Da crítica ao toque de midas das substituições: tudo o que disse Rui Borges
— O que dizer das entradas de Geny Catamo e de Alisson Santos na 2.ª parte?
— Diz muito sobre o espírito da equipa, que é fantástico, o grupo é fabuloso. O Quenda não estava a dar tanta verticalidade no um para um. Nós com superioridade numérica tínhamos que a ter porque conseguíamos empurrar o Marselha para perto da sua área e tínhamos de ter homens que desequilibrassem no corredor. Estávamos bem naquilo que eram transições, matar as transições ofensivas do adversário, contra-ataques e ataques rápidos. O Gonçalo Inácio e o Zeno Debast estiveram muito bem nesse sentido, também o Hjulmand e o João Simões, a ajudarem nas coberturas frontais. Tentámos meter o Geny num primeiro momento e o Maxi Araújo na largura, depois com o Maxi mais desgastado, fomos buscar o que queríamos com o Alisson à esquerda. Já o Ioannidis tinha entrado também nesse jogo em que como estávamos a conseguir meter o Marselha mais perto da sua área, poderíamos ter que recorrer a muita bola na área e ganhámos mais um homem da área. E era importante ter esses homens para poder cabecear, para poder criar desequilíbrios em duelos aéreos. Por isso, toda a gente que entrou foi importante e demonstrou bem aquilo que é a equipa.
— Esta vitória do Sporting tem um sabor ainda mais especial por ter ganho com reviravolta, frente ao líder da Ligue 1 e com golos de jogadores vindos do banco?
— Eu estou sempre bem consciente daquilo que faço e bem comigo próprio, bem comigo mesmo quando tomo decisões. Quando decidi que queria ser treinador principal, soube que teria de tomar muitas decisões e não teria qualquer problema em tomá-las. Às vezes acerto, outras vezes não acerto, hoje correu bem, toda a gente que entrou, entrou muito bem. Por norma, ou por grande maioria das vezes, eles entram sempre com respostas, e isso, volto a dizer, mostra o espírito da equipa. Guardo algo de especial por ser um jogo de Champions, temos seis pontos em três jogos. É importante ganharmos contra uma grande equipa, mesmo jogando ela com 10. Sofremos um golo exatamente igual como aconteceu em Nápoles. Tínhamos falado disso durante toda a semana, não ir para o jogo interior quando instalássemos, onde não existe espaço, vamos tentar buscar um espaço interior quando temos espaço exterior… Mas faz parte do crescimento da equipa, essa falta de maturidade em algumas coisinhas. Que sirva de exemplo, com o Nápoles também sofremos dois golos em transições ofensivas. E não precisávamos de nos expor a isso, o Marselha defendia quase só na sua área e deixámos o adversário atacar em transição. E têm mais dois ou três lances de transição em que são muito rápidos e objetivos, com homens fortíssimos no um para um. De resto, a equipa manteve aquele que era o objetivo para o jogo. Queríamos que eles se instalassem a três para aí sim pressionarmos. Aqui ou ali, fomos lentos a acionar a primeira linha de pressão, o que os permitia ligarem e depois eles são perigosíssimos, muito dinâmicos. Não deixámos de fazer uma boa 1.ª parte, entrámos muito bem no jogo, o golo sofrido mexeu connosco, mas no fim da 1.ª parte crescemos outra vez. Na 2.ª parte, claro contra 10 jogadores, a equipa teve um espírito enorme, já acabámos cansados, um bocadinho com o coração também a querer acabar o jogo, mas não podíamos estar mais felizes por tudo aquilo que deu a equipa, por tudo o que foi a atitude competitiva do início ao fim do jogo.
— Como viu a equipa nestes últimos minutos, em que é preciso aguentar a bola?
