Martim Costa: «Somos mais do que uma equipa, somos uma família»
Alguma vez lhe passou pela cabeça praticar outra modalidade tendo em conta o contexto familiar?
— Não… Quer dizer eu joguei outros desportos antes do andebol. O meu pai já era jogador de andebol, estava em Espanha e comecei a jogar basquetebol na altura. Depois ainda fiz capoeira, porque na altura, no colégio onde estávamos, só podíamos jogar andebol a partir do terceiro ano.
— E gostava?
— Gostava muito do basquetebol. Ainda hoje. Mas, claro, sempre tive uma ligação muito próxima com o andebol, sempre fui aos pavilhões. Portanto, dificilmente me via a fazer outro desporto
— E lembra-se de ver o pai jogar?
— Sim, principalmente em Espanha. Em Portugal, ainda era muito novinho. Mas lembro-me muito bem, em Espanha. E depois quando ele voltou, ainda esteve mais uma época como treinador e jogador, mas era diferente.
— Que imagem tem dele como jogador?
— Aquela que muitas pessoas me contam , que ele era um atleta super competitivo, que se pegava muitas vezes com com os adversários [risos]. Um bocado à imagem do que é como treinador: super competitivo, resiliente, que nos exige bastante. Acho que como jogador sempre foi muito exigente com ele e com e com os companheiros de equipa. Portanto, é muito parecido como jogador e como treinador.
— Crescendo com um pai e uma mãe internacionais de andebol, sentia essa pressão?
— Não e os meus pais nunca me meteram essa pressão também.
— Não me referia à pressão da deles, mas de ser o filho do Ricardo Costa...
— Não. Nem pensava muito nisso, sinceramente. E os meus pais tiveram um papel muito importante nesse aspeto, nunca me exigiram que fosse jogador de andebol. O que diziam era: ‘Se queres fazer alguma coisa, dedica-te a 100% ’. A única coisa em que eram exigentes comigo era na escola, para tirar boas notas e ser bom aluno. No andebol a única parte dessa exigência era para fazer bem, para me dedicar a 100% , mas nunca me puseram a pressão de ser jogador de andebol. Nem nos jogos. Às vezes, há muitos pais que estão na bancada a falar e eles nunca fizeram isso. Eles tiveram um papel muito importante no meu crescimento, nesse aspeto, nunca meteram pressão a mim ou ao meu irmão.
— Agora já não são os filhos do Ricardo Costa, ele é que é o pai d o Martim e do Kiko…
— Exatamente [risos]. Agora já é ele que tem mais pressão [risos]. Gostei sempre de jogar andebol, sempre foi divertido ir para dentro do campo, nunca foi uma pressão ou me senti desconfortável dentro de campo.
— Disse uma vez que o que o seu pai dizia que tinha de ser divertido.
— Exatamente. O principal para as crianças quando estão a jogar, a começarno desporto, é divertirem-se a fazer aquilo. Sem pressão extra que tem de ser jogador, ou que todos os filhos são o Cristiano Ronaldo! Ninguém vai ser... O Cristiano Ronaldo só há um. Portanto, desfrutem primeiro do desporto. E foi isso que o meu pai e a minha mãe me incutiram: desfrutar primeiro e depois se quiser viver disso, aplicar-me.
— E em que momento percebeu que, de facto, podia ser profissional?
— Acho que no momento em que fui para o FC Porto, nos seniores. Bom, nos juniores, no último ano de Colégio dos Carvalhos já sentia que era um bocado diferente dos outros atletas da minha idade. Mas foi importante depois quando fui para o FC Gaia, quando comecei a jogar nos seniores, comecei a perceber que podia viver do andebol e fazer carreira. Acredito que foi mais nessa fase, com 16, 17 anos comecei a perceber que era bom jogador e que podia ter algum futuro. Mas, mesmo sabendo isso, tinha de continuar a trabalhar, porque há muitos casos de atletas que começam com essa idade, são bons e depois acabam por não conseguir fazer carreira e afirmar-se.
— O facto de jogar com atletas mais velhos também ajudou a crescer? Hoje, olhamos para o Martim e o Kiko, com 23 e 19 anos, e parece que andam aqui há tanto tempo! Essa maturidade vem daí?
