Zaahir Hall ganhou a alcunha de «Zazinho» em Guimarães - Foto: DR
Zaahir Hall ganhou a alcunha de «Zazinho» em Guimarães - Foto: DR

De Chicago a Guimarães: o americano que se apaixonou pelo Vitória

Zaahir Hall, conhecido na Cidade Berço como «Zazinho», é de Chicago e, desde 2022, tornou-se um fervoroso adepto vimaranense. Desde então, partilha o seu amor pelo clube minhoto nas redes sociais, conquistando a atenção de fãs, jogadores, treinadores e até de outros americanos

Em Chicago, cidade onde Michael Jordan subiu ao Olimpo do desporto, há um coração que bate pelo Vitória de Guimarães. E não, não se trata de um emigrante português que atravessou o Atlântico em busca de uma vida melhor. O protagonista chama-se Zaahir Hall, tem 23 anos e é norte-americano de nascença, mas vitoriano de alma. A sua ligação à Cidade Berço começou em 2022, quando se mudou para Guimarães, e desde então o clube conquistou-lhe o coração, ao ponto de hoje, de regresso aos Estados Unidos, continuar a viver e a partilhar o amor pelo Vitória nas redes sociais. 

«Nasci e cresci em Chicago. Em agosto de 2022 mudei-me para Guimarães, na primeira vez que saí dos Estados Unidos. Cheguei através da minha agência para jogar no Brito SC, mas, devido ao processo do visto, acabei por não conseguir ser inscrito», recorda. Ainda assim, Zaahir não ficou parado: trabalhou como preparador físico nos sub-19 do Brito e, paralelamente, mergulhou na cultura vimaranense. «Quando cheguei, não sabia absolutamente nada sobre a cidade nem sobre o Vitória. Na primeira semana, percebi logo que, se a equipa ganhava ou perdia, isso mudava completamente o humor da cidade.» 

Fui aos estádios do Porto, Benfica e Sporting — lá, ouve-se a claque. No Vitória, é toda a gente. Todos de pé, ninguém no telemóvel

A experiência marcou-o de tal forma que, passado um ano, já se sentia como mais um nas bancadas do D. Afonso Henriques. «Percebi o que significa ser vitoriano. As pessoas foram incrivelmente acolhedoras. Vinha de uma cidade enorme, mas em Guimarães toda a gente se mostrou simpática, muito por causa do amor que têm pelo clube. Até me deram uma alcunha — chamavam-me Zazinho.» 

A relação com o Vitória nasceu nas bancadas. No entanto, o primeiro jogo que viu em Portugal foi um FC Porto-Arsenal, decidido com um golo de Galeno no fim da partida. «O estádio foi ao rubro, foi incrível», mas nada o preparou para o ambiente que encontrou no D. Afonso Henriques. «Sem comparação. Fui aos estádios do Porto, Benfica e Sporting — lá, ouve-se a claque. No Vitória, é toda a gente. Todos de pé, ninguém no telemóvel. Vivem o momento e respiram o clube.» 

Regresso está marcado 

Desde então, Zaahir ficou rendido a Guimarães, à cidade e ao símbolo que a representa. «Nunca pensei que isto me acontecesse. Sou de Chicago e, daqui a uns meses, vou passar as minhas férias em Guimarães. Podia ir para qualquer lugar do mundo, mas escolhi voltar. Tudo por causa do carinho que a cidade me mostrou.», revela. 

Atualmente, vive novamente em Chicago, onde fundou o seu próprio negócio de treino personalizado, que começou durante a pandemia. Desde então já treinou mais de 800 miúdos no futebol. «O meu sonho a longo prazo é jogar, treinar ou trabalhar no Vitória um dia», diz. Enquanto isso, joga pelo United Soccer Club, que compete na UPSL, a quarta divisão norte-americana. 

Acredito que posso ajudar o Vitória a ganhar reconhecimento internacional. O crescimento dos meus vídeos mostra que há curiosidade

Nas redes sociais, Zaahir — ou Zazinho, como ficou conhecido — tornou-se um verdadeiro embaixador do Vitória nos Estados Unidos. Publica vídeos, comenta os jogos e mostra aos seus seguidores o ambiente único do D. Afonso Henriques. «O Vitória não recebe nem de perto a atenção que merece. Foi frustrante ver o clube fazer 14 jogos sem perder na Conference League e isso não ser notícia. Então pensei que podia retribuir o carinho que recebi fazendo vídeos sobre o clube.» O sucesso foi imediato: o primeiro vlog, sobre um jogo com o SC Braga, atingiu 40 mil visualizações. 

A partir daí, começou a receber mensagens e hoje, recebe «centenas de mensagens por dia, sobretudo de pessoas de Guimarães», mas também de americanos que, segundo Zaahir, «ficaram fascinados com os adeptos e o espírito da cidade.» 

Entre os momentos que mais o marcaram, há um que nunca esquecerá: a viagem a Sevilha para o duelo com o Bétis, na Liga Conferência. «Foi o melhor momento da minha vida. Chovia, o Betis jogava bem e o João Mendes marcou de fora da área. Os adeptos celebraram de tal forma que não se ouvia um único espanhol no estádio.» 

A ligação que criou com jogadores é outro sinal do impacto que deixou em Guimarães. «O Bruno Varela desejou-me sorte e o Mitrović foi incrivelmente simpático. Chegámos a falar logo depois do jogo com o SC Braga, quando ele marcou. Disse-lhe que era de Chicago e que apoiava o Vitória e ele respondeu com palavras de incentivo››, indica Zaahir, lembrando que o sérvio também já passou pela sua cidade natal, quando jogava na formação do Chicago Fire. 

Na primeira semana em Guimarães, percebi logo que, se o Vitória ganhava ou perdia, isso mudava completamente o humor da cidade 

Para Zaahir, o objetivo é claro: continuar a promover o clube e a cultura vimaranense fora de Portugal. «Acredito que posso ajudar o Vitória a ganhar reconhecimento internacional. O crescimento dos meus vídeos mostra que há curiosidade. Vou voltar a Guimarães em breve, para o dia do Pinheiro, e mostrar ao mundo algo que só acontece ali.» 

Apesar de estar longe, Zaahir continua a sonhar. O plano para o futuro imediato é expandir o seu negócio de treino até atingir mil clientes até 2025. «E em 2026 quero estar a jogar futebol na Europa.» Talvez — quem sabe — de regresso à cidade que o acolheu como um dos seus. 

Sem certezas sobre o futuro, há algo que não irá mudar. «Vou apoiar o Vitória para o resto da minha vida.»