Campeões mundiais: Bino e os seus miúdos fizeram história
É incrível a forma como um país tão pequeno como o nosso consegue ter tanto destaque no desporto mundial. Esta semana, no futebol, conseguimos arrecadar mais um título que nos faltava. Somos campeões do mundo de sub-17 com total mérito. O destaque vai inteiramente para os intervenientes.
A 'mão' de Bino
A Seleção de sub-17, que acaba de se sagrar campeã mundial, depois de em junho ter sido campeã europeia, tem um ADN muito específico. Quem viu Bino jogar, quem jogou com ele ou quem o defrontou, e foi vendo a sua evolução, percebe que os miúdos que foram campeões europeus e mundiais têm muito do seu selecionador. Como jogador Bino tinha características que mantém enquanto treinador. É humilde, respeitador, tem personalidade, tem sempre os pés bem assentes no chão, é racional e é apologista do trabalho em equipa. Estas características estão todas bem vincadas na nossa Seleção que acaba de se sagrar campeã mundial.
Estes valores são importantes para que todos tenham o compromisso e a união necessários nos momentos mais complicados. Contudo, esta Seleção foi muito mais do que isto. Além de potenciar este espírito de grupo, Bino teve ainda o mérito de conseguir desenvolver uma forma de jogar dominadora, com uma organização coletiva bem identificada e com uma identidade bem definida.
Quem viu a nossa Seleção nestas duas grandes competições sabe identificar a forma como começa a sair a jogar desde trás, percebe que existem movimentos padronizados que dão várias linhas de passe ao portador da bola e que se trata de uma equipa que está, na grande maioria do tempo, equilibrada no momento da perda da posse de bola.
Estes foram os motivos pelos quais, em cinco meses, a nossa Seleção de sub-17 foi campeã europeia e mundial. Foi ainda por estes motivos que fomos campeões com total mérito, a dominar os adversários, a impor o nosso jogo e a saber sofrer com união nos momentos mais complicados.
Por fim, Bino é o selecionador de miúdos de 17 anos. Tem a perfeita noção que esta é a idade em que os sonhos começam a ser alimentados, mas também em que a descida à terra pode ser abrupta.
Refiro isto para valorizar a comunicação que o atual selecionador dos sub-17 costuma apresentar. Bino fez sempre questão que, ao longo das duas competições, os jogadores mantivessem os pés bem assentes na terra. Os feitos que alcançou com estes jovens atletas são incríveis e únicos. Apesar disso, depois da vitória no Mundial, Bino referiu que este foi apenas mais um passo no crescimento dos seus jogadores e que, para continuarem a perseguir os seus sonhos, devem continuar a ser focados e a trabalhar no duro. É que Bino sabe perfeitamente que a chegada ao futebol profissional pode trazer obstáculos que nem todos irão conseguir superar.
O futuro será risonho?
Estes jovens que se sagraram campeões europeus e mundiais já fizeram algo que nunca foi feito, em Portugal. Por mérito próprio estão a viver um sonho. Em cinco meses ganharam dois carimbos de qualidade que podem ser determinantes para a sua progressão. Contudo, todos estes jovens futebolistas devem ter a noção que estas conquistas ficam na história e no seu percurso, mas não significam que irão ter carreiras de sucesso no mundo do desporto.
Por este motivo valorizo ainda mais a comunicação de Bino, que faz questão de referir que estas conquistas devem ser festejadas, mas já fazem parte do passado. Isto é fundamental para que os que estão sob o seu comando mantenham o foco e a determinação para continuarem a trabalhar e a desbravar caminho. Será ainda fundamental que as pessoas que os acompanham de perto, sobretudo familiares, os ajudem a manter o equilíbrio e a humildade necessários para que se mantenham racionais.
Apesar do sucesso desportivo alcançado, estes jovens têm apenas 17 anos. Como tal, devem esforçar-se por continuar a crescer de uma forma equilibrada. Isto significa que não devem descurar, em momento algum, a vertente académica que será sempre o plano B de qualquer jovem que está a crescer no mundo do desporto. Até porque há muitas variáveis dentro de uma carreira desportiva que não se controlam.
Pedro Proença: desnecessário
Pedro Proença tem imensa necessidade de se autoafirmar. Isto faz com que muitas das suas intervenções sejam desproporcionadas e contraditórias. Por um lado, esconde-se e não intervém publicamente quando os presidentes dos clubes criam um ambiente muito negativo no futebol português.
Por outro lado, quando se trata de realçar e receber os louros das vitórias é o primeiro a aparecer. Chega a ser ridículo ver Pedro Proença a chegar às zonas de entrevistas rápidas antes mesmo dos protagonistas (jogadores ou treinadores). A necessidade de assumir os louros das vitórias é enorme, mas neste Mundial o atual presidente da FPF cometeu uma gafe maior.
Com a pressa de aparecer a reivindicar a vitória no Mundial, fez questão de falar em duas pessoas que teriam sido, segundo ele, determinantes nas conquistas dos Mundiais sub-20 no passado. Falou em Gilberto Madaíl, com um dos grandes mentores das vitórias anteriores. Contudo, Gilberto Madaíl não teve influência nessas vitórias, simplesmente porque não era o presidente da FPF em 1989 (Silva Resende) e nem em 1991 (João Rodrigues).
Falou ainda de Jorge Costa, e aqui percebe-se o motivo, mas esqueceu-se de referir aquele que é, unanimemente, reconhecido como o cérebro da transformação e das vitórias do futebol português em 1989 e 1991 que foi Carlos Queiroz. Fica ainda muito mal a Pedro Proença não ter referido a importância que Fernando Gomes, e a sua equipa, tiveram nestes títulos europeus e mundial de sub-17. Estas vitórias são muito mais o reflexo do trabalho da anterior Direção do que da atual.
Por fim, mais uma vez, fica mal dizer que, com a sua chegada, a FPF ganhou outra ambição e vem para ganhar. Não sei se Pedro Proença percebeu, mas Fernando Gomes foi campeão mundial e europeu de futsal, venceu o campeonato europeu de seniores, a Liga das Nações, entre muitos outros títulos relevantes…