— Sim, acho que tanto eu como o meu irmão, desde muito novinhos no Colégio dos Carvalhos, jogávamos escalões acima. Lembro-me que era infantil e jogava já nos juvenis. O Kiko era mini e já jogava nos iniciados. Quando chegamos aos seniores isso ajudou-nos. O Kiko, por exemplo, com 16 anos já jogava nesse patamar. E sem dúvida que termos esses anos todos a jogar com malta mais velha, fez-nos evoluir fisicamente, se calhar, mais do que outros os atletas da nossa idade. Ah, e ajuda-nos a ganhar outra maturidade a jogar. Jogar com pessoas mais velhas ao longo destes anos tem-me ajudado bastante a crescer tanto fisicamente como a nível individual no andebol.
— E nunca trouxe dissabores?
— No início, talvez. Se calhar era um bocado mais difícil. Lembro-me que quando era infantil e ia jogar com os mais velhos e gostava era de marcar golos. Até fiz bons jogos, mas lembro-me que custava, mesmo nos treinos, era diferente porque fisicamente era uma diferença bastante grande. Com os anos fui ganhando essa maturidade, e foi-se tornando cada vez mais fácil, mais fácil, até que chegamos aqui [risos].
O Núcleo Sporting CP do Seixal entrega a Martim Costa o prémio de Atleta do Ano 👏 #AndebolSCP pic.twitter.com/wI9JHjKNtt
— Sporting CP - Modalidades (@SCPModalidades) November 23, 2025
— E essa mudança foi difícil?
— Vir para o Sporting?
— Sim.
— Para mim até não foi.
— Deixaram os amigos longe, um cidade nova
— Sim, sim. Mas, felizmente, conseguimos manter o contacto, ainda continuam a ser meus amigos. Acredito que foi mais difícil para a minha mãe do que para mim, para o meu pai e para o meu irmão, porque a minha mãe largou tudo, a atividade profissional que tinha no Porto, para nos acompanhar. Mal chegamos cá, percebemos logo que era um clube espetacular, que tinha grandes condições. E para o que nós gostamos de fazer, para mim, para o meu pai, para o meu irmão, acho que não há melhor sítio aqui em Portugal para o fazer. Portanto, para nós foi uma decisão fácil. Obviamente que temos sempre saudades da nossa família, dos nossos amigos. Mas felizmente também estamos a duas horas do Porto. Portanto, acho que foi uma decisão super acertada e não muito difícil, sinceramente.
— O que é mais o surpreendeu quando chegou ao Sporting?
— Nada...
— Nada?
— Ah, nada [risos] porque já sabia que era um clube especial, muito grande. Os primeiros tempos foram mais complicados, porque eu e o meu irmão ainda eramos novinhos, e para mim foi pior o primeiro ano porque estava a recuperar da lesão. Mas todas as pessoas que trabalhavam no Sporting foram espetaculares, acolheram-nos muito bem e as instalações são espetaculares, então não digo que me surpreendeu porque tinhamos noção da dimensão, mas foi muito agradável chegar aqui e receber o apoio de muita gente. Eu estava ainda lesionado quando cá cheguei e deram-me um apoio extraordinário para recuperar e poder regressar bem. Fiquei muito contente com receber esse carinho e apoio.
— Nessa altura, provavelmente nem nos melhores sonhos, imaginaram criar um grupo e dominar o andebol nestes últimos anos?
— Sim, os primeiros dois anos foram complicados, mas acho que nessa altura já se conseguia perceber que este grupo tinha uma margem de progressão muito grande. E ficamos muito perto de conseguir ser campeões nacionais nesses dois primeiros anos! Porém, com a margem de progressão que tínhamos, sabíamos que estavamos cada vez mais perto de o conseguir. E a verdade é que no terceiro ano conseguimos. A equipa estava mais crescida, estávamos mais maduros. E sentiamos que era uma questão de tempo até conseguirmos ser campeões nacionais. Mas, digo sempre, o difícil não é ganhar, o difícil é mantermo-nos no topo e sermos consistentes. E acho que este grupo tem crescido muito nesse aspeto e estamos cada vez com mais vontade de ganhar, mais vontade de ganhar títulos para o Sporting. Temos crescido bastante e ainda continuamos a ter essa margem de progressão grande, podemos crescer ainda mais, se calhar, em termos de competições europeias. É esse o patamar que queremos atingir, tentar chegar à final four da Liga dos Campeões. Sabemos que as dificuldades são enormes, mas acho que é para aí que temos de olhar, se queremos continuar a crescer.
— E como tem corrido este ano?
