Alexandre Pereira, diretor adjunto de A BOLA, analisa calendário e hipóteses de apuramento do Benfica para play-off da Champions

Benfica de alma renovada

O que pediu Mourinho aos jogadores antes do Ajax e o que exige ver nos próximos jogos

O Benfica venceu por 2-0 em casa do Ajax, terça-feira passada, primeira vitória na fase de liga da UEFA Champions League, e o balneário ganhou nova energia depois dos maus sentimentos que ficaram do jogo com o Atlético, na Taça de Portugal — a equipa venceu esse desafio da Taça, por 2-0, mas com exibição fraca que mereceu, inclusivamente, críticas duras por parte do treinador, José Mourinho.

Logo após esse jogo com o Atlético, Mourinho, sabe A BOLA, apelou à alma e entrega dos jogadores, algo que faltara na Taça e o técnico exigia ver frente ao Ajax no duelo das competições europeias. Em Amesterdão, apesar de uma exibição que ficou longe da perfeição, tanto do ponto de vista ofensivo como defensivo, viu-se, porém, uma equipa benfiquista mais ligada e com maior intensidade na pressão, resposta que agradou ao treinador. Será, portanto, acredita-se no Benfica, de alma renovada que a equipa irá encarar os próximos jogos, consciente de que tem um calendário difícil até ao final do ano e que pode determinar o sucesso ou insucesso da temporada — até janeiro, os encarnados defrontam Nacional (f), Sporting (c), Nápoles (c), Moreirense (f), Farense (f), Famalicão (c) e SC Braga (f).

Nesse sentido, a mensagem de José Mourinho a seguir à vitória em Amesterdão foi clara para o balneário, também explanada nas declarações públicas do treinador. Mourinho continua a apelar à crença do plantel para continuar a lutar até ao limite pela qualificação na Liga dos Campeões, embora exista a consciência de que esse é já um objetivo muito difícil de atingir — na fase de Liga, as águias terão ainda de defrontar Nápoles, Juventus e Real Madrid; ainda não é possível determinar a pontuação mínima para a qualificação para os play-off, mas Mourinho acredita que serão precisos 9 ou 10 pontos, o que implica vencer pelo menos dois dos três adversários.

Será igualmente com menor carga negativa que o Benfica se vai atirar ao próximo jogo, frente ao Nacional, na Madeira, sábado.

Depois do empate (2-2) com o Casa Pia (2-2) na última jornada do campeonato, o técnico exige dos jogadores uma resposta forte na competição. Na jornada a seguir haverá dérbi, a receção ao Sporting, e existe no balneário a noção de que é fundamental consolidar jogo e principalmente os níveis de confiança enquanto equipa.

O plano para o Ajax

Em Amesterdão, na terça-feira, Mourinho abdicou da tática de três centrais, em função das características do adversário e principalmente tendo em conta as limitações do plantel encarnado, que tem poucos extremos, pouco rápidos e com pouca verticalidade. Um cenário que se complicou depois da lesão grave de Dodi Lukebakio — o atacante foi operado ao tornozelo esquerdo e só voltará a competir em fevereiro ou março de 2026. Isto não significa, no entanto, que o treinador tenha afastado completamente a possibilidade de voltar a jogar com três centrais.

De qualquer forma, com o Ajax, o treinador utilizou um 4x2x3x1, ou 4x4x2 a defender, de forma a potenciar as características dos homens de meio-campo, tendo em conta as fragilidades ofensivas nas alas. Nesta ideia, sobressai a intenção de aproveitar Aursnes, na ala direita, para potenciar a vertigem de Dedic e ao mesmo tempo garantir a estabilidade defensiva da equipa. Sem Lukebakio, as combinações de Aurnes e Dedic surgem com um dos principais argumentos do Benfica e o plano deve ser para manter nos próximos jogos.

Trancar a baliza

Um dos principais objetivos de Mourinho desde que assumiu o comando da equipa foi dar-lhe estabilidade defensiva, apesar de alterar muito o parceiro de Otamendi na dupla de centrais. Frente ao Ajax jogou António Silva de início e Tomás Araújo — que vinha de exibição fraca com o Atlético — foi lançado aos 81 minutos, quando o Benfica vencia por 1-0.

Em Amesterdão, a equipa voltou a um registo importante: baliza de Trubin a zero. Foi o oitavo jogo, em 14, que o Benfica, com Mourinho, não sofreu golo. Este é um indicador que ganha mais relevância perante as poucas soluções ofensivas, cenário que mudará na reabertura do mercado, em janeiro. A SAD benfiquista trabalha para possivelmente contratar dois extremos e mais um avançado.

Por agora, e depois do 2-0 nos Países Baixos, o sentimento no balneário é de passo em frente e sobretudo consciência sobre a necessidade de cerrar dentes para atacar de forma firme o calendário até final do ano.