Então vamos lá a isto

Portugal tem um historial esplêndido no Europeu. O mais provável é que, mesmo a jogar ‘feio’, chegue longe, às etapas decisivas

Ojogo de hoje com Israel em Alvalade serve de último apronto para a Seleção antes da estreia no Europeu com a Hungria (na próxima terça) e também de despedida, embora sem público, dos adeptos. Tradicionalmente, ganhamos o último particular antes do Europeu (em sete ocasiões, seis vitórias) e na única vez que não o ganhámos também perdemos o primeiro jogo do Europeu - foi em 2012, com Paulo Bento: derrota por 1-3 na Luz com a Turquia (2 de junho), seguido de nova derrota (0-1) com a Alemanha em Lviv, a 9 de junho. Bom, mas não foi grave: em 2012 só caímos na meia final - nos penáltis! - com a fabulosa Espanha do tiki-taka, que logo a seguir, na final, espetou 4-0 à Itália de Buffon e Pirlo. Portanto, isto não é como começa, mas como acaba, e se há seleção que sabe isso é a nossa. Mesmo quando as coisas parecem um pouco tremidas e a equipa não carbura como se esperava. Não estou com isto a agoirar a batalha com a Hungria, mas se o primeiro jogo fosse quase sempre decisivo Portugal nunca teria ido muito longe no Europeu - como, de facto, costuma ir! -, já quem em sete participações só vencemos o jogo de estreia por duas vezes; em 2000, num jogo épico com a Inglaterra (virámos de 0-2 para 3-2 com golos monumentais de Figo, JVP e Nuno Gomes); e em 2008, com a Turquia (2-0), em Genebra. De resto, três empates e duas derrotas.
No Europeu de 2016 começámos com um valente tropeção perante a Islândia (1-1… houve mais dois logo a seguir…) e todos sabemos como a coisa acabou. Repete-se: a Seleção de Portugal merece, no mínimo, a confiança dos seus milhões de adeptos, já que em sete Europeus passou SEMPRE da fase de grupos (coisa que, por exemplo, Espanha, Itália, Alemanha, França, Inglaterra e Holanda não podem dizer…) e só por duas vezes não atingiu as meias-finais. Quero com isto dizer, parafraseando Pinto da Costa, que se houver normalidade Portugal chegará às etapas decisivas do Europeu, independentemente do tipo de futebol jogado - mais bonito, como em 2000, ou mais feiocho como na era Santos. Chegar longe é aquilo a que a Seleção nos habituou no séc. XXI (anotem: dois títulos, uma final perdida e um total de sete meias-finais em 12 competições) e não há razão para pensarmos que desta vez será diferente. Bem pior era antes, quando nem sequer íamos às fases finais e passávamos a vida a choramingar e carpir vitórias morais que só não tinham acontecido por causa do malandro do árbitro, do azar, de um bocadinho assim…
 

Selecão Nacional merece a confiança de todos os portugueses


Há quem sublinhe, talvez com excessiva preocupação, o facto do nosso grupo ser considerado o da morte, querendo com isso significar que qualquer tropeção nos pode ser fatal. É verdade. Mas isso também vale para a França e para a Alemanha. Realmente, ter um colosso do futebol como a Mannschaft, mais o campeão da Europa e da Liga das Nações e o campeão do Mundo na mesma poule não é coisa de somenos. Mas, lembre-se: passam aos oitavos de final os dois primeiros de cada grupo e os quatro melhores terceiros em seis possíveis - como em 2016, lembram-se? Devem lembrar-se, pois foi precisamente assim que chegámos aos oitavos…
O jogo com a Hungria em Budapeste é perigoso porque é, teoricamente, aquele que Portugal tem mesmo de ganhar para evitar complicações maiores. Acresce o facto de a Hungria jogar em casa e não ser um adversário tão acessível como parece quando comparado com a França e a Alemanha. Quem se lembra do que foi aquele angustioso empate com os húngaros (3-3) em 2016, e do susto que sofremos (estivemos mesmo à beira da eliminação), deve, como o avisado João Cancelo, olhar para a equipa magiar com a maior das desconfianças. Mas mesmo que não se ganhe a batalha com a Hungria - um empate, por exemplo - isso não quer dizer que não se possa ganhar à Alemanha ou à França, ou até empatar com ambos. Conheço uma seleção que chegou muito longe não ganhando nenhum dos quatro primeiros jogos. Portugal não joga, de facto, um futebol fluido e atraente, tem um meio-campo a modos que esquinado e, para ensombrar o cenário, o nosso jogador mais decisivo, Cristiano Ronaldo, tem estado muito abaixo do nível habitual nestes últimos jogos e parece limitado do ponto de vista físico.
Mas se há coisa que Portugal ganhou na era Santos é solidez competitiva e uma estrelinha que nos permite, pelo menos, ter a certeza de que é muito difícil ganharem-nos um jogo. E isso, meus caros amigos, é muito importante no futebol de alta competição. Perguntem aos alemães. Perguntem aos italianos…
 

ATENÇÃO A ESTA ITÁLIA…

Obom senso e a história recente dizem-nos que o Europeu tem um favorito - a França, que tem um plantel fortíssimo e é campeã mundial - e um lote de candidatos que o poderão ganhar sem qualquer surpresa: Alemanha, Portugal, Bélgica e Espanha. Permitam-me incluir neste segundo grupo outro colosso do futebol mundial, a Itália, que, pé ante pé, parece ter ganho uma personalidade muito forte desde que passou a ser orientada por Roberto Mancini. O Itália-Turquia abre o Europeu depois de amanhã, em Roma, e a azzurra chega ao jogo de estreia com uma série de oito vitórias consecutivas sem sofrer golos (!) e a máquina bem oleada. Sofreu apenas uma derrota (!) em 23 jogos oficiais com Mancini no banco - em Portugal, na Luz (0-1), para a Liga das Nações - e o grupo parece unido em torno do seleccionador, que a Gazetta dello Sport de ontem considerava a verdadeira estrela da equipa, acima de Jorginho e Insigne. Olho para o onze italiano, que poderá ser este - Donnarumma; Florenzi, Chiellini, Bonucci e Spinazolla; Barella, Jorginho e Locatelli ; Berardi, Immobile (ou Belotti) e Insigne - e, à  míngua de Ronaldos, Messis e Lewandowskis, vejo coesão, estofo atlético, taticismo de primeiro nível e a fome de redenção/conquista previsivel em quem falhou presença nas duas últimas fases finais - Mundial de 2018 e final four da Liga das Nações de 2019.
Acresce que a azzurra é eterna. Reaparecer é sempre, e só, uma questão de tempo.