— Bem. Internamente está a correr muito bem. Mas, mesmo nas competições europeias, sabíamos que não ia ser tão fácil como o ano passado. E não é que tenha sido fácil termos chegado aos quartos de final na última época, mas o grupo deste temporada é um bocadinho mais complicado.
— Também já vos conhecem melhor?
— Já nos conhecem melhor, sim. Contudo acho que estamos a fazer uma campanha espetacular, estamos em quarto lugar! A Liga dos Campeões começa nos play offs, não é agora na fase de grupos. Obviamente que é importante conseguirmos uma boa classificação, mas, no ano passado, das quatro equipas que passaram, três ficaram em quinto ou sexto lugar. O Magdeburgo ficou em sexto lugar no grupo e foi campeão europeu!
— Portanto, é intocável esse objetivo de chegar à final four?
— Sem dúvida, sem dúvida! O objetivo é chegarmos vivos! Uma equipa saudável, com atletas todos disponíveis, sem lesões. É chegar a essa fase bem, e depois aí tudo pode acontecer. E estamos prontos.
— Além da qualidade indiscutível, visto de fora parecem ser um grupo muito unido, que se diverte quando estão juntos a jogar. Essa imagem corresponde à realidade?
— Sim, sim [risos].
— E isso faz a diferença?
— Acredito que sim. Dentro de campo é muito importante termos uma boa conexão. Já estamos juntos há muito tempo. Mudamos só duas ou três jogadores a cada época passada e acredito que a ligação que temos fora de campo - e temos uma relação muito boa - também ajuda. Somos mais do que uma equipa, somos genuinamente uma família, damo-nos todos muito bem e acredito que isso se transfira para dentro de campo, não tenho dúvidas.
— Não se cansa de ver cara do seu irmão? Em casa, no treino, no jogo ?
— Sim, sim [risos]. De vez em quando chateia-me um bocado a cabeça, nos treinos, mas... não. Tenho uma relação espetacular com ele. E é um prazer jogar com ele, pelo jogador que é, pelo companheiro de equipa que é. É um privilégio poder treinar com ele.
— Apostam quem é que vai marcar mais golos?
— Não, não costumamos fazer isso. Só nos treinos é que às vezes pegamo-nos... porque eu muitas vezes estou a defender e ele está-me a atacar, ou ao contrário, e às vezes pegamo-nos um bocadinho.
— Mas só para animar.
— Sim, só para animar. Às vezes passa um bocadinho a sério, mas depois acalmam-nos logo [risos].
— Quando saem do jogo vão para casa juntos? E depois em casa, mais andebol?
— Às vezes não é fácil... A minha mãe é que tem de ouvir-nos, mas às vezes, a minha mãe também nos ‘lixa’ um bocado a cabeça
— E pode, porque também percebe do assunto.
— Pois claro! Mas tentamos evitar um bocado falar de andebol em casa. O que é difícil... [risos] Tentamos evitar mas acabamos quase sempre a falar. Mas, principalmente quando perdemos, tentar abstrair-nos um bocado do andebol...
—Vai cada um sozinho para casa?
— Sim, muitas vezes... A maior parte dos jogos eu pego no meu carro... o Kiko também... e o meu pai também. Principalmente quando as coisas correm mal. Felizmente, tem sido poucas vezes que tem corrido mal! Quando corre mal tentamos não falar muito disso nesse dia. É que no dia a seguir já vamos ter treino, vamos ter vídeo e o mister já nos vai ‘lixar’ a cabeça, se for preciso [risos]. Já chega no pavilhão, não é preciso também em casa.
— Nunca se enganou e o chamou pai?
— Não, acho que não. Já estive com ele dois anos no FC Gaia, mais quatro épocas no Sporting e não me lembro de o chamar pai
— E como lhe chama?
— Mister, mas poucas vezes [risos]. Tento chamá-lo sem dizer nomes, só com o olhar ou um sinal [risos]. Começo a olhar para ele, a ver se ele olha para mim... [risos]. Mas pai nunca o chamei. Tento comunicar com ele de outras maneiras e tem corrido bem. Entendemo-nos dessa maneira.
— Uma vez disse que quando entra em campo se apaga tudo, só pensa no jogo. É assim, não ouve nada das bancadas, por exemplo?
— É um bocado de mim... Começo o jogo e foco-me naquilo que tenho para fazer. O meu objetivo é chegar dentro de campo e pensar naquilo que tenho para fazer e abstrair-me de tudo o resto. Não tenho nenhuma tática para isso, simplesmente faço com que aconteça.
