Como se destrói a cultura num clube?
Tal como nos desportos coletivos, também nas organizações é mais fácil destruir jogo do que construir. No que diz respeito às culturas e às identidades, desvalorizamos muitas vezes o real impacto que a destruição de uma cultura de trabalho comprometida e de uma identidade sólida tem nas pessoas. Uma identidade que leva sempre anos a ser construída num clube (e pode aplicar-se a qualquer empresa).
No desporto de alta competição olhamos (apenas) para o resultado e tendemos a achar que, quando se vence, está muita coisa bem, e quando se perde, está muita coisa mal. A cultura de um clube, a sua identidade, aquilo que faz mover as pessoas (e a vitória é uma das justificações, claro, mas está longe de ser a única) acaba, por isso, muitas vezes menosprezada. Por regra atribuímos a responsabilidade quase exclusiva das vitórias e das derrotas aos atletas e treinadores, e raramente à estrutura de suporte, à capacidade de existir organização ou à presença de uma cultura que identifique, una, direcione e comprometa todos com uma exigência comum que possa fazer a diferença.
E como se destrói uma cultura já existente ou como se começa, de forma errada, um processo de criação de cultura? Três coisas: mentiras, incoerências e incapacidade de dar o exemplo.
E especialmente quando essas atitudes vêm da liderança, que tem quase sempre o condão de ser uma espécie de farol. Um líder que não é exemplo naquilo que pede e naquilo que faz, que mente e é incoerente, acaba por criar um efeito de contágio. Isso vai-se infiltrando no pensamento diário até se tornar normal dentro da organização e leva geralmente a duas reações:
1. Pessoas que não se identificam e saem;
2. Pessoas que, por diferentes razões, querem manter-se e acabam por se habituar a esse tipo de comportamento.
Passa então a ser encarado como algo normal e, com o tempo, desvalorizamos. Um simples exemplo: se a estratégia de valorização das pessoas diz uma coisa, mas na prática acontece outra, isso descompromete e desmotiva o grupo. Dizemos que valorizamos as pessoas, os seus valores, a integridade e a responsabilidade como pilares fundamentais. Mas depois temos na organização alguém que maltrata, mente ou engana, mas entrega o seu trabalho muito bem e decidimos mantê-lo. A mensagem que passa é clara: vale tudo, desde que se entregue.
Numa linguagem de jogo, se valorizamos ao máximo o treino, não podemos tolerar a frase «ele até treina mal, mas depois no jogo faz melhor». Mesmo que seja verdade, os que jogam têm de ser aqueles que estão mais próximos de atingir o objetivo. E isto deve passar pela nossa marca interna: seja a valorização do treino, seja termos pessoas competentes e com valores corretos dentro da organização.