações claras, mas sustentadas em organização e dignidade competitiva — valores que não entram em avaliações financeiras.

Em maio de 2023, quando em Dallas iniciámos o primeiro estágio com a Seleção Nacional da Nigéria e tivemos o primeiro contacto com os jogadores, tive uma percepção muito clara: o valor económico individual é determinado pelo contexto e pela sociedade. Os jogadores são, antes de tudo, humanos que fazem aquilo que mais gostam e para o qual estão naturalmente preparados.

Lembro-me da primeira palestra. À minha frente estava um grupo cujo valor global rondava os 400 milhões de euros. Victor Osimhen, avaliado na altura em cerca de 120 milhões, era apenas um miúdo-homem com um coração gigante e uma vontade imensa de vencer. Esse valor não existe isoladamente — é o coletivo que o constrói.

O valor económico ajuda, cria margem e oferece soluções. Mas não ganha jogos sozinho. Na CAN, o mercado não entra em campo. Entram homens, decisões e identidade. É aí que o rendimento real se separa do valor económico.