candidato à presidência do Benfica (Foto: Rui Raimundo)
Vieira será candidato à presidência do Benfica (Foto: Rui Raimundo)

Vieira foi a voz de quem nunca quis ouvir

O sexto candidato à presidência do Benfica- tanto sinal de pluralidade como de insatisfação pelo momento do clube - é Vieira. Só que o ex-líder vive preso ao passado, bom e mau, mesmo sem bigode

Luís Filipe Vieira tem obra no Benfica. A recuperação financeira, o estádio, o centro de estágios, que serviu de viveiro para talentos como Bernardo Silva, João Félix, Rúben Dias, Cancelo, Renato Sanches, entre outros, o regresso dos títulos no futebol, a expansão das modalidades e o aumento de sócios têm a sua assinatura. É inegável.

No outro prato da balança, encontramos uma gestão desportiva e financeira errática, em que falhou a hegemonia com a eventual conquista do penta — ainda que tenha lembrado que só ele foi tetra — e a ausência de um consolidado crescimento na Europa. Os encarnados foram entreposto comercial de jogadores com objetivos duvidosos e práticas que não beneficiaram o clube, dependentes da venda de craques para equilibrar contas e viram-se envolvidos através do seu líder em investigações judiciais, como os casos Operação Lex e Cartão Vermelho, que não só fragilizaram a imagem como terão criado pressão desnecessária e excessiva sobre a equipa de futebol. Acrescente-se a falta de espírito democrático nas AG e no contacto com os sócios, e de transparência na gestão. Houve até um afastar do Seixal – onde viu a luz uma vez – como aposta, com decisões como o regresso de Jesus ao banco. Sem sucesso, diga-se. Também tudo isto será indiscutível.

Na entrevista em que anunciou o que todos sabiam, Vieira vestiu as dores dos adeptos que nunca quis ouvir. Foi populista. Falou das contas e pintou o pior cenário. Do muito dinheiro investido em jogadores e garantiu que conseguiria mais barato. Da falta de estrutura profissional e de scouting, de uma Academia «ao abandono» e da falta de rumo. Da necessidade de uma espinha dorsal de jogadores da cantera e até lembrou João Neves. No entanto, não apagou a ideia de que esta é muito mais uma candidatura de vingança do que imbuída de espírito de missão. Porque o resto pareceu conversa de café, em que o «eu» apareceu muitas vezes e promessas ficaram no ar, «surpresas» se for eleito.

Depois, os casos judiciais não se afastam com o esbracejar, o dedo apontado e um «é mentira» veemente. Há presunção de inocência, mas também situações que não precisam ser crime para serem indesejáveis: a proximidade anormal entre Vieira e o poder, desportivo ou judicial. O ex-presidente não conseguiu afastar a ideia de que é passado e falhou em trazer algo de novo à discussão, tirando o fim do tabu, na terceira grande entrevista pré-eleições. A terceira de avanço sobre os demais candidatos.