Williams tem marcado as sus exibições por momentos de grande capacidade defensiva Fotografia FIBA

EuroBasket: «Tive de ver o jogo outra vez antes de dormir»

Após a vitória face à Estónia que deu a qualificação para os oitavos de final, o base/extremo só se apercebeu do que acontecera ao ver lágrimas nos colegas de Seleção. À noite não conseguiu dormir. E agora sonha: «E se vencermos a Alemanha, como será?»

«Tem sido incrível!», diz Travante Williams, mesmo sem estar ao nível a que nos habituou a atacar, como o próprio reconhece, mas com uma capacidade defensiva ímpar que faz valer pontos na Seleção. A BOLA conversou com o agora base/extremo dos franceses do Le Mans no dia seguinte a Portugal ter derrotado a Estónia por 65-68, em Riga, quinto e derradeiro jogo do Grupo A do 41.º EuroBasket-2025 e com isso garantido os oitavos de final.

É apenas a segunda vez que os Linces passam à fase seguinte em quatro participações, mas a primeira em que venceram dois jogos numa edição. Amanhã, segue-se a campeã mundial (13h15) e Travante, sonha, viciado nas sensações que tem sentido: «E se ganhássemos à Alemanha, como seria?»

— Foi muito difícil ter conseguido adormecer depois da vitória contra a Estónia?
— Bastante difícil. Tive que ver o jogo outra vez antes de dormir para conseguir perceber o que raio tinha acontecido.

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— Ainda havia demasiada adrenalina?
— Tem sido uma loucura. Hoje [ontem] até já tive que voltar a ver as melhores jogadas do encontro e dizia: ‘Como o diabo aquilo aconteceu. Eles eram uma equipa difícil'. Foi uma loucura.

— Como é que se sentiu no momento em que ouvi o apito final?
— O importante para mim foi ver todos os meus companheiros e o staff e surpreendeu-me os olhos deles. Foi isso que verdadeiramente me tocou. Caramba! Foi quando tive a certeza que havíamos conseguido algo grande. Quando comecei a ver alguns deles a chorar e coisas desse tipo, só pensava: ‘Isto é grande. Isto é gigantesco’. Estava tão focado na partida que ainda nem havia tido a hipótese de desfrutar e divertir. Por vezes, quando estamos muito concentrados e comprometidos com o que se está a passar, quase perdemos o que realmente se passa em redor. Mas o momento foi grande. Enorme!

— E mais tarde também chorou?
— Eu não, mas senti como se estivesse a chorar por dentro.

— Já foi campeão de Portugal três vezes e ganhou outras tantas Taças de Portugal, Taças da Liga e Supertaças. Por isso viveu momentos importantes. O que é que foi diferente desses comparando com ontem [quarta-feira]?
— Acho que a diferença entre esses jogos e estes é a magnitude de jogar por um país, assim como representar Portugal e todos os portugueses. Nos outros casos, quando ganhamo derrotados outros jogadores portugueses e clubes nacionais. Aqui, é como se estivéssemos num palco mundial e vemos adversários que só encontramos nos jogos de vídeo. Há muita gente a acompanhar o campeonato e o nível da competição e de jogadores que já defrontei até agora é de dar em doido. Estar a jogar contra eles e contra o mundo até faz com que os nossos sentimentos não se encaixem bem.

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— Este momento vai muito além daquilo que esperava quando se naturalizou português e foi chamado à Seleção. Recordo-me que se estreou juntamente com o Neemias Queta contra a Bulgária, em 2022?
— Sim, bastante. Jogar com ele é incrível. Ele é tão bom, tão talentoso. É uma loucura ver o seu progresso desde que o vi a na equipa B do Benfica. Acompanhar o seu progresso nos últimos dois anos até o que se tornou atualmente e o quão humilde se mantém como jogador, é incrível poder fazer parte disso.

— E vai ser fácil agora calmar para preparar o jogo contra a Alemanha nos oitavos de final?
— Sim, vai ser fácil. Sabemos que não temos nada para perder, mas é importante para nós. Estar nessa situação faz-nos pensar: o que é que podemos fazer? O que mais pode ser possível para manter aquele sonho de continuarmos vivos e a lutar? Gostamos disso. Imagine se derrotassemos a Alemanha. Qual será o sentimento? Quase que ficamos viciados nisso. É uma loucura e vamos tentar novamente. Será que podemos fazer algo diferente?

— Não tem atuado no ataque, na maioria dos jogos, ao nível que gosta e costuma, mas a defender tem sido incrível. O que tem dentro de si e sente que o faz arriscar tanto mesmo quando tem quatro faltas e lutar por todas as posses de bola?
— Sabendo que o meu jogo ofensivo não está como queria, tenho tentado encontrar uma maneira de conseguir dar qualquer coisa à equipa. Sei o quão importante sou e o que posso trazer, por isso tem sido um pouco frustrante não estar no ataque como desejo. Mas só lá estar e os companheiros de equipa continuarem a confiar em mim para fazer lançamentos e o treinador também continuar a apostar em mim para determinadas jogadas é um bastante gratificante. É bom saber que têm essa confiança e saibam o que consigo fazer. É bom sentir que as pessoas conhecem o meu jogo e como posso realmente ser. É engraçado, tivemos este sucesso e ainda não senti que joguei o meu melhor basquetebol. Especialmente a atacar. Raios, imagine como seria se estivesse a jogar bem.

— E o que sentiu quando o Neemias Queta saiu com duas faltas técnicas contra a Estónia?
— Como digo às pessoas, o Neemy apenas fez parte da qualificação para o Europeu em dois jogos, creio [Bulgária e Chipre, 2022]. Então, tivemos de disputar bastantes partidas sem ele. Quando o temos é uma ajuda incrível e eleva o nosso nível. A qualquer altura ou momento queremo-lo lá. Se o pudéssemos tê-lo todo o ano seria ótimo, mas a equipa inteira sabe e entende que sem ele temos que ser uma joia diferente para competirmos e jogarmos bem e fazer com que esta espécie de sucesso aconteça. É importante saber que o jogador seguinte está pronto e Neemy sabe disso. Confia em nós e dá-nos confiança. Estar cá impactou os jogadores e tornou-os melhores. Basquetebolistas como o Daniel Relvão, quando chega o seu momento tem de dar um passo em frente. Ele sabe-o e deu-o. Estamos juntos nisto, não se trata apenas de um homem. Não é só para mim ou para o Neemy, é para todos coletivamente e isso realmente ajuda-nos.

— O que é que ainda não alcançou neste EuroBasket?
— Neste momento, ainda não conseguimos ganhar o campeonato… O resto, parece estar tudo no lugar certo. Mas ainda estamos em falta como país. Ainda temos que melhorar como jogadores. Penso que se Portugal colocasse maior foco em melhorar o talento basquetebolístico aconteceriam muito mais coisas. Tem que ser um processo passo a passo e ainda estamos nas etapas iniciais. Vamos ser aqueles que vão inspirar a próxima geração de basquetebolistas para serem melhores. E serão muito melhores do que nós. Irão chegar longe e alcançar coisas que nunca fizemos. Nesta altura está apenas a faltar o apoio do País inteiro para melhorarmos. Essa é a diferença entre o futebol e o basquetebol. É preciso ir buscar a cultura que existe no futebol para passarmos ao próximo nível.