— E, por exemplo, quando está na Seleção e vai jogar com a Dinamarca, pensa em quem vai encontrar pela frente? Muda alguma coisa?
— Quando se vai jogar uns quartos de final de um Mundial ou uma meia-final, acho que sente-se um nervosismo extra, e que é normal. Mas depois começa o jogo e passa, faço o melhor que sei, e vamos tentar ganhar o jogo! Mas os jogos não são todos iguais. Há, por exemplo, jogos do campeonato em que se calhar que estamos menos motivados.
— Sente mais pressão a jogar, por exemplo, com o FC Gaia, uma equipa que não lute pelos mesmos objetivos que o Sporting, ou quando está na Seleçãoe precisa de ganhar para seguir em frente?
— São jogos diferentes, a pressão não é igual, mas o nível de concentração para um jogo com o FC Gaia tem até de ser muito maior! Porque se vamos jogar com a Dinamarca, na meia-final, não precisamos de motivação nenhuma extra, porque vamos fazer o jogo de uma vida, jogar umas meias-finais de um Campeonato do Mundo... Exige muito mais concentração e muito mais de nós um jogo para o campeonato em que sabemos que temos de ganhar, que temos de fazer bem as coisas... Exige muito mais concentração da nossa parte. Há muito mais exigência mental nesses jogos do que num jogo do Europeu, do Mundial ou Champions. Toda a gente quer jogar esses jogos.
— Esse jogo com a Dinamarca foi o mais importante? Ou com a França?
— O mais importante até foi com a Alemanha, nos quartos de final. Marcou a diferença de chegar a umas meias-finais de um Campeonato do Mundo... Foi histórico. O jogo com a Dinamarca foi um jogo muito mais complicado. Podíamos ter feito mais... Mas é o que é, a Dinamarca é uma grande seleção, a melhor se calhar. No jogo com a França jogamos bastante bem, taco a taco contra uma das melhores seleções do mundo e a verdade é que falhámos um remate, no último segundo (!), que nos levava a prolongamento. Foi um Mundial incrível! E agora temos um Campeonato da Europa à porta e queremos repetir ou, se calhar, até fazer melhor do que aquilo que fizemos no Mundial!
THEY'VE DONE IT! 🇵🇹👏 On the buzzer of the extra-time Martim Costa scores the winner 🔥 Portugal knock-out Germany and book their place in the World Championship semi-finals!
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— Ficaram surpreendidos com o quarto lugar do Mundial?
— Se nos dissessem, no início, que íamos chegar às meias-finais, obviamente, seria uma surpresa. Mas, com o decorrer da competição e com os resultados que fomos fazendo, jogo a jogo, chegamos ao fim e percebemos que não foi surpresa nenhuma. Sabíamos da nossa qualidade, sabíamos que podíamos competir contra os melhores e provámo-lo. Por isso, acho que a classificação no Mundial não foi surpresa para nós, nem pode ser surpresa agora, no Europeu, tentar fazer igual ou melhor. Porque temos nível e qualidade para isso. Sabemos que vai ser provavelmente ainda mais difícil do que o Mundial. Mas tem de ser um objetivo na nossa cabeça. Chegar o mais longe possível, cientes das dificuldades que vamos encontrar, até porque teremos um cruzamento super complicado contra as melhores seleções se passarmos. Mas temos tudo para conseguir fazer melhor.
— Diria que os portugueses podem continuar a sonhar que vão tentar chegar ao quarto lugar ou à discussão da medalha?
— Vamos sim, vamos tentar. Podem contar connosco, para fazer de tudo para conseguir chegar às meias-finais, à final, ganhar o Campeonato da Europa! Podem contar connosco para ser a mesma Seleção de sempre: lutadora, a fazer tudo por tudo para ganhar todos os jogos. Sabendo que vamos enfrentar as melhores seleções do Mundo, repito. A começar com a Dinamarca e depois, se passarmos, nos cruzamentos jogaremos com França, Alemanha, Espanha... Sabemos que vão ser jogos extremamente complicados, mas estamos cá para isso.
— Já não tem medo de ninguém?
— Não. Essa palavra não pode entrar na nossa cabeça, não temos de ter medo de ninguém. Se calhar, eles é que têm de ter medo de nós, nós não podemos ter medo deles. Sabemos a qualidade que temos.
— Sente que já têm esse estatuto?
