Inspiração de Samu determinante na vitória do FC Porto sobre o Aves SAD - Foto: Rogério Ferreira/ASF
Inspiração de Samu determinante na vitória do FC Porto sobre o Aves SAD - Foto: Rogério Ferreira/ASF

Contra adversários teimosos há sempre um goleador à altura (crónica)

Aves SAD fechou bem a porta aos dragões no 1.º tempo, mas após o intervalo o espanhol afastou o drama com um golo que fez desmoronar o plano de João Henriques. A partir do 2-0, FC Porto pôde respirar de alívio no alto da sua liderança isolada. Única nota negativa: a lesão de Diogo Costa

Vitória difícil, mas natural, do FC Porto frente a um Aves SAD que ainda não ganhou na Liga, esta época, e que depois da derrota no Dragão entrou nos cuidados intensivos, ligado à máquina e com prognóstico reservado, apesar da boa imagem que deixou no primeiro tempo. Não obstante o empate com que as equipas desceram ao intervalo, dificilmente seria o último classificado do campeoanato, mesmo com João Henriques a introduzir novas dinâmicas e ideias, a travar um dragão que já se confrontou no passado com adversários teimosos.

Com maior ou menor dificuldade, o FC Porto tem conseguido desatar os nós, e só mesmo o Benfica, no Dragão, escapou à regra. O golo de Samu, aos 48 minutos, numa excelente iniciativa individual do espanhol, que deixou Aderllan Santos para trás e bateu Bertelli, trouxe aos azuis e brancos a serenidade que lhes faltou nos 45 minutos iniciais e garantiu a 15.ª vitória na prova, mantendo o Sporting a uma distância segura – 5 pontos – e o Benfica longe da zona Champions, estacionado no 3.º lugar, a 10 pontos.

O futebol é feito de escolhas, ajustes e, acima de tudo, decisões que moldam o rumo de cada partida. Farioli e João Henriques demonstraram exatamente isso, promovendo mudanças nos seus onzes, algumas delas forçadas. O italiano optou por mexer em três peças em relação ao jogo contra o Alverca. Alberto, Alan Varela e Borja Sainz, este último castigado, deram lugar a Bednarek, Moura e William Gomes.

Do outro lado, João Henriques também ajustou a sua estratégia com três alterações. A ausência de Rúben Semedo, expulso no empate a duas bolas frente ao Nacional, acelerou o regresso de Aderllan Santos à titularidade no trio defensivo. A ele juntou-se Carlos Ponck, que substituiu Paulo Vítor. Na lateral esquerda, Kiki Afonso cedeu o lugar a Leonardo Rivas.

O Aves SAD não fez nenhum remate enquadrado na 1.ª parte, mas isso não constituiu problema para a turma de João Henriques, na medida em que o FC Porto fez apenas dois, ambos à figura de Simão Bertelli, por intermédio de Samu e Froholdt. Mais dominador e empreendedor, o dragão bateu de frente no 5x4x1 defensivo do adversário.

Sem laterais capazes de dar largura, o que a equipa de Farioli criou pelo meio ou através de lançamentos longos dos centrais foi sendo filtrado por um Aves muito solidário que, progressivamente, tentou aproximações tímidas à área portista – tímidas, mas numa delas Diogo Costa calculou mal a saída da baliza e viu a bola passar por cima dele. Só não houve drama porque Tomané não esperava tamanha oferta. Na sequência desse lance, o n.º 99 lesionou-se, aguentou em campo e saiu ao intervalo, sendo rendido por Cláudio Ramos.

O golo de Samu, na primeira jogada digna desse nome logo no arranque do 2.º tempo, foi o momento que definiu a história do jogo. O plano do Aves desmoronou-se nessa altura e a promessa de resistência trouxe uma montanha ainda mais difícil de escalar, sobretudo porque, mais tarde, o árbitro foi alertado pelo VAR para uma falta na área de Ponck sobre o recém-entrado Gabri Veiga. Da marca dos 11 metros, Samu não perdoou e bisou.

A partir daí, e mesmo com o Aves SAD à procura de um golo que o relançasse, o FC Porto fez a gestão serena dos restantes minutos, não forçando a goleada, mas procurando com critério um terceiro momento de felicidade. Por critério, entenda-se a poupança efetiva de energia, mantendo o domínio das operações e dando ao opositor apenas a sensação de aproximação à área.

A serenidade do momento culminou numa homenagem emocionante a Pinto da Costa. Aos 88 minutos, como que orquestrados por um sentimento comum, os adeptos uniram-se num coro afinado, entoando o nome do falecido presidente do FC Porto. Simbolicamente completou. Na alma e no coração de todos os presentes, Pinto da Costa nunca desapareceu.