Economia e Educação
O índice (1)
Uma enorme comitiva de economistas entrou nos aposentos centrais. Traziam um relatório gigante. Era o diagnóstico; o estado da economia do país ali estava, ao pormenor. Três meses de trabalho envolvendo mais de 32 mil economistas. Bem remunerados, mas era merecido: o relatório tinha mais de seiscentas páginas. E um índice.
Foi no índice que o Chefe pegou.
- Isto ajuda muito. Facilita a consulta - disse o Chefe, surpreendido.
- Ajuda muito - concordou o Presidente da Comitiva dos Economistas. - O Chefe vê aqui o tema abordado e logo depois, uns espacinhos mais à frente, surge a página.
- Excelente ideia!! - exclamou o Chefe.
- Já tem sido utilizada noutros trabalhos de outras pessoas; mesmo fora da política. E até noutros países. Quando os relatórios são muito grandes a indicação das páginas onde cada tema é aprofundado permite que quem consulte o documento não perca muito tempo até encontrar o assunto que lhe interessa.
O Chefe estava fascinado. Aquela questão do índice. Que ideia!! Estava bem rodeado, sem dúvida. Estes economistas!!
- Impressionante, este índice - insistia o Chefe.
E com o dedo indicador da mão percorria, uma e outra vez, essa página inicial do relatório, da esquerda para a direita, de cima para baixo, com os gestos minuciosos de um cego a tactear a escrita adaptada.
- Aqui está! - murmurou o Chefe, mantendo o entusiasmo. - Por exemplo, se eu estiver interessado no item: «Pobreza generalizada», vou aqui ao índice e cá está: página 322. É extraordinário! Pobreza generalizada: página 322. Que bonito!
- É o índice, Chefe.
O índice (2)
O Chefe continuava fascinado com o índice do relatório de economia. - Extraordinário! - É útil, sem dúvida, mas é só um índice - alguém murmurou lá atrás, já irritado...
O importante é o Chefe gostar de alguma coisa, segredava um dos Auxiliares ao Presidente dos Economistas, que começava a desanimar. Eles haviam escrito sobre todos os problemas do país. Com milhares de cálculos, números e números, resoluções práticas e teóricas. E o Chefe: nada. Estava encantado com o índice, eufórico: como o primeiro Homem que ouvira funcionar um telefone.
O Presidente da Comitiva dos Economistas, cada vez mais impaciente, tentava controlar-se:
- É apenas uma questão de organização. É um índice, nada de... Mas mais à frente apresentamos quatro propostas fundamentais para resolver o problema da pobreza no país.
E ao mesmo tempo que falava, tentava, com as mãos, embora sempre delicadamente, forçar o Chefe a passar para o meio do relatório. As mãos do Chefe, no entanto, respondendo com um vigor inalterável, não deixavam. O Relatório continuaria aberto no índice. Até ao final da sessão.
- É muito importante (insistia o Chefe, que mantinha as duas mãos a marcar, sólida e fortemente, a página do índice, e que parecia não ter ouvido nada). Isto é um exemplo de organização que deve ser aplicado a todo o país. Todo: de cima a baixo. Da esquerda para a direita. Todo o país deveria ter um índice.
- Temos quatro propostas... - tentou ainda dizer alguém, mas a voz apagou-se.
- É apenas o índice... - murmurou ainda o Presidente da Comitiva, que já desistira: os braços em baixo, os olhos virados para dentro, desanimado.
- Chefe (perguntou, por fim, um dos Auxiliares) mando entrar o Relatório para a Educação?