— Sim, acredito que sim, que as outras seleções olham para nós e já não pensam que vai ser tão fácil como achavam que ia ser há uns anos. Acredito que agora tenham mais respeito por Portugal e percebam que Portugal tem uma enorme Seleção. Mas nós também temos esse respeito pelas outras seleções, sabemos da qualidade dos adversários e respeitamo-los. Mas sabemos do nosso valor também.
— Sente que, individualmente, porque os ‘irmãos Costa’ já são famosos, que têm esse reconhecimento internacional?
🇵🇹 Martim Costa no topo da pirâmide em ano de estreia ✨
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🔒Aos 21 anos o lateral assinou, há cinco dias, 11 golos contra a Chéquia e bateu o 𝗿𝗲𝗰𝗼𝗿𝗱𝗲 𝗱𝗲 𝗴𝗼𝗹𝗼𝘀 𝗺𝗮𝗿𝗰𝗮𝗱𝗼𝘀 𝗽𝗼𝗿 𝘂𝗺 𝗷𝗼𝗴𝗮𝗱𝗼𝗿 𝗽𝗼𝗿𝘁𝘂𝗴𝘂𝗲̂𝘀 𝗻𝘂𝗺 𝘀𝗼́ 𝗷𝗼𝗴𝗼, em Europeus. pic.twitter.com/icurukKEU0
— Acredito que sim, mas também têm de estar atentos ao resto da Seleção, porque temos muito bons jogadores e nós os dois sozinhos não conseguimos ganhar jogos. O Rui [Silva] também é uma figura principal da nossa Seleção, super importante, os pivôs, o Frade, o Iturriza, são atletas de topo, os nossos pontas, os guarda-redes... Somos uma Seleção muito completa e ninguém ganha jogos sozinho.
— Mas são os vossos nomes que têm andado na 'baila', ultimamente. Primeiro o Kiko apontado ao Barcelona e agora o Martim também… Esse sorriso quer dizer alguma coisa?
— Não [risos]. Nem pensamos nisso, sinceramente. Acho que nem faz sentido na nossa cabeça estarmos a ligar a coisas das redes sociais. Claro que é bonito ver as pessoas a falarem bem de nós e o nosso estar ligado a esses clubes. Mas não... Não pensamos nisso. Estamos focados apenas no Sporting e na Seleção.
— No Sporting, o que quer ganhar este ano?
— Tudo. Eu quero ganhar tudo, em Portugal, e tentar chegar à final four, tentar chegar o mais longe possível na Liga dos Campeões, tentar fazer melhor do que o ano passado. É extremamente complicado, o grupo é complicado e os cruzamentos seguintes também. Mas tudo começa nos play offs, e queremos chegar bem a essa fase e depois tentar chegar à final four. E, claro, estando lá pensar em ganhar [sorri]. Mas tudo a seu tempo. É ir passando e ir sonhando cada vez mais alto.
𝑁𝑜 𝑏𝑎𝑙𝑙 𝑖𝑠 𝑎 𝑙𝑜𝑠𝑡 𝑏𝑎𝑙𝑙 👀
— Federação de Andebol de Portugal (@AndebolPortugal) November 27, 2025
✨ Martim Costa#andebolportugal #portuguesesnaeuropa #ehfcl pic.twitter.com/S2ORotAlPU
— E o Martim fora do andebol, quem é? O que gosta de fazer?
— Gosto muito de jogar computador, PlayStation.
Describe Martim Costa’s performance with one emoji: ______ 👇 #ehfel #elm #allin @SCPModalidades pic.twitter.com/Qdp0aKFaog
— EHF European League (@ehfel_official) February 22, 2024
— E não é andebol?
— Não, não é andebol [risos]. Aqui em Lisboa também não tenho muita gente para estar, portanto estou mais em casa, tentar recuperar...
— A ajudar a mãe nas atividades domésticas…
— Também, exatamente. Arrumar a mesa, arrumar o quarto [risos].
— E gosta de ver outros desportos?
— Gosto. Adoro ver futebol, tento ver outros jogos também de andebol de outros campeonatos, do campeonato alemão... Ah, tudo o que é desporto. Mesmo padel, ontem estávamos a ver a final do padel. E adoro jogar computador.
— E desporto feminino também?
— Sim. Estiva a ver a final do Campeonato do Mundo de andebol feminino.
— Quem cresce com uma bola de andebol nas mãos, filho de dois jogadores que referência tem da modalidade? Além do pai, claro!
