A Costa do Marfim é a campeã em título
A Costa do Marfim é a campeã em título

CAN: A importância do terceiro jogo

O exemplo vivido pela seleção da Nigéria, da qual Acácio Santos foi adjunto de José Peseiro, numa fase da prova em que não se joga apenas com a bola

O nosso 3.º jogo foi, sem dúvida, um dos mais desafiantes de toda a competição. Chegávamos com 4 pontos, fruto de um empate na 1.ª jornada, num jogo disputado em condições extremamente exigentes: 35 graus em Abidjan, com início às 14h30. Fomos melhores, dominámos grande parte do jogo, mas empatámos. Ficou uma clara sensação de injustiça, que nos colocou imediatamente sob enorme pressão para a 2.ª jornada, frente à Costa do Marfim, anfitriã da prova.

Perante esse contexto, alterámos a estratégia. Ajustámos detalhes, assumimos riscos calculados e o plano resultou. Vencemos por 1–0 a seleção anfitriã, num jogo de enorme maturidade competitiva. Essa vitória mudou tudo: a classificação, o estado emocional do grupo e a forma como passámos a encarar o torneio.

Chegámos então ao 3.º jogo com os ouvidos atentos aos outros campos e com a consciência de que o empate poderia bastar. E é aqui que começa o verdadeiro dilema do treinador.

O que fazer?

Jogar para ganhar e assumir o jogo?

Manter a estratégia que tinha funcionado frente à Costa do Marfim?

Gerir fisicamente os jogadores mais utilizados ou manter a equipa base?

A vida do treinador nacional é esta luta constante para projetar o futuro sem o poder controlar. Dar certezas aos jogadores num contexto de incerteza. Criar uma perceção de controlo através da análise, da projeção de cenários e da recolha de todos os dados possíveis — físicos, emocionais e estratégicos — para definir com clareza o melhor onze inicial e a melhor estratégia.

Optámos por manter a mesma estratégia da vitória frente à Costa do Marfim, mexer apenas nos jogadores mais fatigados e assumir claramente o jogo. A ideia era simples e exigente: marcar cedo. Em torneios curtos, isso muda tudo.

Defrontámos a Guiné-Bissau, uma seleção praticamente sem hipóteses de continuidade, mas ainda agarrada à esperança. Sabíamos que isso tornava o jogo mais perigoso. Entrámos focados, determinados e fiéis ao plano. Ganhámos a partida e garantimos o apuramento para a fase a eliminar.

Este jogo confirmou algo que a CAN ensina constantemente: o 3.º jogo não se joga apenas com bola. Joga-se com cabeça, com coragem e com decisões difíceis. É o jogo onde o treinador tem de decidir antes, durante e depois. E onde cada escolha pesa.

Passámos ao mata-mata. Mas, mais do que isso, confirmámos que em torneios curtos, quem entende o momento, sobrevive. E quem decide melhor, continua.