«Como o impaciente inglês usou a arte para o sucesso», a crónica do Sporting-E. Amadora
Marcus Edwards não é divindade, como Diego Maradona, nem sequer possui o dom continuado que Deus deu a Messi. Mas há momentos em que acorda da apatia em que muitas vezes se deixa cair, alheando-se do jogo, e tem coisas de El Pibe ou de La Pulga, detalhes que valem, por si só, a ida a um estádio, ou duas horas perante um ecrã televisivo.
Estava o Sporting metido em apuros, quando Edwards puxou da varinha mágica e entrou, ziguezagueando, passando por um e por outro, e por outro ainda, pelo meio-campo e defesa do Estrela da Amadora, só descansando quando viu a bola no fundo das redes à guarda de António Filipe. Estavam decorridos 71 minutos, e o Sporting chegava a uma igualdade que se mostrava difícil de alcançar.
Oito minutos depois, novamente Edwards, onde pôs o olho pôs a bola, e assistiu Paulinho para o golo da reviravolta. Ou seja, em noite em que um Sporting de baixa intensidade andou demasiado tempo desligado da partida, uma individualidade vestiu a capa do super-homem e resolveu, por si só, o problema de todos. Quando o coletivo não aparece, valha a inspiração de um só para ultrapassar as dificuldades. E a verdade é que nem todas as equipas têm um Marcus Edwards, que quando se liga ao jogo, é capaz de tirar coelhos da cartola, e ases de tr(i)unfo do baralho...
Leões pouco intensos
Rúben Amorim decidiu deixar Paulinho no banco, preferindo Bragança ao lado de Hjulmand e Pedro Gonçalves mais à frente, em apoio a Gyokeres. E apesar de ter chegado ao intervalo em vantagem por um golo, apontado por Daniel Bragança, a passe do sueco, não pode ter ficado satisfeito, porque a intensidade que a sua equipa colocou na partida foi baixa, a pressão não atemorizou o Estrela e a defesa forasteira não viveu situações de pânico, apenas revelando o senão da inoperância atacante.
Atrevido sérgio vieira
Em desvantagem, o treinador da equipa da Reboleira, sem despentear o esquema de três centrais, mandou a jogo o ponta-de-lança Kikas e a verdade é que o Sporting não se deu bem com esta troca, que colocava diretamente em xeque a velocidade de Coates. E acabou por ser o uruguaio a cometer o penálti que deu o empate, e a deixar-se ultrapassar por Kikas no lance do 1-2, tudo isto em cinco minutos (entre os 50 e os 55).
Quatro minutos volvidos Rúben Amorim mexeu na equipa e aí terá ganho o jogo: St. Juste e Gonçalo Inácio deram maior profundidade e agressividade à defesa (saíram Coates e Matheus Reis) e Trincão ofereceu ofensivamente aquilo que Esgaio não consegue entregar. E ainda não satisfeito com estas mudanças, bastaram mais cinco minutos para Paulinho entrar, recuando Pedro Gonçalves para a posição de Daniel Bragança, apertando o cerco a um Estrela que tratava de refrescar a defesa com Almeida no lugar de Miguel Lopes (64).
Aquilo que Sérgio Vieira não viu chegar foi o génio de Edwards, que pulverizou as táticas e contra-táticas, e apelando a um futebol de rua, irresponsável e individualista, virou a mesa. Depois dos leões terem dado a volta à reviravolta estrelista (79), por mais que os forasteiros lançassem Ronaldo Tavares, ou tivessem refrescado o meio-campo, o Sporting assumiu o controlo do jogo e só não chegou ao 4-2, por Pedro Gonçalves (82) e Trincão (89), por obra e graça de um inspirado António Filipe. Os três pontos ficaram em Alvalade, mas Amorim deve refletir nos longos períodos de baixa intensidade da sua equipa...