— De fora parece fácil, mas com o desgaste físico no máximo é difícil, não se consegue. Eu não queria, estava ali aos pulos e aos gritos, mas às vezes não se consegue. Agarram-se ao resultado, ao querer ganhar, mas foram cinco minutos e pronto. Eu digo para eles se divertirem e que falhem muito porque os erros deles eu assumo, sem problemas nenhuns. Não é por nós querermos andar em bloco baixo, que não é o que queremos, às vezes é pelas qualidades do adversário, mas hoje teve mais a ver com o coração. Com as substituições perdemos alguma da organização defensiva inicial, tirámos o Fresneda e acabámos com o Geny a lateral-direito, arriscámos um bocadinho com as substituições, mas valeu pelo espírito de entrega da equipa.
— A imagem que o Sporting deixou neste jogo foi uma resposta a quem falava numa má fase do Sporting?
— Ganhámos um grande jogo de Champions. Já disse que não há aqui más fases. Tivemos um jogo menos conseguido com o SC Braga, vamos ter mais com toda a certeza, mas que ganhemos esses jogos. O grupo não deu resposta a nada, só deu uma reposta à própria equipa. é uma equipa ambiciosa, com fome de ganhar. É uma equipa que já ganhou tanto, que pode entrar nalgum comodismo e nós queremos que eles e desafiem cada vez mais. Temos de nos desafiar para sermos melhores e é isso que eles querem, mostrar que são cada vez melhores e que são uma equipa vencedora.
— Pergunto-lhe se a quebra de fulgor ofensivo do Sporting, neste jogo, tem a ver com uma quebra de forma de Pedro Gonçalves e de Trincão?
— É a sua opinião. Fizeram um grande jogo os dois, na minha opinião.
— Quão importante é ter seis pontos nesta fase da Champions?
— Ainda temos muitos jogos pela frente e com grandes equipas. Já jogámos com o primeiro classificado de França, enfrentámos o campeão de Itália e a equipa deu uma resposta fantástica também em Nápoles. Não estejam à esperam que vamos jogar com os campeões dos Big Five e que tenhamos um caudal ofensivo enorme. Sobre o caudal ofensivo, somos a equipa que mais oportunidades falha porque somos aquela que mais produz.
— Já sabe qual é a gravidade da lesão de Zeno Debast, que saiu de campo aos 80’, e como viu a resposta de Diomande neste jogo, neste regresso gradual do jogador à competição?
— O Diomande é um jogador importante, tem características diferentes daqueles que hoje começaram o jogo, o Zeno e o Inácio. É um jogador importante naquilo que é Sporting e por isso estou feliz por voltar a vê-lo. Já fez 90 minutos com o Paços de Ferreira, hoje poderia ter jogado, foi uma dúvida até mais perto do jogo. Também estávamos com algum receio daquilo que seria a resposta dele aos 90 minutos com o Paços, vindo de uma paragem um bocadinho mais longa do que o normal. Em relação ao Zeno, não sei muito bem, estava ali a falar com ele, pensei que até tivessem sido cãibras, mas tenho de lhe perguntar, que não perguntei.
— Sentiu-se injustiçado pela quebra de forma que tem sido apontada à equipa e no final do jogo, os jogadores foram celebrar consigo, acha que isso foi uma resposta dos jogadores para consigo, como um sinal de apoio para si?
— Os jogadores não têm de dar resposta nenhuma ao treinador. Eles dão resposta todos os dias. Todos sabemos o nosso diálogo, o nosso caminho, todos acreditamos uns nos outros, em toda a gente que trabalha na Academia diariamente. O espírito é fantástico, é único. Não me sinto injustiçado, mas sim feliz, acima de tudo, por treinar o Sporting, fui campeão nacional, ganhei a Taça de Portugal, estou em 2.º no campeonato, temos seis pontos na Champions League, vou tentar o apuramento para a final four da Taça da Liga, por isso… Aqui há sempre crítica e eu vivo bem com a crítica, não mexe comigo absolutamente em nada. Sei bem a confiança que tenho.