«Chamaram-me maluco quando disse que ia chutar, mas a bola entrou mesmo»
Duk é daqueles jogadores que tem uma vida que dava um filme. Nasceu na Cidade da Praia, Ilha de Santiago, Cabo Verde. Chegou menino ao Benfica. Veio atrás de um sonho. Ali fez toda a formação, mas chegado a sénior foi para a Escócia, para o Aberdeen. Fez uma primeira época de sonho que lhe deu direito a música cantada pelos adeptos. Foi perdendo impacto e chegou um convite que não poderia recusar, do Leganés, estava o clube na La Liga. De tudo isto fala o avançado, mas também de um golo de livre que só foi possível porque tem uma deformação no pé, do sonho de estar com os Tubarões Azuis no Mundial de 2026 e também na atenção aos jogos da Liga portuguesa porque, diz é... «um fervoroso benfiquista».
«Sim, sentia-me um ídolo na Escócia, mas quando tens um clube como o Leganés, que estava num dos melhores campeonato do Mundo, só com a Premier League como rival, não pode dizer não», começou por dizer a A BOLA, recordando que chegou a meio da época 2024/25 e o clube estava no escalão principal, ao contrário do que acontece hoje.
Por esta altura o Leganés anda pelo meio da tabela, mas Duk ainda acredita na subida. Afinal, a diferença pontual não é assim tão grande para os primeiros: « Esse nosso objetivo e foi traçado desde o início da temporada. Acreditamos muito no nosso grupo. Temos uma equipa com muito talento, mas necessita de trabalho. Começámos a temporada com muitos jogadores novos e ainda estamos a conhecer-nos. Além disso, o campeonato da segunda liga é muito competitivo e do décimo ao primeiro lugar são cinco ou seis pontos de diferença. Numa jornada ganhas, estás lá em cima...»
E neste caminho que quer que acabe na La Liga, o tal golo de livre que correu mundo contado na primeira pessoa.
«Não era previsto marcar porque o livre era mais descaído para a lateral e o meu companheiro ia cruzar. Mas naquela altura enchi-me de fé e disse-lhe: ‘vou chutar’. Chamou-me maluco, eu continuava a dizer que ia chutar e a última vez num tom já mais duro. Não vou dizer agressivo, mas duro. Ele lá me deixou bater e foi o que foi. Acho que dificilmente vou fazer um golo igual a esse. Foi perfeito!»
Conta Duk que a bola ganha uma trajetória caprichosa graças a um defeito que tem no pé. Mas que defeito é esse?
«O chuto é feito com o peito do pé e eu nessa zona tenho um alto que fez com que a bola suba e baixe de repente. É isso que facilita fazer aquele remate. Mas atenção que o livre tem muito trabalho por trás. Trabalho muito a marcação de livres nos treinos. Nem sei porque é que os meus companheiros ficaram tão admirados. Depois foi a sorte de a bola descer na medida exata e entrar lá onde dizem que a coruja dorme», conta.
Duk continuou a falar com um brilho nos olhos do Leganés, da relação com os companheiros e a defender que aos 25 anos está num contexto que lhe permite continuar a evoluir.
«Tenho 25 anos, para muitos avançados a maturidade plena é mais tarde. Por isso, creio que tenho tudo para evoluir neste campeonato. É muito competitivo, como já disse, tem muitos jogos e nem pára para as seleções o que me permite manter a dinâmica e dá-me muita confiança», conclui.