— Além do meu pai, o meu jogador favorito era o [Nikola]Karabatic. Era para ele que olhava. Quando era mais novo, via vídeos dele no YouTube e tentava imitar, fazer os exercícios nos treinos. Tirando, obviamente, o Cristiano Ronaldo, que é um símbolo do desporto português, do desporto mundial. Também é um atleta que para quem olhei muito. Mas no andebol, foi o Karabatic [internacional francês, várias vezes melhor eleito melhor jogador do Mundo]. Cresci a vê-lo fazer coisas incríveis e a tentar fazer as coisas que ele fazia.
Epic Nikola Karabatic moments 👑🇫🇷#bestofhandball #GERDEN2019 @FRAHandball pic.twitter.com/MjvRMuvPp1
— International Handball Federation (@ihfhandball) September 17, 2023
— E isso não é fácil.
— Não é fácil, nada fácil! E nem me considero muito parecido com ele dentro de campo, porque ele era uma máquina a defender e a atacar, eu não sou propriamente um grande defensor. Mas é um atleta que admirava muito.
— E fora do andebol, noutras modalidades?
— Cristiano Ronaldo, sempre. No basquetebol também, gosto muito de ver o LeBron, o Kobe Bryant, pela mentalidade, pela maneira como estava no desporto.
— Hoje fala-se muito de saúde mental.Quão importante é esse equilíbrio quando se está, por exemplo, numa Seleção Nacional a discutir medalhas ou a tentar chegar à 'final four' de uma Liga dos Campeões?
🚨🎙️ Kylian Mbappé :
— TCR. (@TeamCRonaldo) December 20, 2025
"Cristiano Ronaldo is the Best Player in the History of Real Madrid. I wanted to dedicate my celebration to my idol." pic.twitter.com/lgmOR5v4wS
— Muito, sem dúvida. Para estarmos bem dentro de campo temos de estar bem connosco, com a nossa cabeça. Há fases da época e fases da nossa vida mais complicadas e acho que procurar ajuda não é vergonha nenhuma. Felizmente estou bem, a minha vida está a correr bastante bem, não tenho esse tipo de problemas.
— Mas se precisasse procurava?
— Sim, claro. Por exemplo, quando me lesionei no joelho, na altura estava no FC Porto, falei com uma psicóloga, era uma fase complicada, uma lesão grave. Acho que é importante procurarmos ajuda, porque, repito, para estarmos bem dentro de campo, temos que estar bem connosco. E procurar ajuda não é vergonha nenhuma
- Karabatic referência fora, Ricardo Costa dentro. E herdou o feitio do pai?
— Não, não [risos]. Somos um bocado competitivos os dois, mas o meu pai acho que supera um bocado os limites do aceitável [risos]. Ele tem o feitio pior do que o meu. Ele e o meu irmão são mais parecidos, os dois têm o feitio assim [risos]... Eu sou mais parecido com a minha mãe, mais calmo, mais tranquilo.
— O Europeu 2024, onde foi distinguido, fez parte do sete ideal, foi o ponto de viragem na carreira?
— Acho que foi um momento super importante, um campeonato espetacular, para a Seleção e para mim individualmente. Sem dúvida que me deu um boost e acho que uma confiança extra. Percebi que posso estar ao nível dos melhores e competir nesse patamar. Esse campeonato foi um ponto de viragem na minha mentalidade, na maneira de encarar o andebol ao mais alto nível e perceber que estou próximo desse nível.
— Que estava pronto?
— Exatamente, que estou pronto. Sem dúvida, esse Campeonato da Europa [2024] foi muito importante para continuar a crescer e para perceber o meu valor e aquilo que posso fazer no andebol.
—Acabou distinguido pela EHF. Como vê esses prémios?
—É super, é muito fixe. É super agradável receber esse tipo de prémios. Mas, o principal é a equipa e o que eu posso dar à equipa no final do jogo. Nunca vou para as competições a pensar que quero ser o melhor marcador ou que quero estar no sete ideal. Isso pode fazer com que nos concentremos demasiado em nós e não no objetivo coletivo. Claro que é importante marcar golos mas para ajudar a equipa a ganhar, sem nunca perder o coletivo e perceber que, sem a malta que tenho ao meu lado, nunca ganharei nada, porque sozinho não se ganha nada. Portanto esses prémios são ótimos, mas não penso muito nisso.
— Pode sempre ganhar um cheque do Lidl como o seu irmão no Mundial [ 5 mil euros]
—Ele é que ganhou, eu não ganhei. Eu gostava de ter ganho também, mas não me deram [risos].Acho que ele ainda tem dinheiro no cartão, para ir às compras!