Lage diz que a Taça não salva a época do Benfica, mas garante motivação plena

«Vi equipa do Sporting nervosa e disse ao João Pinto: 'vamos ganhar'»

Mauro Airez, autor do 1-0 no dérbi do Jamor de 1996 (3-1), viajou até ao jogo do 'very-light', mas também lançou a partida deste domingo

Mauro Airez, argentino de 56 anos, foi o ponta de lança da equipa do Benfica que venceu o dérbi (3-1) do Jamor de 18 de maio de 1996, o tal que ficou tristemente célebre pela morte de Rui Pereira, adepto sportinguista atingido por um very-light.

Mauro Airez, em 1996, no Benfica (A BOLA)

Antes da viagem ao passado, o passando recente: «Depois do que aconteceu no campeonato, o Benfica tem de ganhar. Os pontos que faltaram ao Benfica na Liga não foram só do confronto direto, Benfica ganha ao FC Porto e depois empata com o Arouca. E entregou de certa forma o jogo do título ao Sporting, com 30 minutos de jogo direto, são essas coisas que decidem campeonato. A Taça não salva a época, mas pode minimizar o impacto de perder o campeonato. A dobradinha deixaria o Benfica em maus lençóis.»

Sem se deter, o argentino, que fez 36 jogos e dois golos em duas épocas na Luz, pensa em Bruno Lage: «Um resultado positivo seria muito bom para equipa e, sobretudo, para o treinador, de maneira a poder começar de forma estável a próxima época. Inevitavelmente, o treinador de um grande é contestado se não ganha a Taça. Benfica não pode falhar nesta final, tem de ganhar a jogar bem ou mal. Se permitir que o Sporting faça a dobradinha não vai ficar bem visto.»

Antigo ponta de lança, analisa Pavlidis e Gyokeres. «Têm características parecidas, prolongam o ataque, caem para a esquerda e para a direita, mas Gyokeres tem mais golo, mais faro de golo do que Pavlidis. Gyokeres não faz uma equipa, mas atrás dele há Trincão e Pedro Gonçalves, mais aproveitamento ofensivo do que por parte dos jogadores do Benfica», explica.

Mauro Airez recuou a 18 de maio de 1996, último dérbi na final da Taça. «Havia jogadores muito focados, Preud’homme, que só ganharia esse troféu em Portugal, Ricardo Gomes, João Vieira Pinto, Valdo… eu também era um jogador que a partir do momento em que vestia a camisola sabia que tinha de sair de rastos, de jogar à Benfica, com garra, atitude não podia faltar. Lembro-me de dizer ao João Pinto quando a bola estava a meio-campo: ‘vamos ganhar o jogo’. Via a equipa do Sporting muito nervosa», conta, antes de ir ao seu golo, o 1-0, ao minuto 9: «Calado remata, Costinha não segura, recarga do Ricardo Gomes, Costinha não agarra e eu empurro, de carrinho, golo.»

Mário Wilson, que já morreu, era o treinador das águias. «Era uma pessoa espetacular, unia o grupo, muito humano, tinha todos na mão. Uma vez, num treino de finalização, o Ricardo Gomes atirou à baliza, acertou-lhe e Mário Wilson caiu. Disse logo: ‘quem me acertou não joga’. Depois olhou para trás, viu o Ricardo Gomes, e disse: ‘tu jogas’. Outra história, com o Panduru, no balneário na Luz. Apareceu o Mário Wilson e o Nica diz: ‘olha, argentino, o treinador vai cair’. Mas não, Mário Wilson tinha apenas ido falar de qualquer coisa do Alverca.»

Toni com Mário Wilson, no lançamento da biografia do último, em 2012. Foto: Ferreira Santos

A tragédia só foi notada pelos jogadores do Benfica muito depois do golo de Mauro Airez, que se sentiu mal quando percebeu que o seu golo desencadeara a situação: «Não nos apercebemos, só mais tarde. Era um dia de muito calor, assim que a primeira parte terminou fui o primeiro a sair, queria ir beber água. O túnel do Jamor é comprido e vimos ambulâncias, apercebemo-nos então de que algo grave acontecera. Creio que o jogo esteve na iminência de não continuar. Só mais tarde vi que quando celebrei com o mortal ouviu-se o barulho de algo a passar. Não recebemos a taça nem as medalhas, só aconteceria mais tarde num jogo particular com o V. Guimarães, na Luz.

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