Rui Borges e Frederico Varandas na apresentação do primeiro como treinador do Sporting
Rui Borges e Frederico Varandas na apresentação do primeiro como treinador do Sporting (Foto: MIGUEL NUNES)

Estará o Sporting dividido?

Mercado de valores é o espaço de opinião semanal de Diogo Luís, antigo jogador de futebol

Depois de um ano atribulado, mas muito positivo, o Sporting partiu para esta época em vantagem. Perdeu apenas um jogador determinante. Contudo, o início da época não correspondeu ao esperado. Em termos desportivos, teve dois desaires frente aos rivais, com a derrota frente ao FC Porto a ser mais marcante pela capacidade que a equipa azul e branca teve em se impor de uma forma categórica em Alvalade. Fora dos relvados, também percebemos que a união que se sentiu nos últimos anos poderá estar comprometida.

Rui Borges, 2 –Varandas, 0

O reforço da equipa é sempre um ponto importante e que pode fazer a diferença nos objetivos dos clubes. Com Rui Borges no comando, todos percebemos que o treinador leonino pretendia alterar o sistema tático da equipa. Desta forma, a abordagem ao mercado era fundamental para encontrar os equilíbrios pretendidos.

Parece-me que o Sporting percebeu bem as lacunas que existiam. O reforço deveria passar por um lateral esquerdo, um lateral direito, um médio, um extremo e dois avançados, que compensassem a saída de Gyokeres e a incapacidade de Harder se impor.

O problema foi quando se começaram a identificar os alvos para cada uma destas posições. Hoje todos percebemos que a administração tinha uns alvos e o treinador tinha outros.

Existem aqui três casos bem visíveis. Para a posição de lateral direito, Rui Borges pretendia Alberto Costa. A estrutura do Sporting privilegiou Vagiannidis. Alberto Costa tem 21 anos, conhece a realidade portuguesa e já tinha trabalhado com Rui Borges. O investimento para o contratar era €15 M. Vagiannidis tem 23 anos e não conhece a realidade portuguesa. O investimento realizado pelo Sporting foi de €12,5 M podendo este valor chegar aos €15 M. Ao dia de hoje percebemos o crescimento e a importância de Alberto Costa no Porto, enquanto que Vagiannidis tem demonstrado dificuldade em se adaptar ao Sporting.

O segundo caso é o de Mangas. Um pedido expresso do treinador que a administração só aceitou porque o investimento foi muito reduzido. A realidade é que a performance do jogador está, mais uma vez, a dar razão ao treinador.

O terceiro caso é Jota Silva. Mais um jogador pedido pelo treinador que colidiu com as pretensões da administração verde e branca. Isto é bem visível pela postura da direção do Sporting em dois casos distintos: O Sporting tentou contratar Kevin, por quem ofereceu €37 M nos últimos dias de mercado, mas não fez um pequeno esforço para contratar Jota Silva

Por fim, o Sporting só não foi o campeão de mercado porque Kevin preferiu ir para o Fulham, caso contrário, o Sporting teria ultrapassado os investimentos dos rivais!

O caso Jota Silva

Frederico Varandas tentou, sem sucesso, esclarecer o falhanço da contratação de Jota Silva. Parece-me que ainda faltam alguns pormenores que podem ser importantes para perceber o que se passou nos últimos minutos do mercado de transferências. Uma coisa é certa, uma estrutura profissional não pode passar a imagem de incompetência que o Sporting passou. Cada um de nós pode retirar as conclusões que entende, sendo que a minha conclusão é que a estrutura do Sporting nunca quis ou nunca se esforçou para contratar Jota Silva, que era um pedido expresso do treinador.

O caso St. Juste

Depois das críticas apontadas a Gyokeres por não se ter apresentado, eis que surge um novo caso no Sporting. Desta vez, e ao contrário do caso Gyokeres, temos uma inversão das forças, ou seja, neste caso é o clube que toma uma atitude moralmente reprovável.

De uma forma simples, o Sporting tentou encontrar uma solução para St. Juste, embora nenhuma tenha agradado ao jogador que, dentro do seu direito, recusou as abordagens apresentadas. O mercado de transferências fechou na maior parte dos países e tivemos desenvolvimentos.

O Sporting decidiu colocar o jogador na equipa B. A forma como o fez tem duas versões diferentes, uma do jogador e uma da administração. Não consigo perceber qual dos dois está a dizer a verdade. O que posso interpretar é que todo este processo foi mal conduzido.

Inclusivamente, deixa no ar a suspeição de que a descida do jogador à equipa B é um castigo por ter rejeitado as propostas apresentadas e uma forma de pressão para que este aceite ser transferido para um dos mercados que ainda estão abertos.

Nos dias de hoje, este tipo de decisões não deveria existir. Frederico Varandas abordou este tema e referiu que St. Juste é a quinta opção na sua posição e que o Sporting só precisa de quatro soluções. Referiu ainda que não faz sentido ter um jogador como quinta opção a ganhar o que St. Juste ganha. A pergunta que se impõe é: será que faz sentido ter um jogador que ganha o que St. Juste ganha a jogar na equipa B?

Varandas 'vs' Gyokeres

O presidente do Sporting voltou a falar sobre a novela Gyokeres. Desta vez fez o que se impunha. Valorizou o jogador sueco, referindo que foi uma lenda do Sporting e que será assim que deve ser lembrado. Contudo, referiu-se aos negócios de Gyokeres e Harder da seguinte forma: «Consegui €90 M e não paguei um cêntimo de comissões.»

Se tivermos atenção à expressão, Frederico Varandas não refere que o Sporting conseguiu ou que a sua estrutura conseguiu, disse que ele conseguiu, o que vem confirmar que a transferência de Gyokeres foi também uma luta de egos, que acabou por não beneficiar ninguém.

A valorizar: João Neves
Só por 17 vezes o jornal 'L´Équipe' tinha dado nota 10 a um jogador. Arrisco-me a dizer que João Neves fez o melhor 'hat trick da' história do futebol. É um jogador incrível e tem apenas 20 anos.
A desvalorizar: Benfica B
A equipa não foi capaz de pontuar num jogo em que o adversário, no caso o Portimonense, jogou com um jogador de campo à baliza e com apenas nove jogadores durante 45 minutos.