A imagem que marcou a final da Taça de Portugal entre Benfica e Sporting, em 1996 (A BOLA)

Taça: PSP ‘usa’ very-light para deixar aviso sério

Força policial recorre ao acontecido em 1996 para pedir aos adeptos que estejam atentos

Na reta final para a Taça de Portugal, a PSP deixou um alerta sério aos adeptos que forem assistir ao Benfica-Sporting no estádio do Jamor, recordando os eventos da final de 1996, em que um adepto do Sporting foi mortalmente atingido por um very light enviado do lado da bancada do Benfica. 

Num extenso comunicado, a PSP alerta para «a adoção de comportamentos responsáveis e respeitadores e para os perigos no uso e manuseamento de artigos de pirotecnia».   

«Passados 29 anos do trágico e fatídico incidente na Final da Taça de Portugal, também no Estádio do Jamor, em Oeiras, envolvendo as mesmas equipas, e depois do uso massivo de artigos de pirotecnia por determinados grupos de adeptos nos dois últimos fins de semana, a Polícia de Segurança Pública (PSP) alerta para os perigos da utilização irregular de artigos desta natureza, bem como apela a todos os adeptos que venham a assistir aos espetáculos desportivos do próximo fim de semana, para que adotem comportamentos responsáveis e respeitadores», pede a polícia no comunicado. 

«(...) Preocupa à PSP todo e qualquer ato violento ou comportamento inadequado, como também o uso de engenhos explosivos. O uso de pirotecnia é um fenómeno que não é exclusivo da realidade nacional, assumindo-se como uma problemática de dimensão europeia. A pirotecnia contribui, de forma premente, para a dimensão reputacional dos Grupos Organizados de Adeptos (GOA), nomeadamente pelo alcance que as redes sociais conferem a estas condutas», refere-se ainda.  

O uso de artigos de pirotecnia tem aumentado de forma significativa, com a força policial a destacar os riscos associados ao uso dos engenhos:  
 1. Queimaduras – os artefactos explosivos e pirotécnicos podem causar queimaduras corporais (quer por contacto direto com uma chama, quer por proximidade), na roupa e em estruturas, sendo que este último caso é suscetível de provocar incêndios;  2. Fumos – o material fumígeno, bem como a maioria dos produtos pirotécnicos produzem fumos, alguns deles tóxicos, suscetíveis de exacerbar as condições respiratórias de quem os inalar. Estes fumos podem ainda causar efeitos crónicos a longo prazo, incluindo efeitos cancerígenos, devido à libertação de óxidos e sais de metais pesados presentes na composição destes engenhos;  3. Impactos (cabeça, olhos, ouvidos) – a detonação ou arremesso podem ainda causar sérias lesões na cabeça, olhos, bem como na audição devido aos estrondos decorrentes da detonação e explosão daqueles materiais;  4. Impacto direto na visão – o material fumígeno e pirotécnico pode ainda causar lesões nos olhos, desde logo pela contaminação química que pode causar perda de visão temporária ou mesmo a longo prazo, principalmente se houver danos físicos ou queimaduras;  5. Pânico – a utilização destes tipos de matérias é ainda suscetível de gerar situações de pânico perturbadoras da ordem e tranquilidade públicas. 

«Conforme mencionado anteriormente, a pirotecnia assume-se como um dos vetores mais prementes da dimensão identitária dos GOA, mais conhecidos por claques de futebol, verificando-se influência negativa das redes sociais na normalização e promoção destas práticas, impulsionando comportamentos de risco e, consequentemente, a notoriedade e reputação dos grupos. No que respeita ao contexto nacional, nas últimas épocas desportivas, os GOA do SL Benfica e do Sporting CP destacam-se como os mais prevalentes nesta tipologia de incidente, sendo que a grande maioria das situações são registadas na 1.ª Liga e nas Competições UEFA. Paralelamente, no quadro de uma subcultura transgressiva da parte dos GOA, assiste-se a um crescimento das situações de arremesso destes artigos (em deflagração) para a área do terreno de jogo e, durante festejos, contra outros adeptos e na direção dos polícias (conforme aconteceu na madrugada do passado domingo durante os festejos na cidade de Lisboa), resultando, muitas das vezes, na interrupção momentânea dos eventos desportivos, bem como em situações de risco para os agentes desportivos no local (atletas, árbitros), ARD (Asisstentes de Recinto Desportivo) e polícias. A este respeito destacamos o registo de vítimas (algumas das quais menores de idade), que ficaram feridas em função de queimaduras provocadas pelo arremesso destes engenhos em combustão. 

No que se refere à problemática da posse/deflagração de pirotecnia, importa destacar alguns fatores que concorrem para o crescimento deste fenómeno:  
1. normalização da posse/uso dos artigos de pirotecnia pela população, em geral, e pelos adeptos de futebol, em especial;  2. um enquadramento legal permissivo quanto ao uso de pirotecnia em eventos desportivos, criando a perceção social de uma prática tolerada e de se tratar de uma “bagatela” penal ou contraordenacional;  3. uso indiscriminado de artigos desta natureza durante festejos;  4. facilidade de acesso a estes artigos (compra online);  5. desconhecimento da sua perigosidade (a maioria dos quais são produzidos sem o cumprimento dos requisitos de segurança);  6. facilidade de ocultação no corpo aquando da entrada no recinto desportivo;  7. criação de pressão na zona das revistas, impossibilitando que as mesmas garantam critérios de eficácia/exigência;  8. rede de contactos que permite a colocação prévia destes engenhos no interior do recinto desportivo;  9. motivação dos GOA na sua introdução e deflagração, tendo em conta o potencial na capitalização da sua reputação;  10. sentimento de impunidade no uso de artigos de pirotecnia dentro e fora dos recintos desportivos. 

Para garantia da segurança de todos em eventos desportivos, a PSP reforça as seguintes indicações: 

1. Promova o respeito mútuo: respeite adversários, árbitros, jogadores e outros espetadores, independentemente do resultado do jogo. O desporto deve unir, não dividir; 

2. Evite provocações: os adeptos não devem responder a provocações ou insultos, mantendo a calma e reportando qualquer situação irregular à PSP; 

3. Cumpra as regras dos recintos desportivos: reforce a importância de seguir as normas dos estádios, como não lançar objetos para o campo, não utilizar pirotecnia e respeitar as zonas reservadas para cada adepto; 

4. Seja um exemplo positivo: apelo especialmente aos pais e acompanhantes de menores para que demonstrem comportamentos exemplares, pois as crianças e jovens tendem a imitar os adultos; 

5. Consumo responsável: não consuma álcool, ou se o fizer, faça-o moderadamente, pois o excesso pode levar a comportamentos impulsivos ou agressivos, comprometendo a segurança de todos; 

6. Colabore com a PSP: incentive outros adeptos a seguirem as orientações da PSP e dos ARD, facilitando revistas e mantendo a ordem nas entradas, saídas e durante o evento; 

7. Informe comportamentos inadequados: os adeptos devem reportar imediatamente à PSP e/ou ARD qualquer comportamento suspeito ou violento, contribuindo para a segurança coletiva; 

8. Celebre com moderação: lembre-se que a paixão pelo desporto deve ser expressa de forma pacífica e festiva, sem recurso a atitudes que possam gerar conflitos ou pôr em risco a integridade física de terceiros.