Hossam Hassan, selecionador do Egito, felicita a estrela Salah, autor do golo da vitória frente à África do Sul - FOTO IMAGO
Hossam Hassan, selecionador do Egito, felicita a estrela Salah, autor do golo da vitória frente à África do Sul - FOTO IMAGO

CAN 2025: o peso do treinador em torneios curtos

Acácio Santos, antigo adjunto da seleção da Nigéria, analisa em A BOLA a Taça das Nações Africanas (CAN)

Em competições como a CAN, o impacto do treinador torna-se mais visível do que em qualquer campeonato de regularidade. O tempo é curto, o contexto muda rapidamente e a margem de erro é mínima. Aqui, liderar é decidir bem — e decidir depressa.

O treinador nacional trabalha num cenário único. Pouco tempo de treino, jogadores vindos de contextos distintos, cargas físicas diferentes e expectativas nacionais elevadíssimas. Não há espaço para construir tudo de raiz. Há, sim, a necessidade de escolher o essencial, simplificar ideias e criar rapidamente um quadro de confiança coletiva.

Os melhores treinadores da CAN entendem o torneio como um jogo de momentos. Saber quando baixar linhas, quando acelerar, quando proteger um resultado e quando assumir risco faz a diferença. Muitas vezes, ganhar não passa por dominar, mas por controlar e quando o assumimos com bola e sem bola a vitória ficou muito mais perto. Chamamos a isso - gestão do CAOS.

Outro fator decisivo é a gestão emocional. A pressão externa é enorme, a arbitragem varia, o ambiente é intenso e o erro amplifica-se. O treinador tem de ser o ponto de equilíbrio: proteger o grupo, filtrar o ruído e manter a equipa ligada ao plano, mesmo quando o contexto parece fugir ao controlo.

Uma das principais preocupações de nós, treinadores de seleções nacionais, é criar um sistema que consiga associar a qualidade individual a um modelo que permita vencer. No fim, nada é mais importante do que isso: vencer. Mas vencer sem trair os jogadores.

Havia uma preocupação clara em estarmos próximos do grupo e perceber como cada jogador se sentia dentro do sistema criado. O mister José Peseiro e eu passámos horas a ouvir jogadores no final dos jogos e durante a semana, através de meetings individuais, onde existia espaço para a autoavaliação, para a avaliação tática e para a leitura das circunstâncias contextuais. Tudo era registado. Tudo era considerado.

Esse processo revelou-se fundamental para a saúde do grupo: a diminuição do ruído na dinâmica relacional e na expressão do sistema. Menos ruído, mais clareza. Menos ansiedade, mais compromisso. Funcionou. Chegámos à final.

Na CAN, o treinador não é apenas um estratega. É gestor de homens, de emoções e de decisões críticas. E, muitas vezes, não vence quem tem o melhor plano no papel, mas quem melhor lê o jogo enquanto ele acontece.